Antes faremos uma breve apresentação do
personagem Jeremias. Que figura espetacular foi este digno homem de Deus? Ele
merece um destaque especial, pois fora um fiel cumpridor do ofício divino, e isto
inspira os sérios estudantes da Bíblia.
A. O personagem Jeremias
Jeremias
era da tribo de Benjamim e de origem da pequena cidade de Anatote. Ele era
desta cidade do interior. Anatote fora uma cidade levítica no rei do Norte. Esta cidade se tornou uma
colônia do império assírio no ano 722. “De maneira crítica, ele traz consigo a
visão dos camponeses sobre a situação do país” (Bíblia Católica, Edição Paulus
1987:1008).
Jeremias foi chamado por Deus ainda muito
Jovem, 626 a.C., quando Josias estava com treze anos no poder. É o que consta
as Escrituras Sagradas: “A ele veio a palavra do Senhor, nos dias de Josias,
filho de Amom, rei de Judá, no décimo terceiro ano do seu reinado” (Jr 1.2). A
vocação ministerial de Jeremias é vista claramente nas palavras do Senhor que
lhe são dirigidas: “Assim veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Antes que eu
te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses da madre, te
santifiquei e às nações te dei por profeta”. Como qualquer pessoa de bom senso,
diante da grande responsabilidade, era de se esperar que a resposta fosse
assim: “Então, disse eu: Ah! Senhor Jeová! Eis que não sei falar; porque sou
uma criança” (Jr 1.6). Jeremias fora filho de sacerdote. Nos dias atuais era
filho de pastor desde o berço. O importante é que ele fora chamado por Deus.
Isto faz a diferença. Ele teve sua experiência com o Senhor.
Jeremias foi um homem meigo.
Deus o chamou
para amar. O Senhor também o chamou “para arrancares, e para derribares, e para
destruíres, e para arruinares; e também para edificares e para plantares” (Jr
1.10). Ele lamenta sua vida no ministério, dizendo: “Ai de mim, minha mãe! Por
que me deste à luz homem de rixa e homem de contenda para toda a terra?” (Jr
15.10). Jeremias foi chamado para profetizar a desgraça do seu povo. O capítulo
20 exige leitura e reflexão sem emoção. O homem de Deus dizia que a sua dor era
contínua, a sua ferida lhe doía, e não tinha cura (Jr 15.18).
Outro detalhe da vida de Jeremias é que o
Senhor não o admitiu ser casado.
O Senhor falou para ele: “Não tomarás para ti
mulher, nem terás filhos nem filhas neste lugar” (Jr 16.2). “Sendo uma figura
solitária devido à sua mensagem impopular (Jr 15.17), Jeremias foi por Deus
proibido de casar, como sinal da iminente cessação da vida normal em seu país
(16.2)” (Bíblia de Genebra, 2000:859).
Os estudiosos chamam suas “queixas” de
“Confissões de Jeremias”.
Ele diz que o Senhor o livrou de um conluio muito bem
arquitetado pelos seus inimigos (Jr 11.18,19). Além disso, seus conterraneos
também tramaram contra sua pessoa (Jr 12.6). A angústia provocada pelos seus
inimigos se apoderou dele ao ponto de dizer em sua oração: “Sara-me, Senhor, e
sararei; salva-me, e serei salvo; porque tu és o meu louvor. Eis que eles me
dizem: Onde está a palavra do Senhor? Venha agora! Mas eu não me apressei em
ser o pastor, após ti; nem tampouco desejei o dia de aflição, tu o sabes; o que
saiu dos meus lábios está diante de tua face. Não me sejas por espanto; meu
refúgio és tu no dia do mal. Envergonhem-se os que me perseguem, e não me
envergonhe eu; assombrem-se eles, e não me assombre eu; traze sobre eles o dia
do mal e destrói-os com dobrada destruição” (Jr 17.14-18). É bom que seja lido
Jr 18.18-23.
O comentarista da Bíblia de Jerusalém (Editora Paulus, 2004:1240) tem uma
informação muito importante sobre o envolvimento de Jeremias proclamando suas
mensagens ao povo, que vale a pena transcrever: “Mas esse sofrimento purificou
a sua alma e abriu-a ao contato com Deus. O que nos torna Jeremias tão caro e
tão próximo, é o religião interior e cordial que ele praticou, antes de
formulá-la no anúncio da Nova Aliança (31,31-34). Essa religião pessoal levou-o
a aprofundar o ensino tradicional:
Deus sonda os rins e o coração
(11,20), retribui a cada um segundo os seus atos (31,2930), a amizade com Deus
(2,2), se rompe pelo pecado, que provém do coração mau (4,4; 17,9; 18,12)”.
B. Atuação de Jeremias.
Jeremias atuou no ministério profético
entre os anos 627 e 586 a.C. “Começou a profetizar no ano décimo terceiro do
reinado de Josias, e continuou a sua obra até a tomada de Jerusalém, no quinto
mês do décimo primeiro ano do reinado de Zedequias, vv.2,3. Deste modo, a sua
pública se estendeu pelos últimos dezoito anos do reinado de Josias, pelos três
meses que Jeocaz reinou, pelos onze anos do reinado de Jeoaquim e pelos três
meses do outro rei Jeoaquim e pelos onze anos e cinco meses do reinado de
Zedequias, ao todo quarenta e um anos, sem interrupções, cap. 42-44”
(Dicionário de Davis, 1984: 303).
C. Autoria do Livro.
Não há quem negue a autoria do livro a
Jeremias. É sem contestação mesmo. O livro tem repetidas vezes o seu nome, e de
seu secretário Baruc. Daniel comprova a autoria do livro. Vejamos: “no ano
primeiro do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o número de anos,
de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de acabar as
assolações de Jerusalém, era de setenta anos” (Dn 9.2). Esdras também confirma:
“No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra do
Senhor, por boca de Jeremias),…” (Ed 1.1). O comentarista da Bíblia de Estudo
Pentecostal afirma que Jeremias escreveu o livro que leva o seu nome. Da mesma
forma o comentarista da Bíblia Thompson (Editora Vida, 1993:678). Stanley
Ellisen (Conheça
Melhor o ANTIGO TESTAMENTO, p. 269) diz
sobre a autoria do livro: “A autoria de Jeremias é fato provado e não tem
sofrido séria contestação”.
D. Data do
Livro.
A data
em que o livro foi escrito é: 627-580 a.C. É a opinião de Stanley
Ellisen. O comentarista da Bíblia de Estudo
Pentecostal diz que foi “cerca de 585-580 a.C”. Diferenças de datas dos
estudiosos não tiram a autenticidade do livro. E. Tema do livro.
Stanley Ellisen sugere o seguinte tema:
“Rebelião final de Judá e sua retirada da terra da aliança”. A Bíblia de Estudo
Pentecostal sugere o tema: “O Juízo Divino e Inevitável de Judá”. O
comentarista da Bíblia de Genebra diz que “o julgamento é o tema dominante no
livro, e é compreendido como a invocação da maldição final da aliança, ou seja,
a perda da Terra Prometida (Lv 26.31-33; Dt 28.49-68)”.
F. Esboço do Livro.
O esboço do livro foi extraído do livro de
Stanley Ellisen (Conheça Melhor o ANTIGO TESTAMENTO, pp.279, 280). Leitura de
esboços de livros ajuda bastante na compreensão dos capítulos dos livros
propostos. Vejamos:
“I. JULGAMENTO ANTECIPADO DA JUDÁ REBELDE DURANTE O
REINADO DE JOSIAS (caps 1-20)
A. Jeremias-
Chamada e julgamento futuro (cap. 1)
B. Judá-
Infidelidade como esposa do SENHOR da aliança (cap. 2-6)
1. Lembrança
do antigo amor do SENHOR (caps. 2.1-3.5)
2. Lembrança
do divórcio de Israel por adultério (caps. 3.6-7.30)
C. Judá-
Religião de hipocrisia (caps. 7-10)
D. Judá-
Rejeição do SENHOR da aliança (caps. 11 e 12)
E. Judá-
Rebelião e julgamento descritos (caps. 13-20)
1. Jeremias
– seis parábolas de julgamento (caps. 13-19)
2. Jeremias
– tristeza por profetizar julgamento (cão. 20)
II. JULGAMENTO
SUBSEQUENTE DOS LÍDERES
REBELDES- JEOAQUIM E ZEDEQUIAS
(caps. 21-39)
A. Conselho a Zedequias para submeter-se à Babilonia
(caps. 21- 24)
1. Exame
do julgamento dos predecessores (caps. 21 e 22)
2. Restauração
de Judá por um “!Renovo justo” (cap. 23)
3. Julgamento
de Zedequias como ‘figo ruim’ (cap. 24)
B. Admoestação a Jeoaquim a respeito do cativeiro na
Babilonia (caps. 25 e
26)
1. Jeremias
– a profecia dos setenta anos (cap. 25)
2. Jeremias
– a profecia suscita grande ira (cap. 26)
C. Palavras de otimismo dos falsos profetas (caps. 27-29)
1. O
falso profeta Hananias morre em Jerusalém (caps. 27 e 28)
2. O
falso profeta Semaías morrerá na Babilonia (cap. 29)
D. Garantia da restauração final de Judá (caps. 30-33)
1. A
ira da antiga aliança divina traz julgamento (cap. 30)
2. A
graça da nova aliança divina assegura restauração (cap. Caps. 31-33)
E. Razões do próximo julgamento por da Babilonia (caps.
34-39)
1. Zedequias
– fracasso da aliança para libertar os escravos (caps. 34 e 35)
2. Jeoaquim
– desrespeito pela Palavra do SENHOR (cap. 36)
3. Jeremias
– admoestação final depois de ser aprisionado (cap. 37 e 38)
4. Jerusalém
é pilhada e destruída pela Babilonia (cap. 39)
III. MAIS JULGAMENTO DO REMANESCENTE
REBELDE – DEPOIS DA QUEDA DE JERUSALÉM (caps. 40-45)
A. Julgamento
do remanescente rebelde em Judá (caps. 40-42)
B. Julgamento
do remanescente rebelde no Egito (caps. 43 e 44)
C. Encorajamento
de Jeremias a Baruque, seu fiel escrivão (cap. 45)
IV. JULGAMENTO DAS NAÇÕES REBELDES AO REDOR
DE JUDÁ (Caps. 46-51)
A. Julgamento
do Egito e das nações da Palestina (caps. 46-49)
B. Julgamento
da Babilonia, destruidora de Judá (caps. 50 e 51)
V. REAFIRMAÇÃO DE JULGAMENTO DO REI E DA
CIDADE REBELDES (Cap. 52)
A. Casa de Zedequias destruída pela
Babilonia (52.1-3) B. Joaquim recebe mais tarde honras na Babilonia (52.31-34)
G. Comentário do Livro.
A atividade profética de Jeremias abrange os governos de
Josias (627- 609
a.C.), Jeoaquim (609-598 a.C) e
Zedequias (597 -586 a.C.).
No início do governo de Josias,
Jeremias
acusa a idolatria e a combate tenazmente para que seja erradicada da nação de
Israel. Josias aproveitou o momento para promover a reforma religiosa no país.
Ele estava na sua maior idade quando determinou a restauração do templo. A
segunda medida do seu governo foi por em ordem a vida espiritual da nação,
começando por sua pessoa. Está escrito: “Ide e consultai ao Senhor por mim, e
pelo povo, e por todo o Judá, acerca das palavras deste livro que se achou;
porque grande é o furor do Senhor que se acendeu contra nós, porquanto nossos
pais não deram ouvidos às palavras deste livro, para fazerem conforme tudo
quanto de nós está escrito” (2Rs 22.13). Baseado no Livro da Lei, que segundo
os estudiosos, era provavelmente uma parte antiga de Deuteronomio, Josias
tratou de eliminar a idolatria da nação (2Cr 34.3-7) e estabelecer um pacto de
comunhão com Deus (2Cr 34.29-33).
A reforma de Josias foi muito elogiada por
Jeremias.
Jeocaz, filho de Josias, reinou em seu lugar e fez o que era mal
perante o Senhor. Jeremias profetizou contra seu mau governo, que durou apenas
três meses, dizendo a respeito do seu pai Josias: “Reinarás tu, só porque te
encerras em cedro? Acaso, teu pai não comeu e bebeu e não exercitou o juízo e a
justiça? Por isso, tudo lhe sucedeu bem. Julgou a causa do aflito e do
necessitado; então, lhe sucedeu bem; porventura, não é isto conhecer-me? – diz
o Senhor” (Jr 22.15,16).
Jeremias profetizou durante o reinado de
Jeoaquim.
De saída, “fez o que era mal aos olhos do Senhor, conforme tudo
quanto fizeram seus pais” (2Rs 23.37). Ele, do seu próprio punho, cortou o
livro de Deus e jogou os pedaços no fogo (Jr 36.23). Seu governo ficou sujeito
a Nabucodonosor por três anos. Revoltou-se contra o poder opressor de
Nabucodonosor, mas “Deus enviou contra Jeoaquim as tropas dos caldeus, e as
tropas dos siros, e as tropas dos moabitas, e as tropas dos filhos de Amom; e
as enviou contra Judá, para o destruir, conforme a palavra que o Senhor falara
pelo ministério de seus servos, os profetas” (2Rs 24.2). Sofreu a humilhação de
ser levado para Babilonia amarrado (2Cr 36.6).
Jeremias profetizou durante o governo de
Zedequias.
O nome de origem de Zedequias era Matanias. Matanias significa: “Dom
de Deus”. Depois seu nome mudou para Zedequais (Jeová É Minha Justiça). Ele foi
nomeado por Nabucodonosor, rei da Babilonia. No exercício do poder: “E fez o
que era mal aos olhos do Senhor, conforme tudo quanto fizera Jeoaquim” (2Rs
24.19). 2Cr 36.12 tem um detalhe importante: “E fez o que era mau aos olhos do
Senhor, seu Deus; nem se humilhou perante o profeta Jeremias, que falava da
parte do Senhor”. Detestava cumprir a Palavra do Senhor (2Cr 36.13,14). Também
desafiava a Palavra do Senhor (2Cr 36.15,16).
O lado público do governo de Zedequias.
Ele
foi um homem insensato, espiritualmente embrutecido (Jr 24.8,9), sem escrúpulo
e tirano (Jr 32.1-5), falso devoto (Jr 32.29-35), não reconhecia igualmente o
direito do outro instituído por Lei (Jr 34.1214), trabalhava o seu íntimo com a
ganância, a soberba e a ilusão da posse (Jr 34.11).
O Senhor não admite a exploração do homem
pelo homem (Jr 34.14,17). O Senhor também não admite o egoísmo espiritualizado,
a ponto de perder o amor ao próximo (Jr 34.8-11).
O Senhor não deixa ninguém impune (Jr
34.17-22). Governo desmoralizado e terrivelmente humilhado (2Rs 25.7).
Como as profecias não estão dentro de período correspondente,
faremos citações de contextos que achamos ser muito importantes. A idolatria em
Israel era uma abominação terrível para Deus. As autoridades eclesiásticas (os
sacerdotes) responsáveis pelo cumprimento e ensino da Lei foram infiéis ao
Senhor (Jr 2.8,26). Os profetas eram tão cúmplices quanto os sacerdotes. São
citados demais por causa de sua infidelidade a Deus. A grande maioria vivia nos
mananciais da corrupção política (Jr 5.31; 14.13-15,18; 26.8,11). É
recomendável a leitura do capítulo 28.
A grande maioria do povo era seguidora fiel
das autoridades.
Enfim, era o modelo do povo. Como neles refletia a
infidelidade ao Senhor, todo o povo estava disposto a desobedecer a Palavra de
Deus, a verdadeira religião. No bojo da idolatria cabe tudo de excremento
espiritual. Havia um ídolo muito estimado pelo povo “à deusa chamada Rainha dos
Céus” (Jr 7.18; 44.17-19,25). As traduções NTLH e ARA chamam-na de “Rainha dos
Céus”. A “Rainha dos Céus” pode ter sido a deusa babilônia
Ishtar. Ela era conhecida como “A
Virgem”, “A Santa Virgem”, “A Virgem Mãe”, “Deusa das Deusas”, “Rainha dos Céus
e da Terra”. “Eles exclamavam ‘Ishtar é grande! Ishtar é rainha! Minha Senhora e exaltada, minha
Senhora e rainha. Não ha nenhuma como ela” (Baruj Ha Shem, Rabino Ya’acov
Farber) .
A apostasia da nação de Israel levou o povo
a práticas extremamente abomináveis ao Senhor. Havia adultério livremente (Jr
5.8,9).
O que deixava o Senhor indignado era que: “Irei aos grandes e falarei
com eles, porque eles sabem o caminho do Senhor, o juízo do seu Deus; mas
estes, de comum acordo, quebraram o jugo e romperam as ataduras” (Jr 5.5).
Deus usou o profeta Jeremias para dizer ao
povo que não fizesse conforme as abominações dos pagãos (Jr 10.1-9). O povo
tinha medo dos ídolos. Jeremias pregava, dizendo: “Mas o Senhor Deus é a
verdade; ele mesmo é o Deus vivo e o Rei eterno; do seu furor treme a terra, e
as nações não podem suportar a sua indignação” (Jr 10.10).
3. O LIVRO DE LAMENTAÇÕES.
Quando se faz uma leitura cuidadosa do
pequeno livro associada ao livro de Jeremias, descobrem-se os resultados de
deixar o Senhor “o manancial de águas vivas” (Jr 2.13), “O SENHOR, a fonte das
águas vivas” (Jr 17.3).
O Livro de Lamentações é conhecido como
cantos fúnebres. Nele é retratado de modo doloroso e poético, a destruição de
Jerusalém pelos babilônios e os acontecimentos catastróficos que se sucederam a
nação judaica.
A Bíblia Hebraica o coloca
entre os hagiógrafos (diz-se dos livros do Antigo Testamento, menos o
Pentateuco e os Profetas). A Bíblia Grega e a Vulgata Latina colocam-no depois
de Jeremias. É dado o título: “Lamentações de Jeremias”, pois ao profeta é
atribuída autoria do livro.
A. Autoria do Livro.
Já vimos que a Bíblia Grega e a Vulgata
Latina atribuem a Jeremias a autoria do livro. A tradição atribui a Jeremias a
autoria com base em 2Cr 35.25, que diz: “E Jeremias fez uma lamentação sobre
Josias; e todos os cantores e cantoras falaram de Josias nas suas lamentações,
até ao dia de hoje; porque as deram por estatuto em Israel; e eis que estão
escritas na coleção de lamentações”. O comentarista da Bíblia de Genebra
(2000:918) diz o seguinte: “Isso tem sido verdade pelo menos a partir do tempo
da Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento (c. 125 a.C.), onde uma
nota sobre a autoria do livro pelo profeta aparece como título antes do
primeiro versículo. A idéia de Jeremias como autor do livro pode ter sido
estimulada por 2Cr 35.25, onde se lê que Jeremias compôs lamentações para o rei
Josias”
Stanley Ellisen diz que “embora o livro
seja anônimo, sua autoria é atribuída a Jeremias pelas tradições tanto judaica
quanto cristãs” (Conheça Melhor o ANTIGO TESTAMENTO, p. 280). A Bíblia de
Estudo Pentecostal diz que Jeremias escreveu o livro “Lamentações de Jeremias”.
A maturidade ajuda-nos a manter a autenticidade do livro,
embora pareça haver contradições entre os estudiosos acerca da autoria do
livro.
B. Data do Livro.
Stanley Ellisen sugere a “data em que foi
escrito: 586 a.C.”. O comentarista da
Bíblia de Genebra é da mesma opinião de que o livro foi escrito em 586 a.C. A
Bíblia Católica (Edição Paulus 1987:1070)
diz que “as Lamentações provavelmente foram escritas na Palestina depois da
queda de Jerusalém em 586 a.C.”.
C. Tema
do Livro.
A Bíblia de Estudo
Pentecostal sugere o tema: “Tristeza Presente e Esperança Futura”. Stanley
Ellisen sugere o seguinte tema: “A miséria humana e o significado divino da
destruição de Jerusalém”.
D. Esboço do Livro.
O esboço apresentado acima é da Bíblia de
Genebra. Estamos variando entre as opções que temos às mãos. Vejamos:
“I. Jerusalém, grande no passado, mas agora devastada
(cap. 1)
II. A
Ira de Deus contra Judá (cap. 2)
III. O
sofrimento da comunidade (cap. 3)
IV. A
degradação de Sião (cap. 4)
V. Desastre
e petição (cap. 5)”
E. Comentário do Livro
Os poemas que constituem o livro
Lamentações de Jeremias retratam a angústia de um povo humilhado. O livro
registra o exame de consciência do povo de
Deus, seu grito de arrependimento e
súplica seguida de perdão. “O propósito de Lamentações não pode ser definido em
uma única palavra. De certa forma, a sua produção foi em si mesma uma forma de
lidar com a questão da destruição de Sião. O centro da gravidade é a ira com de
Deus contra o seu povo. A ira de Deus é considerada justa. Judá pecou, e os
profetas transmitiram o aviso de Deus” (Bíblia de Genebra, p. 918).
Uma pesquisa no texto sagrado mostra a
justiça de Deus revelada em fome, sede, matança etc. Alguns exemplos:
1) A
cidade de Jerusalém, antes populosa, agora, arrasada,
2) o povo sujeito a
trabalhos forçados,
3) a grande maioria da população levada ao exílio,
4) da
autoridade eclesiástica, política e a população, todos, estavam desmoralizados.
Motivo da justiça divina: “Jerusalém gravemente pecou; por isso, se fez
instável; todos os que a honravam a desprezaram, porque viram a sua nudez; ela também
suspirou e voltou para trás” (Lm 1.8). Recomendamos a leitura do capítulo
1.
Além dos exemplos citados acima do capítulo 1, pesquisando o capítulo
2,
encontramos:
1) O Senhor rejeitou com desprezo o rei, o sacerdote, o altar e o
santuário,
2) a cidade e seu muro destruídos,
4) as autoridades ficaram com a
moral abatida,
5) crianças famintas,
6) população faminta. Motivo da justiça
divina: “Os teus profetas viram para ti vaidade e loucura e não manifestaram a
tua maldade, para afastarem o teu cativeiro; mas viram para ti cargas vãs e
motivos de expulsão” (Lm 2.14). A tradução ARA diz: “Os teus profetas te
anunciaram visões falsas e absurdas e não manifestaram atua maldade, para
restaurarem a tua sorte; mas te anunciaram visões de sentenças falsas, que te
levaram para o cativeiro” (Lm 2.14). O capítulo 3 inicia com o profeta dizendo
que foi testemunha ocular da tremenda tragédia. O sofrimento foi tão terrível,
que ele disse: “Ainda quando clamo e grito, ele não admite a minha oração” (Lm
3.8).
Depois de lastimar o que havia
presenciado, o profeta reflete afirmativamente: “Quero trazer à memória o que
me pode dar esperança” (Lm 3.21, ARA).
O profeta mostra que o Senhor mantém a
sua misericórdia eternamente, renovando-a sempre e mantendo a sua fidelidade para
com o seu povo. O profeta ainda mostra que o Senhor deve ser a primazia do
povo. O capítulo 4 inicia mostrando a burguesia de Israel em estado deplorável:
“Os nobres” (v.2, ARA), “Os preciosos” (v. 2, ARC), “príncipes” (v. 7, ARA),
“nazireus” (v.7, ARC). A fome foi à responsável por deixar os ricos de
fisionomia horrível (Lm4.8). As crianças sofreram muito com a fome (Lm 4.4).
Duvidaram da palavra de Deus (Lm 2.17; 4.11). A justiça divina foi tão forte,
que as mães comeram seus filhos. Vejamos o absurdo: “As mãos das mulheres
piedosas cozeram seus próprios filhos; serviram-lhes de alimento na destruição
da filha do meu povo” (Lm 4.10). Motivo da justiça divina: “Foi por causa dos
pecados dos profetas, das maldades dos seus sacerdotes, que derramaram o sangue
dos justos no meio dela” (Lm 4.13). O capítulo 5 inicia com a oração dos fiéis
invocando a proteção do Senhor contra a violencia e a grosseria dos inimigos.
Na oração, os fiéis apresentam para o Senhor que tinham de comprar água e lenha
(Lm 5.4), estavam sujeitos aos seus adversários para poder comer alguma coisa
(Lm 5.6). Colocaram a vida em perigo para adquirir alimento (Lm 5.9,10). Além
disso, lamentaram ter visto as senhoras e as moças serem estupradas (Lm 5.11),
autoridades serem enforcadas, os anciãos serem desrespeitados, e os jovens
sujeitos a trabalho escravo (Lm 5.12,13).
O Senhor Deus é Soberano Absoluto (Lm
5.19). O povo de Deus reconhecia que o Senhor pode fazer o ser humano mudar de
posição, e renovar suas forças com era antes (Lm 5.21).
O Livro de Lamentações termina com
interrogações (Lm 5.22). “Os cinco poemas do Livro de Lamentações chegam até
nós derivados da aguda tristeza do julgamento experimentado, mas também
salientam a compaixão de Deus como base de um futuro livramento” (Bíblia de
Genebra, p. 928).
Escola de Teologia – ETAP
Disciplina: LIVROS PROFÉTICOS I E II
Professor: Carlos Alberto Alves