“Pois possuíste o meu interior; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei,
porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras,
e a minha alma o sabe muito bem” (Sl 139.13,14).
abortos são realizados anualmente, em todo o mundo!
O que vem a ser o aborto? A palavra aborto vem do latim, abortum, do verbo
abortare, com o significado de “por-se o sol, desaparecer no horizonte e, daí, morrer,
perecer”. Segundo o Grande Dicionário de Medicina, aborto “é a expulsão espontânea ou
provocada do feto antes do sexto mês de gestação, isto é, antes que o feto possa sobreviver
fora do organismo materno…”.
1. Quando a vida começa e o feto é uma pessoa?
concepção. “Cientificamente falando, um ovo fecundado tem a vida completa de um
homem, as únicas coisas que lhe faltam são o tempo e a nutrição” (D´Araújo, p. 17).
Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi
feito alma vivente” (Gn 2.7). Depois que o homem estava formado, pelo processo especial
da combinação das substâncias que há na terra, o Criador lhe soprou o fôlego da vida,
dando início, assim, à vida humana. Entendemos, com base nesse fato, que, a cada ser
que é formado, a partir da fecundação, o sopro de vida lhe assegurado, não diretamente
por Deus, mas por sua lei biológica, a partir daquele sopro inicial.
Diante disso, não se pode banalizar a vida, mesmo de um ser em potencial, ainda
não plenamente formado, no ventre de uma mulher. É preciso que o sentido sagrado da
vida seja respeitado por todos os homens, em todos os tempos , lugares e situações.
2. A incomensurável beleza da procriação!
útero da mulher. São cerca de 200 milhões! Mas só um vai penetrar no óvulo para fecundálo. O espermatozóide vai até à trompa. Ali, pode esperar pelo óvulo até dois dias. Se não o
encontrar, morre. Encontrando, penetra no óvulo, formando o ovo. Um só entre milhões! –
Por que este em vez de qualquer outro? – É impossível saber. A ciência ignora também.
Quando o espermatozóide penetra no óvulo, o seu núcleo se funde com o núcleo do óvulo.
Nasce a primeira célula de um novo ser humano! Três horas depois da fecundação, o ovo
começa a se dividir, caminhando para o útero. Era uma célula; depois, são duas, quatro,
oito, dezesseis, e assim por diante..” (Lima, p. 152).
verdadeiro ‘ninho’, onde se desenvolverá durante nove meses, alimentando-se, e
crescendo. A vida e a estrutura de um homem ou de uma mulher estão definidas no lugar
sagrado do útero materno: ‘ No oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da
terra” (Lima, p. 151-152).
3. O exemplo do nascimento de João Batista e de Jesus
“Ao que tudo indica, Maria, a mãe de Jesus, já o tinha no ventre há um mês (quatro
semanas), quando foi visitar Isabel, sua prima. Esta já estava com seis meses de grávida
de João Batista (Lc 1.36), tendo, nela, um feto de vinte e quatro semanas. A Bíblia nos
mostra que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, “a criancinha saltou no seu ventre; e
Isabel foi cheia do Espirito Santo” (Lc 1.41). No ventre de Maria, não estava “uma coisa”,
mas o Salvador do Mundo; no ventre de Isabel não estava um ser desprovido de alma,
mas uma “criancinha”, que pulou de alegria, ao ouvir a bendita saudação”. Se uma delas
houvesse cometido o aborto, que seria da história cristã? Que seria da salvação da
humanidade, se o menino Jesus tivesse sido assassinado pelo diabo no ventre materno?
Não dá sequer para pensar em tal possibilidade.
4. O embrião ou o feto é uma pessoa.
o salmista bem o descreveu:
“Pois possuíste o meu interior; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te
louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado; maravilhosas são as
tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem” (Sl 139.13,14).
Tipos de aborto e suas implicações éticas para o cristão
1) Aborto natural.
Segundo a Medicina, pode haver aborto por várias causas. Dentre elas, destacam-se as
seguintes: “insuficiente vitalidade do espermatozóide”; “afecções da placenta”; “infeções
sangüíneas”; “inflamações uterinas”; “grave exaustão, diabetes e algumas desconhecidas”
(Reifler, p. 131). Não há incriminação bíblica quanto a esse caso, pois, não havendo
pecado, não há condenação. Em Dt 24.26b, diz-se que “cada qual morrerá pelo seu
pecado”.
2) Aborto acidental.
É resultado de um problema alheio à vontade da gestante. Uma queda, ou um susto
intenso, podem provocar abortamento. Não há implicação ética quanto a isso. A referência
de Dt 24.26b aplica-se a esse caso. No AT, se houvesse uma briga, a mulher grávida fosse
ferida, e abortasse, o causador teria que indenizar pela morte do feto (ver Ex 21.22). Não
previa a pena capital. Por isso, há quem diga que o feto não teria qualidade de vida superior.
Entendemos diferente. O fato de ser acidente seria um crime culposo, e não doloso. Mas
não justifica a idéia de vida inferior do feto.
3) Aborto por razões eugênicas.
É o aborto por eugenia, isto é, para evitar o nascimento
de crianças deformadas ou retardadas. Há quem defenda esse tipo de abortamento. Na
realidade, há sérias implicações quanto a esse entendimento:
“Produto descartável”.
“defeito”. Ocorre, porém, que pessoas retardadas, ou deformadas, ao nascerem, têm
personalidade e características verdadeiramente humanas, como vimos anteriormente. E,
por conseguinte, têm direito à vida. Abortá-las é assassinato. A Bíblia diz: “…e não matarás
o inocente…” (Ex 23.7). “A vida humana, defeituosa ou não, vale a pena ser vivida, e
qualquer pessoa que toma sobre si resolver de antemão, em prol doutrém, quando a vida
deste não dever receber a oportunidade de desenvolver-se está ocupada num ato ético
sério” (Geisler, p. 189).
4) Aborto terapêutico.
É o aborto, realizado pelo médico, em caso de risco de vida para a mãe. O Código
Penal Brasileiro permite sua realização (Artigo 128, inciso I). Nesse caso, tem-se um dilema
muito sério. Se o médico deixar o feto nascer, a mãe poderá morrer. Diante disso, mesmo
com um sentimento que envolve uma decisão difícil e dolorosa, não se deve matar o
inocente. O que os médicos devem fazer é ENVIDAR TODOS OS ESFORÇOS PARA SALVAR A VIDA DA MÃE, que é quem corre risco, E NÃO MATAR O BEBÊ, de modo
deliberado.
ética cristã, é evitar todos os esforços médicos para resolver os problemas da mãe. A
medicina reprodutiva está muito avançada, e possui recursos enormes para administrar os
caso em que a mãe corre risco de vida. Caso, no atendimento à mãe, a criança morrer, não
há implicação ética a ser levada em conta, visto que o objetivo não trá sido matar a criança
e, sim, salvar a vida da mãe.
5) Aborto por gravidez forçada.
Dá-se, quando há estupro ou incesto. Nesse caso, o Código Penal permite o aborto,
no seu Art. 128, inciso II, desde que haja consentimento da gestante ou de seu
representante, quando incapaz. Geisler (p. 189) admite o direito da mãe ao aborto,
afirmando que “uma pessoa potencialmente humana não recebe um direito de nascimento,
mediante a violação de uma pessoa plenamente humana”. Contudo, a vida gerada
encontra-se sob um princípio divino. Havendo gravidez, a criança não tem culpa. Terá sido
gerada, em meio a um “acidente” traumático. Assim, como defendemos o princípio da vida,
mesmo reconhecendo que é tremendamente difícil para a mãe forçada, não se deve matar
a criança: “…e não matarás o inocente…” (Ex 23.7).