A ERA DA REFORMA PROTESTANTE

A queda de Constantinopla (1453) é indicada pelos historiadores 
como o fim da idade Média e início da Idade Moderna. Com a invasão comandada por Maomé II, a cidade foi tomada e transformada na capital do Império Turco. A Igreja de Santa Sofia foi transformada em mesquita. 
 
a) Precursores da Reforma 
 
Alguns movimentos de reforma surgiram no final da Idade Média, 
sendo suprimidos com grande violência. Podemos destacar: 
Os Albigenses “Puritanos” surgiram em 1170 no sul da França. Eles 
rejeitavam a autoridade da tradição, distribuíam o Novo Testamento e opunham-se às doutrinas romanas do purgatório, à adoração de imagens e às pretensões sacerdotais. O papa Inocêncio III promoveu uma grande perseguição contra eles, e a seita foi dissolvida com o assassinato de quase toda a população da região, quase um milhão de pessoas. 
Os Valdenses Apareceram ao mesmo tempo, em 1170, com Pedro Valdo, que lia, explicava e distribuía as Escrituras, as quais contrariavam os costumes e as doutrinas dos católicos romanos. Foram cruelmente perseguidos e expulsos da França; apesar das perseguições, eles permaneceram firmes, e atualmente constituem uma parte do pequeno grupo de protestante na Itália. 
João Wycliffe nasceu em 1324. Recusava-se a reconhecer a 
autoridade do papa e opunha-se a ela. Era contra a doutrina da transubstanciação, considerando o pão e o vinho meros símbolos. Traduziu o Novo testamento para o Inglês e seus seguidores foram exterminados por Henrique V. 
João Huss nasceu em 1369 e foi um dos leitores de Wycliffe. Pregou 
as mesmas doutrinas, e especialmente proclamou a necessidade de se libertarem da autoridade papal. Foi excomungado pelo papa, e então retirou para algum esconderijo desconhecido. Ao fim de dois anos voltou a convite da igreja para participar de um concílio católico-romano na cidade de Constança, sob a proteção de um salvo-conduto. Entretanto, o acordo foi violado sob o pretexto de que “não se deve ser fiel a hereges”. Assim João Huss foi condenado e queimado. 
Jerônimo Savonarola nasceu em 1452 e foi monge Dominicano, em Florença. A grande catedral enchia-se de multidões ansiosas, não só de ouvi-lo, mas também para obedecer aos seus ensinos. Pregava contra os males sociais, eclesiásticos e políticos de seu tempo. Foi preso, condenado e enforcado e seu corpo queimado na praça de Florença em 1498. 
 

b) Martinho Lutero 

 
A Renascença despertou a Europa para um novo interesse pela 
literatura, pelas artes e pela ciência, despertando novo interesse pelas Escrituras, pelas línguas grega e hebraica, levando o povo a investigar os verdadeiros fundamentos da fé, independente dos dogmas de Roma. 
A invenção da imprensa pelo alemão Johannes Guttemberg (1398 – 1468) permitiria a divulgação dos pensamentos da época, tendo impresso uma versão da Vulgata, de Jerônimo, em 1455. 
Neste período, nasceu, em Eisleben, na Alemanha, Martinho Lutero, 
filho de um mineiro saxão. Era o ano de 1483. Lutero estudou em Leipzig e ingressou no sacerdócio em 1507. Era da ordem dos agostinianos. Em 1508 começou a ensinar na Universidade de Wittenberg. 
Orlando Boyer5 destaca os fatos sobre o nascimento de Lutero: 
 
“No cárcere, sentenciado pelo Papa a ser queimado vivo, João Huss disse: “Podem matar o ganso (na sua língua, ‘huss’ é ganso), mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar”. 
Enquanto caía a neve, e o vento frio uivava como fera em 
redor da casa, nasceu esse “cisne”, em Eisleben, Alemanha. No dia seguinte, o recém-nascido era batizado na Igreja de São Pedro e São Paulo. Sendo o dia de São Martinho, recebeu o nome de Martinho Lutero”. 
 
Em 1515, quando Lutero meditava sobre a epístola de Paulo aos 
romanos, foi iluminado pelo texto de Rm 1.17: “o justo viverá da fé”. Ele compreendeu, claramente, que o homem é salvo pela fé no mérito do sacrifício de Cristo. 
O papa reinante, Leão X, em razão da necessidade de dinheiro para 
terminar as obras do templo de São Pedro, em Roma, permitiu que um seu enviado, João Tetzel, percorresse a Alemanha vendendo bulas, assinadas pelo papa, as quais, dizia, possuíam a virtude de conceder perdão de todos os pecados, não só aos possuidores da bula, mas também aos amigos, mortos ou vivos, em cujo nome fossem as bulas compradas, sem necessidade de confissão, nem absolvição pelo sacerdote. Tetzel fazia esta indagação ao povo: “Tão depressa o vosso dinheiro caia no cofre, a alma de vossos amigos subirá do purgatório ao céu.” 
Lutero começou a pregar contra Tetzel e sua campanha de venda de 
indulgências, denunciando como falso esse ensino. O grande marco aconteceu no dia 31 de outubro de 1517. Orlando Boyer destaca: 
“Em outubro de 1517, Lutero afixou à porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, as suas 95 teses, o teor das quais é que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo peca¬do e não a penitência. Lutero afixou as teses ou proposi¬ções para um debate público, na porta da igreja, como era costume nesse tempo. Mas as teses, escritas em latim, fo-ram logo traduzidas em alemão, holandês e espanhol. An¬tes de decorrido um mês, para surpresa de Lutero, já esta¬vam na Itália, fazendo estremecer os alicerces do velho edifício de Roma. Foi desse ato de afixar as 95 teses da Igreja de Wittenberg, que nasceu a Reforma, isto é, que to¬mou forma o grande movimento de almas que em todo o mundo ansiavam voltar para a fonte pura, a Palavra de Deus. Contudo Lutero não atacara a Igreja Romana, mas antes, pensou fazer a defesa do Papa contra os vendedores de indulgências.” 
 
Kenneth Curtis6 destaca os eventos a seguir: 
“No primeiro momento, parecia que Lutero esperava que o 
papa concordasse com ele sobre o abuso na questão das indulgências. Conforme a controvérsia continuou, Lutero, porém, solidificou sua oposição ao papado. Em 1520, o papa emitiu uma bula (decreto) condenando as idéias do monge alemão, e Lutero a queimou. Em 152 1, a Dieta (concilio) de Worms ordenou que Lutero se retratasse. Ali, segundo a lenda, Lutero afirmou: “Não posso fazer outra coisa. Aqui estou. Deus me ajude. Amém”. 
Depois disso, Lutero foi excomungado, e seus escritos foram 
banidos. Para sua proteção, foi levado à força por seu patrono Frederico, o Sábio, e ficou escondido no castelo de Wartburg. Ali, ele trabalhou em outros escritos teológicos e na tradução do Novo Testamento para o alemão popular. 
Contudo, a batalha apenas começava. Quando ousou fazer 
oposição ao papa, Lutero despertou os sentimentos de independência tanto nos nobres alemães quanto no povo em geral. A Alemanha se tornou uma colcha de retalhos, à medida que alguns nobres apoiaram Lutero e outros permaneceram leais a Roma. A Reforma já estava em preparação também na Suíça, liderada por Ulrico Zuínglio. A igreja e o Sacro Império Romano voltaram sua atenção para as batalhas políticas que se estenderam por toda a década de 1520. Quando decidiram agir de forma enérgica contra os reformadores, já era tarde demais”. 
 
Em 1529 a Dieta reuniu-se na cidade de Espira, com o objetivo de 
reconciliar as partes em luta. Nessa reunião os governadores católicos, que tinham maioria, condenaram as doutrinas de Lutero. Os príncipes resolveram proibir qualquer ensino do luteranismo nos estados em que dominassem os católicos. Os príncipes luteranos protestaram contra essa lei desequilibrada e odiosa. Desde esse tempo ficaram conhecidos como protestantes, e as doutrinas que defendiam também ficaram conhecidas como religião protestante. 
 

c) Outros reformadores 

 
A reforma surgiu, de forma independente, na Suiça, sob o comando 
de Ulrico Zwinglio (1481-1531). Ele rompeu definitivamente com Roma em 1522. A guerra civil entre cantões católicos e protestantes prejudicou o avanço do movimento, pois nela Zwinglio morreu, em 1531, na Batalha de Kappell. A reforma, entretanto, continuou com João Calvino (1509– 1564). 
Calvino é, provavelmente, o maior teólogo da Igreja, depois de Agostinho. A sua obra As Institutas da Religião Cristã, publicada em 1536, tornou-se regra da doutrina protestante. Foi sucedido, como líder religioso em Genebra, por Teodoro Beza (1519-1605). 
Na França um movimento surgiu, antes da Reforma, com Jacques Lefevre (1450 – 1536). A reforma Protestante na França foi conduzida pelos huguenotes, liderados pelo Alm. Gaspar de Coligny (1519-1572). O ponto alto da perseguição aos protestantes foi o dia 24 de agosto de 1572, a chamada “Noite de 
São Bartolomeu”, quando milhares de protestantes foram assassinados. 
O protestantismo na Escócia foi influenciado por John Knox (1514 – 1572), em 1559, que conseguiu implantar a doutrina reformada, mesmo contra os esforços da rainha católica Maria da Escócia. 
O movimento da Reforma na Inglaterra foi marcado pela separação 
do Rei Henrique VIII (1509–1547) de Roma, pelo fato do papa não querer sancionar seu divórcio com Catarina. Ele fundou a Igreja Anglicana, da qual era o líder. 
 

d) Contra Reforma 

 
A Igreja Católica Romana organizou um conjunto de ações, para 
destruir a fé protestante e enviar missões a países estrangeiros. Foi o movimento conhecido como Contra-Reforma. Este movimento foi marcado pelo Concílio de Trento, convocado pelo papa Paulo III e que durou quase 20 anos (1545 – 1563), no qual foram reafirmados importantes pontos doutrinários católicos, como: a inclusão dos livros apócrifos na Bíblia católica, chamados Deuterocanônicos; o fortalecimento do Tribunal do Santo Ofício (a Inquisição) e a criação do Index Librorvm Prohibithorvm (que vigorou até 1966), a lista negra dos livros proibidos pela Igreja. 
Outro ponto forte foi a criação da Ordem dos Jesuítas (1536), sob o 
comando de Inácio de Loyola (1491 – 1556), com a finalidade de catequisar os povos. 
Este período finda no ano de 1648, com a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Foi uma sangrenta disputa religiosa e política envolvendo, principalmente, o Sacro Império Romano Germânico e um grande conjunto de cidades alemães protestantes, apoiadas pela Suécia e os países baixos, e também, depois, pela França, Dinamarca e Noruega. Foi encerrada com a assinatura do termo de paz de Westfália (1648). 
 
por: ETAP; Márcio Klauber Maia 

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