O LIVRO DE JONAS (POMBA)

Na lista dos livros proféticos, ele é o 10º. Não podemos esquecer a tradição dos chamados Profetas Menores. É didático. 

A. O Personagem Jonas.

As Escrituras Sagradas citam um profeta com o nome de Jonas. Está registrado: “Também este restabeleceu os termos de Israel, desde a entrada de Hamate até ao mar da Planície, conforme a palavra do Senhor, Deus de Israel, a qual falara pelo ministério de seu servo Jonas, filho do profeta Amitai, o qual era de Gate-Hefer” (2Rs 14.25). Jonas era natural da cidade de Gate. Profetizou antes de findar o reinado de Jeroboão II. Ele era filho de um profeta chamado Amitai. O profeta Amitai é mencionado apenas em 2Rs 14.25 e Jn 1.1.

Da revelação das Escrituras Sagradas tira-se como conseqüência lógica que Jonas nasceu em um lar onde a Palavra de Deus tinha prioridade. 

B. Atuação de Jonas.

Jonas fora contemporaneo do rei Jeroboão II. O comentarista da Bíblia de Genebra (2000:1041) diz que, “de acordo com essa profecia, Jeroboão estendeu os limites de seu reino para além das fronteiras da Síria. A mensagem divina dirigida a

Nínive que se encontra neste livro foi proferida por esse mesmo Jonas, embora o autor da narrativa escrita seja desconhecido”. Nínive fora a capital do grande império assírio. O historiador Antonio José Borges Hermida (1972:32) registrou o seguinte a respeito dos assírios: “Entretanto o império assírio só se mantinha sob o regime do terror: nos países invadidos, os assírios destruíam as plantações, saqueavam e incendiavam as cidades; aos prisioneiros, quando não lhes era cortada a cabeça, vazavam-lhes os olhos a ponta de lança, cortavam as unhas. Por isso os vencidos tinham pelos vencedores ódio mortal e aguardavam sempre a ocasião para revoltar-se”. Borges Hermida acrescenta que os assírios foram “o povo guerreiro mais cruel da Antiguidade” (idem, p. 31). 

O profeta Jonas atuou pouco tempo depois do profeta Eliseu.

Eliseu profetizou a ascensão de Hazael, rei sírio. Hazael chegou ao poder através de golpe. Ele matou o rei Bem-Hadade asfixiado com um cobertor. Amós profetizou a queda da Síria. Já vimos acima. Jonas era da mesma época de Amós. Ele presenciou coisas terríveis em Israel patrocinadas por Hazael. Jonas também sabia as façanhas terríveis dos assírios. 

O Senhor enviou Jonas a Nínive, capital do império assírio. Jonas recusou a chamada de Deus. A história creditava a Jonas um sentimento de repugnância pelos assírios. O nacionalismo judeu falou mais alto. Com toda razão. Porém o Senhor mostrou a Jonas que a sua soberania é sobre todos os reinos da terra. Para Deus, missionário não tem pátria definida.

O profeta teve de ir a Nínive, mesmo a contra gosto, mas realizou a vontade de Deus, que era a conversão daquela imensa metrópole. Jonas viajou cerca de 800 km.

C. Autoria do Livro.

A Bíblia de Estudo Pentecostal afirma que Jonas é o autor do livro que leva o seu nome. “Embora o livro não declare o nome do autor, seguramente foi o próprio Jonas quem o escreveu” (BEP, p.1313). Stanley Ellisen (Conheça Melhor o ANTIGO

TESTAMENTO, p. 350) diz que, “o autor foi provavelmente Jonas, apesar de o livro ter sido escrito na terceira pessoa e ameaçar a autoria do profeta. Talvez ele o tenha escrito como uma acusação tanto a si mesmo como à nação pela atitude sem misericórdia para com os pagãos ninivitas. Contudo, o fato é que, no final, esses pagãos corresponderam à misericórdia de Deus”.

Data do Livro.

O comentarista da Bíblia de Genebra diz que, “contudo, determinar a cronologia da composição do livro é tarefa difícil, e o livro tem sido datado entre o século VIII e fins do século III a.C.”. Stanley Ellisen diz que o livro foi escrito cerca de 765 a.C. A BEP (p. 1313) diz que o livro foi escrito “cerca de 760 a.C.”

E. Tema do Livro.

Stanley Ellisen sugere o tema: “A amplitude da misericórdia de Deus e a limitada obstinação de Jonas”. A Bíblia de Estudo Pentecostal sugere o tema: “A

Magnitude da Misericórdia Salvífica de Deus”. O comentarista de Bíblia de Genebra diz que, “além dos ensinamentos quanto à universalidade étnica do amor e misericórdia de Deus, o tema da soberania universal de Deus sobre o homem e a criação se mantém por todo livro. Deus é apresentado como o Criador, que fez o mar e a terra (1.9). A criação responde obedientemente a cada comando seu (1.4,15,17; 2.10; 4.6-8).

F. Esboço do Livro.

Estamos tomando esboços de autores diferentes. Perceba a apresentação de três autores. Estamos alternando sempre. Facilita didaticamente. O esboço sugerido é extraído da Bíblia de Genebra. Vejamos:

“I. A desobediência de Jonas e seu livramento (caps. 1-2)

  1. O Senhor envia Jonas (1.1-2)
  2. O profeta foge do Senhor (1.3)
  3. O Senhor persegue Jonas: a grande tempestade (1.4-16)
  4. O Senhor preserva Jonas (1.17)
  5. A ação de graça e o livramento de Jonas (cap. 2)
  6. Jonas obediente e libertado (caps. 3-4)
  7. O Senhor envia Jonas pela segunda vez (3.1-2)
  8. O profeta obedece (3.3)
  9. A pregação de Jonas: Nínive se converte e é libertada (3.4-10)
  10. A ira de Jonas diante da compaixão de Deus (4.1-4)
  11. Uma lição do amor de Deus (4.5-11)”

Comentário do Livro.

O livro relata o tema da misericórdia de Deus, que não é um Deus voltado para exclusividade de nenhum povo na face da Terra. Deus é Deus de toda humanidade. É desejo Dele que todos sejam convertidos. Diz a Palavra de Deus: “E orou ao Senhor e disse: Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus piedoso e misericordioso, longânimo e grande em benignidade e que te arrependes do mal” (Jn 4.2).

Jonas recusou obedecer a Deus quando enviado a Nínive, capital da Assíria. A Assíria representava um dos maiores e ferozes inimigos de Israel. Jonas fugiu para a direção contrária. Aparentemente tranqüilo, desceu para descansar no porão do navio. Mas o Senhor Deus da criação enviou um forte vento que se tornou uma grande tempestade. Esta veio a ser para Jonas um grande obstáculo a sua fuga da presença de Deus.

Os marinheiros apavorados “clamava cada um ao seu deus, e lançavam no mar as fazendas que estavam no navio, para o aliviarem do seu peso; Jonas, porém, desceu aos lugares do porão, e se deitou, e dormia um profundo sono” (Jn 1.5). O comandante do navio cgegou-se para Jonas para despertá-lo e também orar a seu Deus. A desespero na parte de cima do navio estava torrando os nervos dos marinheiros. Estavam lançando sortes para descobrir quem seria o “pé-frio” do momento. A sorte caiu sobre Jonas, que não podia ocultar a sua nacionalidade. Os marinheiros pagãos também criam no Deus de Jonas.

Jonas não tinha idéia que a tumultuada viagem estava sendo, para glória de

Deus, instrumento das primeiras conversões. O texto sagrado diz que, “os homens se encheram de grande temor e lhe disseram: Por que fizeste tu isso? Pois sabiam os homens que fugia de diante do Senhor, porque ele lho tinha declarado” (Jn 1.10). O ápice está nesta declaração das Escrituras Sagradas: “Então, clamaram ao Senhor e disseram: Ah! Senhor! Nós te rogamos! Não pereçamos por causa da vida deste homem, e não ponhas sobre nós o sangue inocente; porque tu, Senhor, fizeste como te aprouve. E levantaram Jonas e o lançaram ao mar; e cessou o mar da sua fúria. Temeram, pois, estes homens ao Senhor com grande temor; e ofereceram sacrifícios ao Senhor e fizeram votos” (Jn 1.14-16).

Jonas não pode fugir.

Ele teria de encontrar-se com Deus novamente. A experiência do profeta de volta a Deus fora feita no ventre do grande peixe. A experiência custou-lhe uma angústia mortal, figurada pelo mar e o ventre do peixe. A oração de Jonas no ventre do peixe está sintetizada em vários trechos de Salmos. Recomenda-se a leitura cuidadosa do capítulo 2 do livro de Jonas.

O capítulo 3 registra uma nova ordem do Senhor Deus a Jonas. Dessa vez ele obedece. Jonas não muda o conteúdo da mensagem. Ela está repleta de ameaças. A mensagem é tocante, e os ninivitas se converteram. Todos daquela grande cidade foram impactados, do primeiro escalão até as classes sociais inferiores. O chefe da nação decretou um dia jejum, desde a sua pessoa até os animais. Humilhação na presença do Senhor. O resultado do arrependimento: “E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez” (Jn 3.10).

A conversão dos ninivitas deixou Jonas profundamente magoado.

O perdão de Deus deixou o profeta sem querer aceitar que Ele seja bom para com os cruéis inimigos do povo de Israel. Enfadado, frustrado e oprimido, Jonas resolveu descansar. O Senhor fez nascer uma aboboreira, e permitiu que um inseto a ferisse e morreu aquela frágil árvore. A comodidade de Jonas acabou, e aumentou mais ainda a sua frustração contra o Senhor. A lição de Deus a Jonas: “E disse o Senhor: Tiveste compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer; que, em uma noite, nasceu e, em uma noite, pereceu; 11e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que estão mais de cento e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” (Jn 4.10,11).

O comentarista da Bíblia de Jerusalém (2004:1253) diz uma coisa muito interessante: “O livro prega um universalismo extraordinariamente aberto. Aqui, todo mundo é simpático: os marinheiros pagãos do naufrágio, o rei, os habitantes e até os animais de Nínive – todos – exceto o único israelita que está em cena, e trata-se de um profeta, Jonas”.

O comentarista da Bíblia de Genebra diz que, “o Livro de Jonas é uma história sobre a misericórdia de Deus. O Senhor era o Deus de Israel, e aquela nação tinha especialmente recebido a misericórdia e a salvação da aliança de Deus. Mas Jonas, juntamente com muitos dos seus compatriotas, reagiu com tamanho orgulho nacional e particularismo  étnico que não conseguiu ver o sublime alcance da garça de Deus. Jonas haveria de aprender, junto  com a nação, que Israel não possuía o monopólio do amor de Deus (At 10.34-35; Rm 3.29)”.

O Dicionário de Davis (1987:334)

diz que, “o objetivo deste livro é mostrar que a graça de Deus não se limitava a beneficiar os filhos de Abraão, e que os gentios, conquanto ainda fora do alcance da lei, também poderiam participar dos favores divinaos”. Stanley Ellisen (Conheça Melhor o ANTIGO TESTAMENTO, p. 353) diz que, “o seu histórico e duradouro era declarar a universalidade tanto do julgamento quanto da garça divina. Deus julga a iniqüidade em todas as esferas e, do mesmo modo, reage ao arrependemento de todas as nações. A história também retrata a verdade de que, quando o povo de Deus deixa de ter interesse pelos perdidos, perde a visão do objetivo e programa divinos no mundo”.

Escola de Teologia – ETAP
Disciplina: LIVROS PROFÉTICOS I E II
Professor: Carlos Alberto Alves

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *