O LIVRO DE DANIEL (DEUS É MEU JUIZ)

Vamos destacar o profeta Daniel nas suas apaixonantes aventuras ao longo do livro que leve o seu nome.

O Personagem Daniel.

Daniel fora membro da família real. O texto sagrado diz que Daniel era da “linhagem real e dos nobres” (Dn 1.3). Segundo Stanley Ellisen (2007:301, 302), ele nascera “em Jerusalém, em 623 a.C. aproximadamente, durante a reforma de Josias e no princípio do ministério de Jeremias”. Ellisen ainda acrescenta que, Daniel fora “levado à Babilonia por ocasião do primeiro exílio (605), foi selecionado para o serviço real depois de período de três anos de estudos especiais, tendo recebido o nome de ‘Beltessazar’, uma das divindades da Babilonia”. A qualificação de Daniel fora muito especial.

O texto bíblico afirma as suas qualidades: física, moral, intelectual Está escrito: “jovens em quem não houvesse defeito algum, formosos de aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e sábios em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para viver no palácio do rei, a fim de que fossem ensinados nas letras e na língua dos caldeus” (Dn 1.4).

Outro feito que merece destaque na vida de Daniel é a sua consciência de preservar  a identidade religiosa e cultural.

As regras alimentares constituíam parte importante das observâncias judaicas. Daniel sabia pela lei de Deus que certos tipos de alimentos não eram permitidos por Deus. Principalmente, os alimentos que fossem dedicados aos deuses do paganismo. Daniel manteve sua fé, cultura e costumes. O texto sagrado é taxativo: “E Daniel assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto, pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar” (Dn 1.8). “Porque nele havia um espírito excelente” (Dn 6.3; 5.12). Tem mais uns poucos acréscimos: “mas não podiam achar ocasião ou culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum vício nem culpa” (Dn 6.4).

Atuação de Daniel.

Stanley Ellisen diz que, “em 603, aos 20 anos aproximadamente, Daniel foi declarado governador da província da Babilonia e chefe de todos os ‘sábios’. Era, portanto, o conselheiro-mor de Nabucodonosor durante o período da destruição de Jerusalém e do exílio babilônico, tendo certamente exercido influencia sobre os judeus cativos”. Ellisen ainda tem um dado importante para transcrevermos. Ele diz: “Durante um período de quase 70 anos, Daniel serviu a seis governadores babilônios e a dois persas. No governo de três deles (Nabucodonosor, Belsazar e Dario I), foi elevado a primeiro-ministro. Ocupou essa função durante o cativeiro final de Judá e o regresso dos cativos”. 

No governo de Nabucodonosor, Daniel, por revelação divina, interpretou os sonhos do rei, dando o sentido da grande estátua que vira (Dn 2.1-46). Fora mediante a revelação divina que Daniel fora elevado a categoria de governador da Babilonia e chefe de todos os sábios (Dn 2.46-49). Depois, Daniel interpretou a visão que revelava outra loucura de Nabucodonosor. Basta ler Dn 4.

Daniel “impressionou” até o próprio Deus.

Ezequiel citou as palavras do Senhor a respeito de Daniel, dizendo: “Ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, livrariam apenas a sua alma, diz o Senhor Jeová” (Ez 14.14). 

Daniel atuou no governo de Belsazar. Este soberano era neto de Nabucodonosor cujo pai chamava-se Nabonides. Belsazar arrogantemente resolveu promover uma festinha utilizando os objetos sagrados do Templo em Jerusalém. Ele tratou os objetos com irreverência. Também desconsiderou o profeta, desconhecendo-o. E tentou suborná-lo com posição política no reinado. O homem de Deus apenas deu a revelação da justiça divina para aquele rei maligno que fora punido severamente. Lei todo capítulo 5.

Difícil fora atuação de Daniel no governo de Dario I, o Grande. Um pouco sobre Dario I, o Grande. A Enciclopédia Wikipédia diz: “Todavia, o historiador grego Heródoto explica que a ascensão de Dario ao trono se deu por meio de uma espécie de sortilégio entre os líderes do golpe: antes do amanhecer, cavalgariam, todos juntos, pela planície, em direção ao nascente, e se o cavalo de algum deles se empinasse e relinchasse no instante em que o sol despontasse no horizonte, isto seria um sinal divino indicando quem deveria ser o imperador. Empinou-se, e relinchou, para o sol nascente, o cavalo de Dario”. 

No poder, Dario I, o Grande, nomeou 120 sátrapas para auxiliá-lo no governo.

Mas quem eram os sátrapas? A palavra vem do grego “satrapés” e significa “protetor da terra/país”. Também pode ser: “tenente, governador”. “Cada satrapia era governada por um sátrapa, que era nomeado pelo rei. Para evitar a corrupção, o Rei dos Reis (Imperador Persa) possuía uma rede de espiões que foi chamada de ‘Os olhos e ouvidos do Rei’” (Enciclopédia Wikipédia). Por incrível que pareça, Dario I, o Grande, foi morto por um sátrapa (político terrível).

Foram os sátrapas que produziram um conluio contra Daniel. Eles incitaram o rei a condenar Daniel por causa de sua religião. Por mais que o rei argumentasse em favor de Daniel mostrando todas suas qualidades morais e espirituais, não os convenceram. Daniel injustamente fora condenado à morte. Milagrosamente, fora salva da cova dos leões.  

Para os sátrapas, o resultado foi terrível. Eles e seus familiares foram lançados na cova dos leões. Uma estimativa matemática mostra que eram 120 mais dois presidentes, perfazendo um total de 122. As esposas eram mais 122. O total: 244. Estimando-se 3 filhos por casal, que talvez fossem mais, o resultado fica em torno de: 244×3= 732. É provável que o mínimo de pessoas comidas pelos leões tenha sido o apresentado acima.

O homem de Deus saíra ileso do conluio arquitetado pelos sátrapas. Leia o capítulo 6.

Autoria do Livro.

A Bíblia de Estudo Pentecostal diz que foi Daniel o escritor do livro que leva seu nome. O comentarista da Bíblia de Genebra diz que “a autoria e data de Daniel têm sido objeto de muita polemica entre os estudiosos do texto bíblico. A disputa se concentra na forma como as visões e profecias de Daniel enfocam quatro impérios antigos em sucessão, iniciando pela Babilonia (caps.2; 7; 11)”.

O comentarista da mesma Bíblia afirma mais a frente: “Contudo, informações do próprio livro indicam Daniel como o seu autor (9.2; 10.2) e sugerem que o texto foi escrito pouco tempo após a vitória de Ciro sobre a Babilonia, em 539 a.C. Além disso, Jesus menciona a predição do ‘abominável da desolação’ encontrada neste livro como tendo sido proferida pelo ‘profeta Daniel’ (Mt 24.15)”. Stanley Ellisen (Conheça Melhor o ANTIGO TESTAMENTO, p.302,3) diz que “a autoria de Daniel foi contestada pela primeira vez por Porfírio em 275 d.C., e é universalmente contestada pelos críticos modernos”. Ellisen diz que “Jesus reconheceu Daniel como o autor das visões de Daniel 9.27, 11.31, e 12.11, as últimas partes do livro (Mt 24.15)”.

A doutrina ortodoxa aceita pelos genuínos evangélicos não se incomoda com os críticos incrédulos que tentam a qualquer custo derribar a fé evangélica. Se o Senhor Jesus reconhece Daniel como autor do livro, logo as opiniões dos críticos incrédulos não afetam a nossa crença. 

Data do Livro.

Stanley Ellisen diz que a “data em que foi escrito: c. 535 a.C.”. A Bíblia de Estudo Pentecostal diz que foi “cerca de 536-530 a.C.”.

E. Tema do Livro.

A Bíblia de Estudo Pentecostal sugere o tema: “A Soberania de Deus na História”. Stanley Ellisen sugere o seguinte tema: “Soberano cuidado de Deus para com Israel durante os tempos dos gentios”. 

F. Esboço do Livro.

O esboço que vamos apresentar foi extraído da Bíblia de Genebra. Estamos variando para enriquecer o nosso estudo e vocabulário. Vejamos:

“I. As narrativas (caps. 1-6)

Deus favorece Daniel e seus amigos pela sua fidelidade (cap. 1)

B Daniel interpreta o sonho de Nabucodonosor (cap. 2)

  1. Deus livra os companheiros de Daniel da fornalha de fogo (cap. 3)
  2. Deus julga Nabucodonosor (cap. 4)
  3. Deus julga Belsazar (cap.5)
  4. Deus livra Daniel da cova dos leões (cap. 6)
  5. As visões de Daniel (caps. 7-12)
  6. As visões dos quatro animais e do estabelecimento do reino de Deus (cap. 7)
  7. A visão do carneiro e do bode (cap. 8)
  8. A visão das setenta semanas (cap. 9)
  9. A visão do anjo e da história futura do povo de Deus (caps. 10-12)
  10. A mensagem do anjo a Deus (10.1-11.1)
  11. A história do Oriente Próximo desde o tempo de Daniel até Antíoco IV Epifanio (11.2-20)
  12. O reinado de Antíoco IV Epifanio (11.21-35)
  13. Sua subida ao trono e caráter (11.21-24)
  14. Sua carreira (11.25-31)
  15. O destino do povo de Deus durante o seu reinado (11.32-35) 4. O reinado do anticristo (11.36-12.3)
  16. Seu caráter (11.36-39)
  17. Suas atividades (11.40-45)
  18. O destino do povo de Deus durante o seu reinado (12.1-3)
  19. Uma mensagem final a Daniel (12.4-13)”

 

 Comentário do Livro.

Como já sabemos, o livro de Daniel se divide em duas partes: os capítulos de 1-6 são relatos. Daniel e seus amigos estão a serviço de Nabucodonosor (cap. 1). Depois vemos o sonho de Nabucodonosor referente à estátua composta de diversos elementos (cap. 2). Em seguida, demos uma olhadela no capítulo três, e vemos a adoração da estátua de ouro e os três amigos de Daniel na fornalha e o Deus todo-poderoso livrandoos e exaltando seu Nome (cap. 3). Logo após temos a loucura de Nabucodonosor (cap. 4). Depois, vimos à loucura do neto de Nabucodonosor, Belsazar (cap. 5). A parte dos relatos termina com o Senhor Deus livrando Daniel da cova dos leões, depois de um conluio bem arquitetado pelos sátrapas. O resultado para eles foi o pior possível, (cap. 6).

O comentarista da Bíblia de Genebra diz que

as “reflexões sobre o conteúdo das narrativas históricas revelam que elas não constituem um tratado histórico integrado, mas tratam-se de unidades independentes reunidas com um propósito específico. As narrativas não apresentam uma história de Israel sob o domínio da Babilonia ou da Pérsia, tampouco se constituem em biografia histórica de Daniel ou de seus amigos. O elemento comum subjacente a estes textos é a ênfase na forma pela qual a soberania absoluta de Deus opera na vida de todas as nações (2.47; 3.17-18; 4.28-37; 5.18-31; 6.25-28)”.

A segunda parte do livro de Daniel vai dos capítulos de 7-12. Ela está apresentada em linguagem figurada, própria da linguagem apocalíptica. Daniel apresentou o conflito entre as grandes potencias. O capítulo 7 mostra as quatro feras; o capítulo 8 mostra o bode e o carneiro; o capítulo 9 mostra as setenta semanas; e os capítulos de 10-12 mostram a grande visão do tempo da ira e do tempo do fim. As visões são da época dos reinados de Belsazar, de Dario, o medo, e de Ciro, rei da Pérsia, e têm como cenário a Babilonia.

Stanley Ellisen diz que o objetivo do livro de Daniel

“é declarar a soberania de Deus sobre todas as nações, conforme foi demonstrado por intermédio de Daniel e seus amigos a dois monarcas da Babilonia e a dois da Pérsia. Assim Daniel revela a previsão de quatro reinos gentios e ‘setenta semanas’ de Israel, que teriam de cumprir seu tempo antes do próprio Deus estabelecer um reino eterno aqui. O propósito do livro de Daniel não é enfatizar o programa redentor de Deus, mas o programa de seu reino, até que ele seja estabelecido permanentemente com o Messias” (Conheça Melhor o ANTIGO TESTAMENTO, p. 306).

O comentarista da Bíblia de Genebra diz que “uma das principais razões para a redação do Livro de Daniel foi a de preparar o povo de Deus para os tempos de Antíoco Epifanio e encorajá-los durante esse período de perseguição. Ao mesmo tempo, o livro se volta para o período subsequente a Antíoco Epifanio, para a vinda de Cristo. É Cristo quem destruirá todos os reinos dos homens e instituirá o seu reino eterno de justiça e paz”.

O livro de Daniel é melhor compreendido quando é estudado juntamente com o Apocalipse. Aguarde.

Escola de Teologia – ETAP
Disciplina: LIVROS PROFÉTICOS I E II
Professor: Carlos Alberto Alves

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