A crucificação de Jesus Cristo é um dos eventos mais significativos da história cristã. No entanto, ao longo dos séculos, algumas correntes de pensamento, tanto na antiguidade quanto na atualidade, negaram a ocorrência desse evento. Duas dessas correntes são destacadas aqui: o gnosticismo, representado por Basilides, e o Islã, através do Alcorão.
Basilides foi um dos mais influentes heresiarcas gnósticos do Egito no início do século II. Ele desenvolveu uma doutrina complexa que incluía uma interpretação singular sobre a crucificação de Cristo. Segundo Basilides, Jesus não foi crucificado. Em vez disso, ele ensinava que Simão, o cirineu, que ajudou Jesus a carregar a cruz, foi transfigurado e crucificado por engano no lugar de Jesus. Basilides alegava que o populacho, iludido pela aparência de Simão, acreditou que ele era Jesus e o crucificou.
Essa interpretação gnóstica surge de uma visão dualista da realidade, comum entre os gnósticos, que separavam o mundo espiritual do material. Eles acreditavam que Cristo, como um ser espiritual, não poderia sofrer uma morte tão terrível e indigna como a crucificação. Para os seguidores de Basilides, a crucificação foi uma ilusão, uma forma de proteger a essência divina de Cristo.
No contexto atual, a negação da crucificação de Jesus é mantida por muitos muçulmanos, baseada no Alcorão, o livro sagrado do Islã. A Sura 4, verso 157 do Alcorão declara explicitamente que Jesus não foi crucificado:
"E por dizerem: ‘Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de Deus’. Mas não o mataram, nem o crucificaram, mas isso lhes foi simulado. E aqueles que discordam disso estão em dúvida. Eles não têm conhecimento disso, apenas seguem conjecturas; mas certamente não o mataram."
Segundo a interpretação islâmica, Deus fez com que outro homem, que se assemelhava a Jesus, fosse crucificado em seu lugar, enquanto Jesus foi elevado ao céu por Deus. Assim, a crucificação de Jesus é considerada uma ilusão ou uma simulação. Essa crença está profundamente enraizada na teologia islâmica e difere radicalmente da narrativa cristã.
As negações da crucificação de Jesus por Basilides e pelo Alcorão têm implicações teológicas profundas. No caso de Basilides, sua interpretação reflete uma visão gnóstica que rejeita o sofrimento físico de Cristo, enfatizando a distinção entre o mundo espiritual e material. Para os gnósticos, o sofrimento e a morte são fenômenos do mundo material, do qual a essência divina de Cristo estaria separada.
Por outro lado, a perspectiva islâmica, como expressa no Alcorão, nega a crucificação para preservar a honra de Jesus como um grande profeta de Deus. Para o Islã, seria inconcebível que um profeta tão exaltado sofresse uma morte tão ignominiosa. Além disso, a negação da crucificação também reforça a crença islâmica na ascensão de Jesus aos céus, aguardando seu retorno no fim dos tempos.
A negação da crucificação de Jesus por Basilides na antiguidade e pelo Alcorão na atualidade revela a diversidade de interpretações religiosas sobre este evento central do cristianismo. Enquanto Basilides viu na crucificação uma ilusaão para proteger a divindade de Cristo, o Alcorão apresenta uma narrativa alternativa que reafirma a dignidade de Jesus como profeta. Ambas as perspectivas desafiam a compreensão cristã tradicional, mas também enriquecem o diálogo inter-religioso, destacando as complexas relações entre diferentes fés e tradições espirituais.