Uma Revelação Sobre a Trindade
No Salmo 45.6-7, encontramos uma declaração que há séculos tem intrigado estudiosos e rabinos:
"O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade. Tu amas a justiça e aborreces a impiedade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros." (Sl 45.6-7)
A questão que surge é clara: como pode Deus estar ungindo Deus? O versículo 6 se dirige a Deus, mas no versículo 7, esse mesmo Deus está sendo ungido por "seu Deus". Para os que não compreendem a natureza plural da unidade divina, essa passagem pode parecer contraditória. Contudo, a Epístola aos Hebreus traz uma explicação reveladora.
O autor da Epístola aos Hebreus cita diretamente o Salmo 45.6-7 para esclarecer sua aplicação cristológica:
"Mas do Filho diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino." (Hebreus 1.8)
Aqui, vemos que o texto do Salmo é interpretado pelo autor de Hebreus como uma referência direta a Jesus Cristo. Ou seja, Deus está ungindo o Filho, reafirmando sua realeza e divindade.
Essa passagem reforça um dos mistérios centrais do Cristianismo: a Trindade. O Deus que unge é o Pai, e o Deus que é ungido é o Filho. Isso demonstra que a unidade de Deus não é uma singularidade absoluta, mas uma unidade plural. Deus é um em essência, mas existe em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Essa revelação não foi uma invenção do Novo Testamento, mas algo já insinuado no Antigo Testamento. No próprio relato da criação, encontramos:
"Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança." (Gênesis 1.26)
O uso do plural "façamos" sugere uma pluralidade dentro da unidade de Deus, algo que se torna mais claro com a revelação do Novo Testamento.
No contexto bíblico, a unção simboliza consagração, capacitação e reconhecimento divino. Jesus, sendo o Messias (que significa "Ungido"), recebe essa unção do Pai para sua missão redentora. Isso está alinhado com o que Isaías profetizou:
"O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados." (Isaías 61.1)
Jesus, ao iniciar seu ministério, leu essa passagem e declarou que se cumpria nele (Lucas 4.18-21). Ele foi ungido para trazer salvação e estabelecer seu Reino de justiça.
A passagem do Salmo 45.6-7, longe de ser uma contradição, é uma profunda revelação da Trindade e da divindade de Cristo. O Deus que unge e o Deus ungido são o mesmo em essência, mas distintos em Pessoa. Essa verdade, confirmada em Hebreus 1.8, mostra que Jesus não é apenas um enviado de Deus, mas o próprio Deus, digno de adoração e glória por toda a eternidade.