Até há bem pouco tempo, os melhores livros escritos
sobre seitas e heresias não incluíam a Igreja Católica Romana no seu esquema de
estudos, talvez devido ao fato de grande parte deles terem sido escritos em
países onde essa igreja não exercia suficiente influência para ser notada como
tal. Não é esse o caso do Brasil, onde a grande maioria dos membros de nossas
igrejas, teoricamente, veio do catolicismo romano, já que essa igreja é
majoritária (pelo menos nominalmente) em nossa pátria desde o seu descobrimento,
em 1500.
A Igreja Católica menciona o ano 33 d.C. como a data
da sua fundação. Isto vem do fato de que toda ramificação do Cristianismo
costuma ligar a sua origem à Igreja fundada por Jesus Cristo. Porém, quanto ao
desenvolvimento da organização eclesiástica e doutrinária da Igreja Romana, é
muito difícil fixar com exatidão a data de sua fundação, porque o seu
afastamento das doutrinas bíblicas deu-se paulatinamente.
Durante os primeiros três séculos
da Era Cristã, a perseguição à Igreja verdadeira ajudou a manter a sua pureza,
preservando-a de líderes maus e ambiciosos. Nessa época, ser cristão
significava um grande desafio, e aqueles que fielmente seguiam a Cristo sabiam
que tinham suas cabeças a prêmio, pois eram rejeitados e perseguidos pelos
poderosos. Só os realmente salvos se dispunham a pagar esse preço.
Graças à tenacidade e coragem dos Pais da Igreja e
dos famosos apologistas cristãos, o combate da Igreja às heresias que surgiram
nessa época resultou numa expressão mais clara da teologia cristã. Quando os
imperadores propuseram-se a exterminar a Igreja Cristã, só os que estavam
dispostos a renunciar o paganismo e a sofrer o martírio declaravam sua fé em
Deus.
Logo no início do século IV, Constantino ascendeu ao
posto de imperador. Isso parecia ser o triunfo final do Cristianismo, mas, na
realidade, produziu resultados desastrosos dentro da Igreja. Em 312,
Constantino apoiou o Cristianismo e o fez religião oficial do Império Romano.
Proclamando a si mesmo benfeitor do Cristianismo, achou-se no direito de
convocar um Concilio em Nicéia, para resolver certos problemas doutrinários
gerados por determinados segmentos da Igreja. Nesse Concilio foi estabelecido o
chamado "Credo dos Apóstolos".
A decadência doutrinária, moral e espiritual da
Igreja começou quando milhares de pessoas foram por ela batizadas e recebidas
como membros, sem terem experimentado uma real conversão bíblica. Verdadeiros
pagãos que eram, introduziram-se no seio da Igreja trazendo consigo os seus
deuses, que, segundo eles, eram o mesmo Deus adorado pelos cristãos.
Nesse tempo, homens ambiciosos e sem o temor de Deus
começaram a buscar posições na Igreja como meio de obter influência social e
política, ou para gozar dos privilégios e do sustento que o Estado garantia a
tantos quantos fizessem parte do clero. Deste modo, o formalismo e as crenças
pagas iam-se infiltrando na Igreja até o nível de paganizá-la completamente.
Desde o ano 200 a.C. até o ano 276 da nossa Era, os
imperadores romanos haviam ocupado o posto e o título de Sumo Pontífice da
Ordem Babilônica. Depois que o imperador Graciano se negara a liderar essa
religião não-cristã, Dâmaso, bispo da Igreja Cristã em Roma, foi nomeado para
esse cargo no ano 378. Uniram-se assim numa só pessoa todas as funções dum sumo
sacerdote apóstata e os poderes de um bispo cristão.
Imediatamente depois deste acontecimento, começou-se
a promover a adoração a Maria como a Rainha do Céu e a Mãe de Deus. Daí
procederam todos os absurdos romanistas quanto à humilde pessoa de Maria, a mãe
do Salvador.
Enquanto se desenvolvia a adoração a Maria, os cultos
da Igreja de Roma perdiam cada vez mais os elementos espirituais e a perfeita
compreensão das funções sobrenaturais da graça de Deus. Formas pagas, como a
ênfase sobre o mistério e a magia, influenciaram essa igreja. O sacerdote, o
altar, a missa e as imagens de escultura assumiram papel de preponderância no
culto. A autoridade era centralizada numa igreja dita infalível e não na
vontade de Deus, conforme expressada pela sua Palavra.
O cisma entre o Oriente e o Ocidente logo tornou-se
evidente. O rompimento final aconteceu, em 1054, com a Igreja Ocidental, ou
Romana, sediada em Roma, então Capital do Império, por parte da Igreja
Oriental, ou Ortodoxa, que assim separou-se da Igreja Romana, ficando sediada
em Constantinopla, hoje Istambul, na Turquia. A Igreja Oriental guardou a
primazia sobre os patriarcados de Jerusalém, Antioquia e Alexandria.
Desde então, a Igreja Romana, nitidamente desviada
dos princípios ensinados por Jesus no seu Evangelho, esteve como um barco à
deriva, sem saber onde aportar. Até que veio a Reforma Protestante, liderada
por Martinho Lutero. Foi mais um cisma na já combalida Igreja Romana.
Note a seguir o processo da gradual paganização da
Igreja Católica Romana, desde que ela começou a abandonar a simplicidade do
Evangelho de Cristo, até os nossos dias:
Século Ano Dogma ou Cerimônia
I-II 33-196 Nesse período da História, a Igreja não aceitou nenhuma doutrina anti-bíblica.
II 197 Zeferino, bispo de Roma, começa um movimento
herético contra a divindade de Cristo.
III 217 Calixto se torna bispo de Roma, pondo-se à frente
da propaganda herética e levando a Igreja de Roma
para mais longe do caminho de Cristo.
III 270 Origem da vida monástica no Egito, por Santo
Antônio.
IV 370 Culto dos santos professado por Basílio de Cesaréia
e Gregório de Nazianzo. Primeiros indícios do
turíbulo (incensário), paramentos e altares nas igrejas, usos esses introduzidos pela influência dos
pagãos convertidos.
IV 400 Orações pelos mortos e sinal da cruz feito no ar.
V 431 Maria é proclamada a "Mãe de Deus".
VI 593 O dogma do Purgatório começa a ser ensinado.
VI 600 O latim passa a ser usado como língua oficial nas
VI
celebrações litúrgicas.
VII 609 Começo histórico do papado.
VIII 758 A confissão auricular é introduzida na igreja por religiosos do Oriente.
VIII 789 Início do culto das imagens e das relíquias.
IX 819 A festa da Assunção de Maria é observada pela primeira vez.
IX 880 Canonização dos santos.
X 998 Estabelecimento do Dia de Finados.
X 998 Quaresma.
X 1000 Cânon da Missa.
XI 1074 Proíbe-se o casamento para os sacerdotes.
XI 1075 Os sacerdotes casados devem divorciar-se,
compulsoriamente, cada um de sua esposa.
XI 1095 Indulgências plenárias.
XI 1100 Introduzem-se na igreja o pagamento da missa e o
culto aos anjos.
XI 1115 A confissão é transformada em artigo de fé.
XII 1025 Entre os cônegos de Lião aparecem as primeiras
idéias da Imaculada Conceição de Maria.
XII 1160 Estabelecidos os 7 sacramentos.
XII 1186 O Concilio de Verona estabelece a "Santa
Inquisição".
XII 1190 Estabelecida a venda de indulgências.
XII 1200 Uso do rosário por São Domingos, chefe da
inquisição.
XII 1215 A transubstanciação é transformada em artigo de fé.
XIII 1220 Adoração à hóstia.
XIII 1226 Introduz-se a elevação da hóstia.
XIII 1229 Proíbe-se aos leigos a leitura da Bíblia.
XIII 1264 Festa do Sagrado Coração.
XIII 1303 A Igreja Católica Apostólica Romana é proclamada
como sendo a única verdadeira, e somente nela o
homem pode encontrar a salvação...
XIV 1311 Procissão do Santíssimo Sacramento e a oração da
Ave-Maria.
XIV
XV 1414 Definição da comunhão com um só elemento, a hóstia. O uso do cálice fica restrito ao sacerdote.
XV 1439 Os 7 sacramentos e o dogma do Purgatório são
transformados em artigos de fé.
XVI 1546 Conferida à Tradição autoridade igual a da Bíblia.
XVI 1562 Declara-se que a missa é oferta propiciatória e confirma-se o culto aos santos.
XVI 1573 É estabelecida a canonicidade dos livros apócrifos.
XIX 1854 Definição do dogma da Imaculada Conceição de
Maria.
XIX 1864 Declaração da autoridade temporal do papa.
XIX 1870 Declaração da infalibilidade papal.
XX 1950 A assunção de Maria é transformada em artigo de
fé.
Vale salientar que alguns dos dados aqui registrados
são apenas aproximados, pois muitas e muitas vezes as doutrinas eram
discutidas, algumas durante séculos, antes de serem finalmente aceitas e
promulgadas como artigos de fé, ou dogmas. Um exemplo disto é o dogma do
Purgatório, introduzido na Igreja Romana em 593, mas só declarado artigo de fé
no ano de 1439.
A Igreja Católica Romana considera o apóstolo Pedro como a
pedra fundamental sobre a qual Cristo edificou a sua Igreja. Para fundamentar
esse ensino, apela, principalmente, para a passagem de Mateus 16.16-19: "E
Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. E Jesus,
respondendo, disse-lhe: Bemaventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não
revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te
digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do Reino dos
céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus".
Dessa passagem, a Igreja Romana
deriva o seguinte raciocínio: a. Pedro é a rocha sobre a qual a Igreja está
edificada.
b. A
Pedro foi dado o poder das chaves, portanto, só ele detém o
poder de abrir a porta do Reino dos
céus.
c. Pedro
tornou-se o primeiro bispo de Roma.
d. Toda
autoridade foi conferida a Pedro até nossos dias, através
da linhagem de bispos e papas, todos
vigários de Cristo na Terra.
Partindo deste raciocínio, o padre Miguel Maria
Giambelli põe o versículo 19 de Mateus 16 nos lábios de Jesus, da seguinte
maneira: "Nesta minha Igreja, que é o reino dos céus aqui na terra, eu te
darei também a plenitude dos poderes executivos, legislativos e judiciários, de
tal maneira que qualquer coisa que tu decretares, eu a ratificarei lá no Céu,
porque tu agirás em meu nome e com a minha autoridade" (A Igreja Católica
e os Protestantes, p. 68).
Numa simples comparação entre a teologia vaticana e a
Bíblia, a respeito do apóstolo Pedro e sua atuação no seio da igreja nascente,
descobre-se quão absurda é a interpretação romanista a respeito da pessoa e
ministério desse apóstolo do Senhor. Mesmo numa despretensiosa análise do
assunto, conclui-se que:
1) Pedro jamais assumiu no seio do Cristianismo
nascente a posição e as funções que a teologia católico-romana procura
atribuirlhe.
O substantivo feminino petra designa do grego uma rocha
grande e firme. Já o substantivo masculino petros é aplicado geralmente a pequenos
blocos rochosos, móveis, bem como a pedras pequenas, tais como a pedra de
arremesso. Pedro é petros = bloco rochoso e móvel e não petra = rocha grande e
firme. Portanto, uma igreja sobre a qual as portas do inferno não prevaleceriam
não poderia repousar sobre Pedro.
2) De acordo com a Bíblia, Cristo é a pedra.
"Estavas vendo isso, quando uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a
estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou" (Dn 2.34).
"Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos
profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina" (Ef 2.20).
Nestes versículos, "pedra"
se refere a Cristo e não a Pedro.
Diz o apóstolo Pedro: "Este Jesus é a pedra
rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular" (At
4.11, cf. Mc 12.10e 11). (Se desejar leia ainda Romanos 2.20; 9.33; 1 Coríntios
10.4 e 1
Pedro 2.4.)
Dos oitenta e quatro Pais da Igreja antiga, só
dezesseis crêem que o Senhor se referia a Pedro quando disse "esta
pedra". Dos outros Pais da Igreja, uns dizem que esta expressão se refere
à pessoa de Cristo mesmo, outros, à confissão que Pedro acabara de fazer, e
outros, ainda, a todos os apóstolos. Portanto, se apelarmos para os Pais da
Igreja dos primeiros quatro séculos, as pretensões da Igreja Romana com
referência a Pedro, redundam em sofismas.
Só a partir do século IV começou-se a falar a
respeito da possibilidade de Pedro ser a pedra fundamental da Igreja, e isto
estava intimamente relacionado com a pretensão exclusivista do bispo de Roma.
À luz das palavras do próprio apóstolo Pedro, Cristo
é apetra (= rocha grande e firme): "Chegando-vos para ele, a pedra que
vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa"
(1 Pe 2.4).
Todos os crentes são petros = blocos rochosos e
moveis, "...vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa
espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios
espirituais, agradáveis a Deus, por intermédio de Jesus Cristo" (1 Pe
2.5).
Da interpretação doutrinária que a Igreja Católica
Romana faz de Mateus 16.16-19, deriva outro grande erro: o ensino de que Jesus
fez de Pedro o "Príncipe dos Apóstolos", pelo que veio a se tornar o
primeiro bispo de Roma, do qual os papas, no decorrer dos séculos, são
legítimos sucessores.
Esteve Pedro em Roma alguma vez?
Há uma opinião sobre uma remota possibilidade de que
Pedro tenha estado em Roma.
Oscar Cullman, teólogo alemão,
escreve: "A primeira carta de
Pedro... alude em sua saudação final
(5.13) à estada de Pedro em
Roma, ao falar de 'Babilônia' como lugar da
comunidade que envia saudações, pois que a opinião mais provável é que
'Babilônia' designa Roma".
Também Lietzmann, em sua obra Petrus and Paulus in
Rome (Pedro e Paulo em Roma), assim se expressa sobre o assunto:
"Mais importante, porém, é a debatida afirmação
de que Pedro, no decurso de sua atividade missionária, tenha chegado a Roma e
aí morrido como mártir. Visto que esta questão está intimamente relacionada com
a pretensão romana ao primado, freqüentemente a polêmica confessional influi na
discussão. A resposta a ela só pode ser fruto de pesquisa histórica
desinteressada. Como, porém, ao lado das fontes neotestamentárias, vêm, em
consideração, principalmente testemunhos extra e pós-canônicos da literatura
cristã antiga, e, além disto, documentos litúrgicos posteriores, e ainda
escavações recentes, esta questão não pode ser aqui discutida em todos os seus
pormenores. Queremos apenas lembrar que, até a segunda metade do século II, nenhum
documento afirmava expressamente a estada e martírio de Pedro em Roma".
Tenha ou não estado em Roma, o fato é que, se Pedro
foi papa, foi um papa diferente dos demais que apareceram até agora. Se não,
vejamos:
a. Pedro
era financeiramente pobre (At 3.6).
b. Pedro
era casado (Mt 8.14,15).
c.
Pedro foi um homem humilde, pelo que não aceitou
ser
adorado pelo centurião Cornélio (At
10.25,26).
d. Pedro
foi um homem repreensível (Gl 2.11-14).
É de estranhar que Tiago — e não Pedro, o
"Príncipe dos Apóstolos", como ensina a teologia vaticana, fosse o
pastor da comunidade cristã em Jerusalém (At 15). Se Pedro tivesse sido papa,
certamente não teria aceito a orientação dos líderes da Igreja quanto à obra
missionária (At 15.7). Se Pedro tivesse sido papa, a ordem das
"colunas", conforme Paulo escreve em Gálatas 2.9, seria: "Cefas,
Tiago e João", e não "Tiago, Cefas e João".
A própria história do papado é uma viva demonstração
de que os papas jamais conseguiram provar serem sucessores do apóstolo Pedro,
já que em nada se assemelham àquele inflamado, mas humilde, servo do Senhor
Jesus Cristo. Vejamos, por exemplo:
a.
Os papas são administradores de grandes fortunas
da igreja. O clérigo José Maria Alegria, da Universidade Gregoriana de Roma,
declarou, no final do ano de 1972, que o balanço financeiro do Vaticano
dispunha de um ativo de um bilhão de dólares.
b.
Os papas são celibatários, isto é, não se casam,
não obstante
ensinarem que o casamento é um sacramento.
c.
Os papas freqüentemente aceitam a adoração dos
homens.
d.
Os papas consideram-se infalíveis nas suas
decisões e
decretos.
A idéia do Purgatório tem suas raízes no budismo e em
outros sistemas religiosos da antigüidade. Até a época do papa Gregório I,
porém, o Purgatório não havia sido oficialmente reconhecido como parte
integrante da doutrina romanista.
Esse papa adicionou o conceito de fogo purificador à
crença, então corrente, de que havia um lugar entre o céu e o inferno, para
onde eram enviadas as almas daqueles que não eram tão maus, a ponto de
merecerem o inferno, mas também, não eram tão bons, a ponto de merecerem o céu.
Assim, surgiu a crença de que o fogo do Purgatório tem poder de purificar a
alma e todas as suas escórias, até fazê-la apta a se encontrar com Deus.
Buscando provar a existência do Purgatório, a Igreja
Romana apela para algumas passagens bíblicas, das quais extrai apenas falsas
inferências, e nada mais. Entre os versículos preferidos, destacam-se os
seguintes:
•
"Se alguém proferir alguma palavra contra o
Filho do homem ser-lhe-á isso perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito
Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir" (Mt
12.32).
•
"Digo-vos que toda palavra frívola que
proferirem os homens, dela darão conta no dia de juízo" (Mt 12.36).
•
"...se a obra de alguém se queimar, sofrerá
ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo" (1
Co 3.15).
De acordo com a teologia romanista, o Purgatório,
além de ser um lugar de purificação, é também um lugar onde a alma cumpre pena;
pelo que o fogo do Purgatório deve ser temido grandemente. O fogo do Purgatório
será mais terrível do que todo o sofrimento corporal reunido. Um único dia
nesse lugar de expiação poderá ser comparado a milhares de dias de sofrimentos
terrenos.
O escritor católico Mazzarelli faz seus cálculos à
base de trinta pecados veniais por dia, e, para cada pecado, um dia no
Purgatório, perfazendo um total de mil e oitocentos anos, caso o pecador tenha
sessenta anos de vida na Terra, devendo-se acrescentar aos veniais os pecados
mortais absolvidos, mas não plenamente expiados.
5.3. QUEM VAI PARA O PURGATÓRIO?
A pergunta: Que espécie de gente vai para o
Purgatório? — responde o papa Pio IV: "1. Os que morrem culpados de
pecados menores, que costumamos chamar veniais, e que muitos cristãos cometem —
e que, ou por morte repentina, ou por outra razão, são chamados desta vida, sem
que se tenham arrependido destas faltas ordinárias. 2. Os que, tendo sido
formalmente culpados de pecados maiores, não deram plena satisfação deles à
justiça divina" (A Base da Doutrina Católica Contida na Profissão da Fé).
Pátio da Catedral de
São Pedro, em Roma, centro de peregrinação e de paganização do mundo
Apesar do fato de as almas no Purgatório, segundo o
ensino da Igreja Romana, terem sido já justificadas no batismo e pelo batismo,
a justiça divina, contudo, não ficou plenamente satisfeita. Desse modo, a alma,
embora escape do inferno, precisa suportar, por causa dos seus pecados que
ainda restam por expiar depois da morte, a punição temporária do Purgatório.
Isso foi categoricamente afirmado pelo Concilio de Trento: "Se alguém
disser que, depois de receber a graça da justificação, a culpa é perdoada ao
pecador penitente, e que é destruída a penalidade da punição eterna, e que
nenhuma punição fica para ser paga, ou neste mundo ou no futuro, antes do livre
acesso ao reino a ser aberto, seja anátema" (Seção VI).
Entre o que pode assistir aos que se encontram no
Purgatório, há três atos que se destacam no ensino romanista, que são:
E de se supor que a prática romanista de interceder
pelos mortos tenha-se gerado da falsa interpretação às seguintes palavras de
Paulo: "Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas,
orações, intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens" (1
Tm2.1).
As missas são tidas como os principais recursos
empregados em benefício das almas que estão no Purgatório, pois, segundo o
ensino romanista, a missa beneficia não só a alma que sofre no Purgatório, como
também acumula méritos àqueles que as mandam dizer.
Dar esmolas com a intenção de aplicá-las nas
necessidades da alma que pena no Purgatório "é jogar água nas chamas que a
devoram". Pretende a Igreja Romana que, "exatamente como a água apaga
o fogo mais violento, assim a esmola lava o pecado".
Ainda sobre o Purgatório, o Concilio de Trento
declarou: "Desde que a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo nos
sagrados escritos e pela antiga tradição dos Pais, tem ensinado nos santos
concílios, e ultimamente, neste Concilio Ecumênico, que há o Purgatório, e que
as almas nele retidas são assistidas pelos sufrágios das missas, este santo
concilio ordena a todos os bispos que, diligentemente, se esforcem para que a
salutar doutrina concernente ao Purgatório — transmitida a nós pelos veneráveis
pais e sagrados concílios — seja crida, sustentada, ensinada e pregada em toda
parte pelos fiéis de Cristo" (Seção XXV).
O Purgatório não é somente uma fábula engenhosamente
montada, mas a sua doutrina se constitui num vergonhoso sacrilégio à honra de Deus
e num desrespeito à obra perfeita efetuada por Cristo na cruz do Calvário. Essa
doutrina, além de absurda e cruel, supõe os seguintes disparates e blasfêmias:
•
Não obstante Deus declare que já nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1), contudo, Ele se
contradiz a si mesmo quando lança o salvo no Purgatório, para expiar os pecados
já purgados.
•
Deus não queima os seus filhos no Purgatório
para satisfazer à sua justiça já satisfeita pelo sacrifício de Cristo, mas para
satisfazer a si mesmo!
•
Ao lançar seus filhos no Purgatório, Deus está
com isto dizendo que o sacrifício do seu Filho foi imperfeito e insuficiente!
•
Jesus, que dos céus intercede pelos pecadores,
vê-se impos-sibilitado de livrar as almas que estão no Purgatório, porque só o
papa possui a chave daquele cárcere!
•
Dizer que as almas expiam suas faltas no
Purgatório é atribuir ao fogo o poder do sacrifício de Jesus, e ignorar
completamente a obra que Cristo efetuou no Gólgota!
•
Que o castigo do pecado fica para depois de perdoado!
Estes disparates provêm dum erro da teologia
vaticana, segundo o qual a obra expiatória de Cristo satisfez a pena devida aos
pecados cometidos antes do batismo, e não daqueles que foram cometidos
posteriormente.
Todas estas incoerências sobre o dogma do Purgatório
estão em contradição com as seguintes afirmações bíblicas:
a. Quanto
à perfeita libertação do pecado (Jo 8.32,36).
b. Quanto
ao completo livramento do juízo vindouro (Jo 5.24).
c. Quanto
à completa justificação pela fé (Rm 5.1,2).
d. Quanto
à intercessão de Cristo (1 Jo 2.1).
e. Quanto
ao atual estado dos salvos mortos (Lc 23.43;Ap 14.13).
f.
Quanto à
bem-aventurada esperança do salvo (Fp
1.21,23;2Co5.8).
O que a Igreja Católica Romana chama
"Purgatório", a Bíblia chama "Gehenna", ou
"Inferno", lugar de suplício eterno, de onde aqueles que nele são
lançados, jamais sairão (leia Lucas 16.19-31 e veja que nada poderá ser feito
em favor daqueles infelizes que são lançados nesse lugar de terrível suplício).
A esses está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disto o juízo (Hb
9.27), quando serão julgados e condenados ao Lago de Fogo.
A salvação oferecida por Cristo é uma salvação
perfeita e total, pois ela é o resultado da misericórdia de Deus e do sangue do
seu amado Filho.
"Se, porém, andarmos na luz, como ele está na
luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos
purifica de todo pecado. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 Jo
1.7,9).
O purgatório do crente é o sangue de
Jesus.
Em 1929, sobre a Bíblia, escreveu o padre Bernhard
Conway: "A Bíblia não é a única fonte de fé, como Lutero ensinou no século
XVI, porque, sem a interpretação de um apostolado divino e infalível, separado
da Bíblia, jamais poderemos saber, com certeza, quais são os livros que
constituem as Escrituras inspiradas, ou se as cópias que hoje possuímos
concordam com os originais. A Bíblia, em si mesma, não é mais do que letra
morta, esperando por um intérprete divino; ela não está arranjada de forma
sistemática; é obscura, e de difícil entendimento, como São Pedro diz de certas
passagens das Cartas de Paulo (2 Pe 3.16, cf. At 8.30,31); como ela é, está
aberta à falsa interpretação. Além disso, certo número de verdades reveladas
têm chegado a nós, somente por meio da Tradição divina" (The Question
Box).
No Compêndio do Vaticano II, lê-se o seguinte:
"Não é através da Escritura apenas que a Igreja deriva sua certeza a
respeito de tudo que foi revelado. Por isso ambas (Escritura e Tradição) devem
ser aceitas e veneradas com igual sentido de piedade e reverência" (p.
127).
Desde que muitas inovações anticristãs começaram a
ser aceitas pela Igreja Romana, esta começou a ter dificuldades em como
justificálas à luz das Escrituras. Desse modo, em vez de deixar o paganismo e
voltar-se para a Bíblia, o clero fez exatamente o contrário: no Concilio de
Tolosa, em 1229, tomaram a medida extrema de proibir o uso da Bíblia pelos
leigos.
Até a Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana
não havia ainda tomado nenhuma posição no sentido de conferir à Tradição
autoridade igual à da Bíblia Sagrada. Isto devido à generalizada ignorância do
povo a respeito das Escrituras. Porém, com o advento da Reforma Protestante no
século XVI, o valor da Bíblia, como única regra de fé e prática do cristão, foi
exaltado, e a sua mensagem pregada onde quer que se fizesse sentir a influência
desse evento. Como a maioria dos dogmas da Igreja Romana não tivesse o apoio da
Bíblia, o clero em mais uma demonstração de rejeição das Escrituras, foi levado
a estabelecer a Tradição como autoridade para apoiar os seus dogmas e enganos.
A ênfase bíblica da mensagem reformada forçou o clero
da Igreja Romana a reavaliar a decisão do Concilio de Tolosa, e passou a
permitir a leitura da Bíblia pelos leigos, desde que satisfeitas as seguintes
exigências:
a. Que
a Bíblia fosse editada ou autorizada pelo clero;
b. Que
os leigos não formassem juízo próprio dos seus ensinos;
c. Que
os leigos só aceitassem a sua interpretação quando feita
pelo clero.
Impedidos de interpretar a Bíblia por si mesmos, os
leigos estavam privados da possibilidade de ver quão desrespeitosos à Bíblia
são os dogmas acobertados pela Tradição. Só dessa forma, os dogmas
fundamentados na Tradição estariam resguardados de julgamento e a Bíblia
reduzida, assim, a um livro ininteligível e destituído de autoridade.
"A questão da autoridade na Igreja Romana foi
sempre uma dolorosa questão, mas a História revela que a sua tendência sempre
foi de flutuar de um para outro ponto, com propensão para fincar-se no papado.
Esta foi a evolução da autoridade: das Escrituras para a Tradição, desta para a
Igreja, da Igreja para o clero e deste para o papado que, em 1870, diria: A
tradição sou eu" (Fé e Vida, maio de 1943).
A Tradição da Igreja Romana é, sem dúvida alguma, um
"outro evangelho" (Gl 1.8); antítese do Evangelho do Senhor Jesus
Cristo. Ela não tinha lugar na igreja primitiva. O
Evangelho só, contém "todo o conselho de Deus" (At 20.27),
dispensando, portanto, a tradição vaticana.
Paulo, o maior escritor e doutrinador do Novo
Testamento, cujo ministério estava fundamentado no Evangelho, falou sobre a
suficiência deste quando escreveu: "Antes de tudo vos entreguei o que
também recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e
que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras"
(1 Co 15.3,4, ênfase do autor).
A Tradição não pode resistir a uma análise por parte
de famosos cristãos da antigüidade, tampouco diante das Escrituras.
Cipriano, no século III, disse: "A tradição, sem
a verdade, é o erro envelhecido".
Tertuliano afirmou: "Cristo
se intitulou a Verdade, mas não a tradição... Os hereges são vencidos com a
Verdade e não com novidades".
No ano 450, disse Venâncio: "Inovações são
coisas de hereges e não de crentes ortodoxos".
Jerônimo, o tradutor da "Vulgata", tradução
oficial da Bíblia usada pela Igreja Romana, escreveu: "As coisas que se
inventam e se apresentam como tradições apostólicas, sem autoridade e
testemunho das Escrituras, serão atingidas pela Espada de Deus".
A Confissão de Fé de Westminster traz num dos seus
decretos algo que os católicos deveriam ler e não esquecer, que diz: "O
Supremo Juiz, pelo qual todas as controvérsias de religião são determinadas e
todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos, doutrinas de
homens e espíritos privados serão examinados e cujas sentenças devemos acatar,
não pode ser outro senão o Espírito Santo, falando através das
Escrituras."
A essência da adoração na Igreja Católica Romana gira
não em torno do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas da pessoa da Virgem
Maria. No decorrer dos séculos as mais diferentes e
absurdas crendices têm sido criadas em torno da humilde mãe do Salvador.
Decreta o Concilio Vaticano II: "Os fiéis devem
venerar a memória primeiramente da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e
de nosso Senhor Jesus Cristo".
Dentre as muitas declarações em torno de Maria,
destacam-se as seguintes:
"Daí não admira que nos Santos Padres prevalece
o costume de chamar a Mãe de Deus toda santa, imune de toda mancha de pecado,
como que plasmada pelo Espírito Santo e formada nova criatura" (Compêndio
Vaticano II, p. 105).
"Maria sempre foi virgem: Esta é doutrina
tradicional da Igreja Católica. No entanto a grande maioria das Igrejas
Protestantes afirma que Maria não guardou a sua virgindade e teve outros filhos
além de Jesus" (A Igreja Católica e os Protestantes, p. 88).
"A Bem-aventurada Virgem Maria é invocada na
Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Adjutriz, Medianeira"
(Compêndio Vaticano II, p. 109).
Há alguns anos foi publicado na imprensa de uma capital
latinoamericana um discurso de um cardeal católico-romano. O eminente prelado
recorda este sonho. Ele sonhou que estava na cidade celestial. Ouviu-se bater à
porta. Foi comunicado a Deus que um pecador da Terra estava pedindo entrada.
"Cumpriu ele as condições?" foi a pergunta. A resposta foi:
"Não!" "Então não pode entrar", foi o veredicto. Nesse
ponto, a virgem Maria, que estava sentada à direita do seu Filho, falou:
"Se esta alma não entrar eu me ponho fora". A porta abriu-se e o
pecador entrou.
7.3.0 TESTEMUNHO DAS ESCRITURAS
Invocando o testemunho das
Escrituras, concluímos que:
O que a Bíblia declara é que "todos pecaram e
carecem da glória de Deus" (Rm 3.23). Só a respeito de Cristo é que pode
ser dito: "Com efeito nos convinha um sumo sacerdote, assim como este,
santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores, e feito mais alto do que
os céus" (Hb 7.26).
Além de João 2.12, o Novo Testamento
se refere aos irmãos de
Jesus, ainda em Mateus 12.46;
13.55,56; Marcos 3.31; Lucas 8.19; João 7.3,5,10; Atos 1.14; 1 Coríntios 9.5 e
Gálatas 1.19. Os ensinadores romanistas dizem que aqueles a quem o Novo
Testamento chama de irmãos de Jesus, na realidade são seus primos. Esta
interpretação é errônea e visa fortalecer o dogma da perpétua virgindade de
Maria (leia Lucas 1.36, e veja que irmãos e primos são distintos no Novo
Testamento).
O fato de Maria ter sido virgem no ato da concepção
de Jesus é ponto pacífico nas Escrituras, porém, afirmar que ela continuou
virgem após o parto é antítese de Mateus 1.25: "Contudo, não a conheceu,
enquanto não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus".
"Porque há um só Mediador entre Deus e os
homens, Cristo Jesus, homem" (1 Tm 2.5). "Se, todavia, alguém pecar,
temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo" (1 Jo 2.1).
"Por isso também pode salvar totalmente os que
por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb
7.25).
Epifânio, grande apologista cristão do século IV, diz
o seguinte aos católicos de hoje:
"Não se devem honrar os santos além do que é
justo, mas devese honrar o Senhor deles. Maria, de fato, não é Deus nem recebeu
do céu o seu corpo, mas de uma concepção de um homem e de uma mulher. Santo é o
corpo de Maria; ela é virgem e digna de muita honra mas não foi dada para
adoração, antes, ela adora aquele que nasceu da sua carne. Honre-se Maria, mas
adore-se o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ninguém adore a Virgem Maria".
Ao mesmo tempo, disse Ambrósio de Milão: "Maria
era o templo de Deus, não o Deus do templo. Deve-se adorar então somente aquele
que opera no templo".
Dentre os muitos chamados "sacramentos" da
Igreja católica Romana, destaca-se a missa.
O que a missa é no contexto do Catolicismo Romano é
definido pelo padre Miguel Maria Giambelli:
"O que nós, católicos, chamamos 'missa', os
primeiros cristãos de Jerusalém chamavam de 'partir do pão', porque foi
exatamente isto o que fez Jesus na última ceia: 'Tomou o pão, deu graças e
partiu...'" S. Paulo lembra aos coríntios que todas as vezes que eles se
reúnem para comer deste pão e beber deste cálice, anunciam a morte do Senhor,
isto é, eles renovam o sacrifício do Calvário.
"O apóstolo Paulo alerta os coríntios de que
aquele pão e aquele vinho, após as palavras consagradas, não são mais pão e
vinho comuns, mas são algo de misterioso que esconde o corpo sagrado de Jesus,
e quem, portanto, se atrever e comer deste pão e beber deste vinho sem as
devidas condições espirituais, comete uma profanação tão sacrílega que o torna
réu de um crime contra o corpo e o sangue do Senhor Jesus. Daí porque São Paulo
continua alertando os coríntios a tomarem muito a sério o ato de comer deste pão
e beber deste cálice consagrado na eucaristia, porque quem os come e bebe sem
crer firmemente que são corpo vivo de Cristo, e, portanto, sem fazer distinção
entre o pão comum da padaria e pão consagrado 'come e bebe sua própria
condenação!'" (A Igreja Católica e os Protestantes, p.
27).
Deste ensino deduz-se que Giambelli
afirma:
a. Missa
e santa ceia do Senhor são a mesma coisa.
b. A
missa renova o sacrifício do Calvário.
c. O
pão e o vinho usados na missa são transubstanciados no
próprio corpo de Cristo no momento da
celebração.
d. Quem
não diferençar o pão que é servido na missa do que é
vendido na padaria, "come e bebe
sua própria condenação".
Esse ensino é errado, portanto, contrário àquilo que
as Escrituras Sagradas ensinam.
O recurso que a Igreja Romana usa para confundir o
significado da expressão "... em memória..." com a palavra "...
renovar", se constitui numa incoerência, primeiro à luz da Bíblia, e
depois à luz da gramática. No Dicionário da Língua Portuguesa, de Augusto
Miranda, a expressão "em memória" tem como sinônimo a expressão
"em lembrança"; enquanto a palavra "renovar" tem como
sinônimo a palavra "recompor". Portanto, uma nada tem a ver com a
outra.
Se a morte de um amigo nos vem à memória, isto não é
a mesma coisa que renová-la. Existem vários versículos na Bíblia que falam da
impossibilidade de se renovar o sacrifício de Cristo, entre os quais se
destacam: Hebreus 7.26,27; 10.12-14; 1 Pedro 3.18 e Romanos 6.9.
Não há um só versículo nas Escrituras em apoio à tese
do Concilio de Trento de que o pão e o vinho usados na missa, ao serem
consagrados, tornam-se, ou transubstanciam-se, em Jesus, física e
espiritualmente, assim como Ele está no céu. Veja, por exemplo:
a.
Mesmo após a ressurreição, não obstante gozando
do privilégio de um corpo espiritual, Jesus não bilocou-se, isto é, Ele não
esteve em dois lugares ao mesmo tempo. Se estava em Emaús, não estava em
Jerusalém. Ele estava num só lugar de cada vez. Como pretende, pois, a teologia
vaticana provar que Jesus esteja fisicamente, tanto no céu como nas hóstias
espalhadas nos sacrários dos templos católicos por todo o mundo?
b.
Quando Jesus diz: "E eis que estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28.10), Ele não sugere que
estaria fisicamente através do pão e do vinho da missa, mas espiritualmente,
assim como esteve com Paulo, conforme Atos 18.9,10.
c.
O corpo de Cristo hoje na Terra não é o pão e o
vinho usados na celebração da missa, mas a sua Igreja, conforme mostram as
seguintes passagens bíblicas: 1 Coríntios 10.16,17; 12.27; Efésios 1.22,23;
4.15,16; 5.30.
Outra prova de que missa e santa ceia do Senhor são
cerimônias diferentes, é que na missa os comungantes só tomam um elemento (a
hóstia) enquanto o vinho é tomado exclusivamente pelo padre celebrante, quando
a ordem novitestamentária é: "Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e
assim coma do pão e beba do cálice" (1 Co 11.28).
Muitas perguntas têm sido feitas e muitas questões
têm sido levantadas quanto aos livros apócrifos. Os católicos chegam mesmo a
afirmar que a Bíblia usada pelos evangélicos (aos quais chamam
"protestantes") é incompleta e falha por faltarem nela os livros apócrifos.
Muitos evangélicos, por sua vez, perguntam por que a nossa Bíblia não contém
tais livros.
Empregamos aqui o termo apócrifo num sentido
restrito, forçando um pouco o sentido original da palavra, e pondo de parte o
caráter de certos escritos, aos quais o referido termo se aplica. A palavra
"apócrifo", literalmente, significa "oculto". Porém, no
decorrer dos tempos e em razão do uso, o termo já não tem o sentido de
"oculto", mas de "espúrio", isto é, "não-puro".
No tempo da Reforma, o termo "apócrifo" foi
definitivamente aplicado a esses livros não-canônicos contidos na Vulgata, pois
não faziam parte do cânon hebraico. Seu significado oposto ao termo
"canônico" acarretou, para esses livros, o desprezo que se sentia
pela literatura apocalíptica e oculta, tanto judaica como cristã-judaica.
O número de livros apócrifos vai muito além daqueles
que a Bíblia de uso católico contém, porém os mais conhecidos, e aqui citados,
são aqueles que foram aprovados pela Igreja Católica no Concilio de Trento, em
1546. Destes, mais da metade são inseridos nas Bíblias de edição católica.
Alguns desses livros são também inseridos em Bíblias de editoras protestantes,
para estudo e investigação da crítica textual e devido ao seu relativo valor
histórico.
Os apócrifos consistem em livros assim chamados, e em
acréscimos a livros canônicos. A sua aprovação pela Igreja Católica deu-se,
como já dissemos, em 1546, no Concilio de Trento, em meio a intensa
controvérsia, havendo inclusive luta física resultante da contenda e dos
debates em torno deles. Os livros, e acréscimos a livros canônicos, aprovados,
foram os seguintes: Tobias, Judite, acréscimo ao livro canônico de Ester,
Sabedoria de Salomão,
Eclesiástico, Baruque (contendo a Epístola de
Jeremias), Cântico dos Três Santos Filhos (acréscimo a Daniel), História de Susana
e Bel e o Dragão (também acréscimos a Daniel), 1 e 2 Macabeus.
Eram 14 os principais apócrifos do Antigo Testamento.
Destes, os não reconhecidos pelo Concilio de Trento foram 1 e 2 Esdras e A
Oração de Manasses.
Por que estes livros são considerados apócrifos e não
canônicos? A razão óbvia é que eles não suportam uma prova de canonicidade,
como é mostrado a seguir:
•
Eles nunca fizeram parte do cânon hebraico.
•
Eles nunca foram citados no Antigo Testamento.
•
Joséfo, o historiador judeu, os omite em seus
escritos.
•
Nenhum deles reclama a inspiração divina para
si.
•
Eles contêm erros históricos, geográficos e
cronológicos.
•
Eles ensinam e apóiam doutrinas que são
contrárias às Escri-turas em geral.
•
Como literatura, às vezes não passam de mitos e
lendas.
•
Em geral, seu nível espiritual e moral deixa
muito a desejar.
•
Jesus não os cita em seus escritos.
•
Os apóstolos e escritores dos Evangelhos, das
Epístolas e do Apocalipse não se referem a eles nos seus escritos.
•
Os famosos Pais da Igreja primitiva não se
reportam a eles como fonte de inspiração dos seus escritos.
•
Eles foram escritos muito tempo depois de
encerrado o cânon do Antigo Testamento.