A Tradução do Novo Mundo (TNM) é a versão das escrituras utilizada pelas Testemunhas de Jeová, um grupo religioso que tem uma teologia distinta em relação à divindade de Jesus. Uma das características mais marcantes dessa tradução é a forma como algumas passagens bíblicas são alteradas para apoiar a crença de que Jesus não é Deus, mas uma criatura subordinada a Deus. Três passagens particularmente notáveis nesse contexto são João 1.1, Tito 2.13 e 2 Pedro 1.1. Nessas passagens, a TNM faz mudanças que negam a plena divindade de Cristo, apesar de sua interpretação ser amplamente rejeitada pela maioria das tradições cristãs. Vamos analisar essas passagens para entender as alterações feitas e as implicações dessas mudanças.
No Evangelho de João, o primeiro versículo do capítulo 1 apresenta uma das declarações mais claras sobre a divindade de Jesus: "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus" (João 1.1, ARA). Essa passagem é fundamental para a doutrina cristã da Trindade, que afirma que Jesus (a Palavra) é eterno, coeterno e consubstancial com Deus Pai.
No entanto, a Tradução do Novo Mundo altera essa passagem de maneira significativa, traduzindo o final do versículo da seguinte forma: "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era um deus". A inclusão do artigo indefinido "um" diante de "deus" altera o significado original do texto e sugere que Jesus não seria Deus em essência, mas uma divindade inferior ou uma criatura divina. Esse tipo de tradução tem como objetivo apoiar a doutrina das Testemunhas de Jeová, que ensina que Jesus é um ser criado, e não Deus.
Essa alteração é amplamente rejeitada pelos estudiosos de grego, pois a construção do original grego não permite essa tradução. No contexto de João 1.1, "a Palavra" é claramente identificada como divina, sendo da mesma substância que Deus, o que contradiz a tradução das Testemunhas de Jeová.
Em Tito 2.13, Paulo fala sobre a "esperança bem-aventurada" e a "manifestação da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo". A tradução tradicional vê Jesus como "Deus e Salvador", o que afirma diretamente sua divindade.
No entanto, a Tradução do Novo Mundo altera essa passagem para: "Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do grande Deus e de nosso Salvador Jesus Cristo". Ao remover a palavra "Deus" antes de "Salvador", a TNM sugere que Jesus é apenas o Salvador, mas não é divino, e que a manifestação da glória se refere apenas a Deus, sem afirmar que Jesus é Deus. Essa alteração visa enfraquecer a identidade divina de Jesus, fazendo com que pareça que a passagem se refere a dois seres distintos: o grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo, sem indicar que ambos são um.
A tradução tradicional, no entanto, é amplamente apoiada por estudiosos que reconhecem que o texto grego se refere à mesma pessoa, Cristo, como Deus e Salvador. A tentativa de separar as duas figuras em Tito 2.13 é uma distorção do ensino original das Escrituras.
A segunda epístola de Pedro também afirma a divindade de Jesus em 2 Pedro 1.1, onde o apóstolo escreve: "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco obtiveram uma fé igualmente preciosa pela justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo". Aqui, a frase "nosso Deus e Salvador" é uma clara declaração da divindade de Jesus.
Entretanto, a Tradução do Novo Mundo altera este versículo para: "Simão Pedro, escravo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que, como nós, obtiveram uma fé igualmente preciosa pela justiça de Deus e de nosso Salvador Jesus Cristo". A tradução da TNM separa as duas entidades, tratando Deus e Salvador como pessoas distintas, com Deus sendo o Pai e Jesus sendo apenas o Salvador. Essa mudança tem o mesmo objetivo das alterações anteriores: negar a plena divindade de Cristo, distorcendo o texto para que ele pareça afirmar que Jesus não é Deus, mas somente o Salvador.
A tradução tradicional, que vê "nosso Deus e Salvador" como uma declaração conjunta sobre Jesus, é amplamente defendida pelos estudiosos da Bíblia, que consideram a alteração da TNM como uma tentativa de promover uma visão teológica que não é apoiada pelo texto original.
As alterações feitas na Tradução do Novo Mundo em passagens como João 1.1, Tito 2.13 e 2 Pedro 1.1 demonstram uma tentativa deliberada de distorcer a doutrina bíblica da divindade de Jesus. Essas mudanças, realizadas de forma a negar que Jesus seja Deus, são um reflexo das crenças fundamentais das Testemunhas de Jeová, que rejeitam a Trindade e a ideia de que Jesus seja coigual e coeterno com Deus Pai. No entanto, essas modificações são amplamente contestadas pela maioria dos estudiosos da Bíblia e por outras tradições cristãs, que afirmam que o texto original em grego deixa claro que Jesus é, de fato, Deus.