A genuína fé cristã deve estar
fundamentada na Bíblia Sagrada. Caso contrário, o corpo de Cristo sofrerá
sérios transtornos. Quanto a este assunto, não podemos deixar de mencionar o
brilhante exemplo dos bereanos, registrado em Atos 17:11-13. Quando o apóstolo
Paulo chegou à cidade de Beréia, dirigiu-se à sinagoga dos judeus. A Escritura
diz que “estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica, pois
receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias
para ver se as cousas eram de fato assim”. E com essa atitude que queremos
agora avaliar este movimento à luz da Bíblia, pois nenhuma experiência, seja
sonho, visão ou qualquer outra coisa, pode estar acima da autoridade das
Escrituras. Tal foi o brado da Reforma protestante através de Martinho Lutero:
sola Scriptura (somente a Escritura).
Uma das afirmações mais contundentes desta corrente é que o
cristão deve ser próspero financeiramente e sempre ser livre de qualquer
enfermidade. Quando isto não acontece, é porque ele deve estar vivendo em
pecado ou porque não tem fé. Vejamos se al posição tem apoio na
Bíblia.
Que a fé é importante ninguém
discute. A Bíblia diz em Hebreus 11:1, 6: “Ora, a fé é a certeza de cousas
que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem. De fato, sem fé é
impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de
Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”. No
movimento da fé, entretanto, a obsessão em relação à fé é tamanha que até a
simples comunicação de um problema deve ser reprimida. Em muitos destes
círculos, mesmo em reuniões de oração, evita-se pedir oração por alguém que
esteja enfermo, pois não se pode confessar ou admitir qualquer coisa negativa.
Para reforçar seus argumentos,
citam Provérbios 18:21, que diz: “A morte e a vida estão no poder da
língua; o que bem a utiliza come do seu fruto”. Crêem que, se algo
negativo for declarado, isto se concretizará, resultando numa espécie de
automaldição, uma expressão também cunhada pelos seus pregadores.
A Bíblia fala de pessoas que, num
momento de dificuldade, acabaram externando suas angústias e tristezas, sem com
isto tornar em realidade o mal que confessaram. Veja o exemplo de Jacó em
Gênesis 42:36, quando seus filhos voltam do Egito, onde tinham ido comprar
comida. José, que não foi reconhecido por seus irmãos, exige que na próxima
viagem tragam Benjamim, provocando desta forma a seguinte reação de Jacó:
“Então lhes disse Jacó, seu pai: Tendes-me privado de filhos: José já não
existe, Simeão não está aqui, e ides levar a Benjamim! Todas estas cousas me
sobrevêm”.
Era natural que Jacó se sentisse
assim. Depois de tantos anos sem ver seu filho José, induzido por seus filhos a
pensar que ele tinha sido devorado por uma fera, e após ter perdido a esposa
Raquel quando nasceu Benjamim, sua vida passa a ser marcada pelo sofrimento. O
fato de ele confessar no versículo 36 que “José já não existe” não
provocou a morte de José no Egito, não constituindo, portanto, em maldição.
Vejamos também algo semelhante na
vida de Davi. Perseguido tenazmente por Saul, que procurava por todos os meios
assassiná-lo, Davi foi procurar refúgio junto a Aquis, rei de Gate (1 Samuel
27:2). Em meio ao seu desespero, tornou-se extremamente negativo: “Disse,
porém, Davi consigo mesmo: Pode ser que algum dia venha eu a perecer nas mãos
de Saul” (1 Samuel 27:1). Apesar de sua atitude negativa, Davi não pereceu
e nem poderia perecer pela mão de Saul. Deus o havia escolhido, através de
Samuel, para ser rei de Israel. Se ele morresse, a palavra de Deus não se
cumpriria.
Os três jovens na fornalha
ardente de Nabucodonosor também servem como exemplo de que nem sempre uma
declaração negativa se transforma numa automaldição. Quando indagados pelo rei
sobre quem era o Deus que poderia livrá-los de suas mãos, responderam: “O
Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus,
a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente,
e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus
deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (Daniel 3:16-18).
Houve duas declarações nesta
passagem. A primeira, positiva, quando os três jovens afirmaram que Deus
poderia livrá-los, e a segunda, negativa, quando admitiram que, ainda que Deus
não os livrasse, não se curvariam diante da estátua do rei. Apesar de terem
feito uma confissão negativa, eles não foram consumidos pelo fogo da fornalha,
mas salvos por uma intervenção sobrenatural de Deus. E novamente a automaldição
não se cumpriu.
Não podemos deixar de mencionar o
encontro que Jesus teve com o pai de um jovem que possuía um espírito mudo.
Depois de lhe ouvir a súplica para que curasse seu filho, Jesus disse-lhe:
“Se podes! tudo é possível ao que crê”. Ao que respondeu com lágrimas
o pai do menino: “Eu creio, ajuda-me na minha falta de fé” (Marcos
9:17-27).
Novamente temos, nesta narrativa
de Marcos, duas confissões: uma positiva e outra negativa. Primeiro, o pai do
rapaz diz que crê, mas logo depois admite sua dificuldade em crer e roga a
ajuda do Senhor. O Senhor Jesus de maneira alguma o rejeitou e nem deixou de
atendê-lo por causa de sua confissão negativa, antes, operou um grande milagre,
libertando totalmente o rapaz para a alegria daquele pai.
O apóstolo Paulo nem sempre pensava positivamente. Chegou a
afirmar, certa vez, que era o principal dos pecadores (1 Timóteo 1:15). Há
vários outros exemplos na Bíblia que demonstram que a operação de Deus não
depende dos méritos de seus filhos. Se Deus fosse depender de nossas fórmulas corretas
e palavras precisas para operar, ele não operaria mais. Deus é soberano e sobre
sua soberania, dentro da confissão positiva, trataremos adiante.
Logos e Rhema
Há dois termos na língua grega
para o vocábulo ”palavra”: logos e rhema. Os pregadores da confissão
positiva estão sempre fazendo um grande alarde sobre uma suposta distinção
entre estas duas palavras. Entretanto, há pouca diferença entre estes dois
termos no grego original. Seria como “enorme” e “imenso” no
português. Michael Horton esclarece:
Os ensinadores da fé inventavam uma falsa distinção de
significado entre essas duas palavras gregas. Rhema, dizem eles, é a
”palavra” que os crentes usam para “decretar” ou “declarar” a fim
de trazer prosperidade ou cura para esta dimensão. É o “abracadabra”.
Depois vem logos, ou “a palavra de revelação” que é a palavra
mística, direta, que Deus fala aos iniciados. O termo pode-se referir também à
Bíblia, mas é geralmente empregado no contexto de sonhos, visões e comunicações
particulares entre Deus e seu “agente”. Assim, quando alguém lê uma
referência na literatura do pregador da fé à “Palavra de Deus”, ou
“agir sobre a Palavra” e outras, o autor não está mais se referindo à
Palavra de Deus escrita, a Bíblia, mas, sim, ao seu próprio “decreto”
(rhema) ou uma palavra pessoal de Deus para ele (logos).21
Conversando no início de 1991 com
o Dr. Russell Shedd (uma das maiores autoridades em Novo Testamento, do Brasil)
sobre este assunto, ele comentou que o apóstolo Pedro não fez distinção entre
estes dois termos quando escreveu 1 Pedro 1:23-25:
v. 23: pois fostes regenerados,
não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra (logos) de
Deus, a qual vive e é permanente. v. 24: Pois toda a carne é como a erva, e
toda a sua glória como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; v. 25:
a palavra (rhema) do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a
palavra (rhema) que vos foi evangelizada.
Esta passagem é uma citação de Isaías 40:6-8. Na
Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento, o termo grego para
“palavra”, no versículo 8, é (rhema), ficando assim confirmada a
despreocupação de Pedro em usar tanto um termo quanto o outro como sinônimos.
O Evangelho da Saúde Perfeita
O ensino sobre cura divina da
confissão positiva é questionável à luz da Bíblia e tem causado muito
transtorno dentro da comunidade cristã. Além disso, muitos aspectos deste
ensino parecem estar mais relacionados com uma seita herética chamada Ciência
Cristã, fundada por Mary Baker Eddy, do que com a própria Bíblia.
Quero deixar bem claro que creio
no poder de Deus e que ele pode fazer hoje o que fez dois mil anos atrás. Não
sou contra a cura divina, pois também oro pelos enfermos e tenho visto, pela
misericórdia de Deus, muitas de minhas orações serem respondidas. Sou, sim,
contra os abusos que têm surgido em relação à cura, causando mais danos do que
bênçãos. Várias vezes tive a oportunidade de ver o Dr. Walter Martin, fundador
do ICP, orando pelos enfermos com imposição de mãos. Um dia, contou-nos que,
quando orava pelos enfermos, às vezes eles saravam, às vezes ficavam pior e às
vezes morriam. Mas nem por isso deixava de orar por eles. Nós oramos, e cabe a
Deus fazer a obra.
Usando o texto de Isaías 53:4, 5:
“Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores
levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas
ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas
iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados”, os pregadores da fé afirmam que a cura divina já
está totalmente garantida na expiação. (Esta passagem de Isaías seria citada
mais tarde em Mateus 8:14-17 e em 1 Pedro 2:24.)
O Pr. Jorge Tadeu declara que
“Deus promete curar todas as enfermidades”, citando Isaías 53:4, 5 e
1 Pedro 2:24. Ele vai um pouco mais além dizendo que “Deus promete partos
normais às senhoras”, citando Êxodo 23:26 e Deuteronômio 28:4.22 Espero
que as mulheres do movimento da fé que não puderem dar à luz através de um
parto normal não venham a carregar um sentimento de culpa por terem recorrido a
uma operação cesariana, pois não é disto que os textos mencionados estão
falando.
John Ankerberg e John Weldon
ajudam a elucidar o texto de Isaías 53:4, 5 com o seguinte comentário:
No hebraico a palavra “sarar” (em hebraico,
napha), pode-se referir à cura física ou à cura espiritual. O contexto deve
determinar se um dos sentidos ou ambos são empregados. Por exemplo, em 1 Pedro
2:24, Pedro se refere à cura espiritual (citando a Septuaginta), e em Mateus
8:17, Mateus se refere à cura física (citando o texto hebraico massorético)…
Pedro enfatiza o aspecto espiritual da expiação de Cristo (1 Pedro 2:24). Nada
se diz aqui sobre a cura física do crente. Por outro lado, Mateus realmente fala
da cura física (Mateus 8:17). Assim, Mateus está mostrando que, quando Jesus
curava, isto era um outro sinal da profecia messiânica cumprida. Mateus
concluiu que, ao curar muitas pessoas fisicamente, Jesus cumpria a profecia de
Isaías, provando assim o seu direito de declarar ser o Messias (veja Lucas
7.19-23).23
Não podemos esquecer também que,
quando Jesus curou a sogra de Pedro (Mateus 8:14-17), a expiação de Cristo
ainda não havia acontecido. Portanto, usar esta passagem para dizer que a cura
divina, total e perfeita, está garantida na expiação com base em Isaías 53:4, 5
é forçar o texto e não reflete uma boa exegese.
Deus
Cura Sempre e a Todos?
Dizer que a enfermidade é
conseqüência da falta de fé ou pecado na vida do crente constitui-se numa
falácia bíblica. Basta examinar as Escrituras para notarmos que verdadeiros
servos de Deus passaram privações e dificuldades em suas trajetórias a serviço
do Senhor.
Apesar de ter sido um grande
profeta de Deus e de ter tido um ministério marcado por muitos feitos
sobrenaturais, Eliseu morreu em conseqüência de sua enfermidade. Será que ele
não tinha fé ou estava em pecado? Muito pelo contrário, pois a Bíblia diz que
um soldado morto, após ser colocado na sepultura de Eliseu, tocou em seus ossos
e ressuscitou (2 Reis 13:14-21).
E o que dizer de Jó? Todo o
sofrimento pelo qual passou foi resultado de seus pecados ou de falta de fé?
Foi Deus, e não Satanás, quem provou Jó. Satanás não poderia ter tocado em Jó
sem a permissão de Deus, e, de fato, como mostra o texto bíblico, o inimigo foi
até mesmo limitado por Deus no seu ataque contra Jó (1:12). Que Deus estava
envolvido não há dúvida, pois Jó 1:16 relata que fogo de Deus caiu do céu
destruindo parte do seu rebanho e de seus empregados. Como afirma McConnell: “Satanás
foi o agente dos sofrimentos de Jó, mas Deus foi sua fonte principal” (A
Different Gospel, p. 162).
O próprio Deus dá testemunho da
integridade de Jó, de sua sinceridade e temor ao Senhor. Foi em meio às grandes
provações que Jó deu profundas lições de fé, como está registrado em 13:15:
“Ainda que ele me mate, nele esperarei” (ed. Rev. e Corrigida). Há
muitas pessoas que estão dispostas a crer em Deus em troca de um belo carro,
mansão e outros bens materiais. Poucas estão dispostas a crer nele em meio às
adversidades.
O apóstolo Paulo escreveu a
Timóteo aconselhando-o a tomar um pouco de vinho devido às freqüentes
enfermidades de seu estômago (1 Timóteo 5:23). Em outra carta, Paulo informa
ter deixado Trófimo doente em Mileto (2 Timóteo 4:20). Paulo fala ainda de um
problema pessoal acerca do qual orou a Deus três vezes para que o livrasse
dele, e a resposta do Senhor foi: “A minha graça te basta, porque o poder
se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Coríntios 12:7-10).
Tem havido várias especulações
sobre o que seria o espinho na carne do apóstolo Paulo. Alguns estudiosos do
Novo Testamento chegam a sugerir que talvez Paulo tivesse um problema nos
olhos, pois escreveu aos gálatas: “… se possível fora, teríeis arrancado
os vossos próprios olhos para mos dar”, e ainda: “Vede com que letras
grandes vos escrevi de meu próprio punho” (Gaiatas 4:15; 6:11).
Um outro episódio na vida de Paulo reforça ainda mais esta
posição.
Depois de ser
ferido na boca por ordem do sumo sacerdote Ananias, Paulo lhe disse: “Deus
há de ferir-te, parede branqueada; tu estás aí sentado para julgar-me segundo a
lei, e contra a lei mandas agredir-me? Os que estavam a seu lado disseram:
Estás injuriando o sumo sacerdote de Deus? Respondeu Paulo: Não sabia, irmãos,
que ele é sumo sacerdote; porque está escrito: Não falarás mal de uma
autoridade do teu povo” (Atos 23:3-5). Nota-se nesta passagem que Paulo
não foi capaz de reconhecer o sumo sacerdote bem à sua frente, talvez por causa
de um problema nos olhos.
Valnice Milhomens já tentou
explicar em seu programa na TV Bandeirantes (no sábado, dia 30.11.91) o espinho
na carne de Paulo, dizendo que este se referia aos sofrimentos descritos em 2
Coríntios 11:2333, os quais ele enfrentava pregando o evangelho. Apesar das
muitas especulações, o que seria o espinho na carne de Paulo ninguém sabe ao
certo. De uma coisa, porém, sabemos: a resposta do Senhor a Paulo não foi
exatamente a que o apóstolo esperava.
Nesse mesmo programa, Valnice fez
referência ao conselho de Paulo a Timóteo para que tomasse um pouco de vinho
devido a suas freqüentes enfermidades do estômago (1 Timóteo 5:23). Valnice
declarou que o fato de Timóteo ser doente do estômago não sugere que nós também
tenhamos de ser. Nisto ela está certa. Entretanto, Valnice falha em observar
que Paulo não falou em confissão positiva a Timóteo, nem recomendou-lhe que
confessasse, declarasse, decretasse, exigisse sua cura ou que ignorasse os
sintomas da enfermidade. Paulo também não sugere que Timóteo estivesse sem fé
ou em pecado.
Muitos pregadores da confissão
positiva declaram que toda enfermidade procede do diabo. Jorge Tadeu afirma:
Deus só pode dar o que Ele tem.
Para Deus lhe dar uma doença teria que pedi-la emprestada ao diabo, o que é uma
idéia absurda.24
Absurdo também é o pastor Jorge
Tadeu ensinar exatamente o contrário do que diz a Bíblia. Por acaso Deus teve
que tomar a lepra emprestada do diabo para colocá-la em Miriã? A lepra de Miriã
foi provocada por Deus (Números 12:10). Veja outros exemplos:
Respondeu-lhe o SENHOR: Quem fez
a boca do homem? ou quem faz o mudo ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou
eu, o SENHOR? (Êxodo 4:11).
O SENHOR feriu ao rei, e este
ficou leproso até ao dia da sua morte, e habitava numa casa separada (2 Reis
15:5).
Então Uzias se indignou; e tinha o incensário na mão para
queimar incenso; indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe
saiu na testa perante os sacerdotes, na casa do SENHOR, junto ao altar do
incenso (…) e apressadamente o lançaram fora; até ele mesmo se deu pressa a
sair, visto que o SENHOR o ferira (2 Crônicas 26:19, 20).
Tragédias
Como afirmamos anteriormente,
esta doutrina tem causado muitos danos. Trata-se também de um ensino que tem
levado até pessoas à morte, como veremos a seguir. Há nos Estados Unidos um
livro intitulado We Lei Our Son Die (Deixamos Nosso Filho Morrer, publicado
pela Harvest House, 1980), que relata o drama de Wesley Parker, diabético,
dependendo assim da insulina para sobreviver. Depois de receber oração para ser
curado, seus pais não permitiram mais que tomasse a insulina, o que provocou a
sua morte em 23 de agosto de 1973. Com isso, seus pais tiveram que responder à
justiça norte-americana.
O exemplo de Hobart Freeman é ainda mais triste. Ex-batista,
Freeman começou uma pequena igreja em
Winona Lake, no Estado de Indiana, em 1963. Em 1966, ele e outros membros de
sua igreja receberam o “batismo com o Espírito Santo”, o que o
afastou muito de sua formação batista. A partir de 1978, Freeman começou a
chamar a atenção até da mídia devido às mortes de crianças de sua igreja que
foram proibidas de receber tratamento médico.25
Bruce Barron informa, ainda, no seu livro The Health and
Wealth
Gospel (O Evangelho da Saúde e da Riqueza)
que Freeman promovia também a prosperidade financeira. Em 1972, numa igreja em
Seattle, quando falava sobre seu Cadillac novo, declarou: “Meu Pai não
está no negócio de carros usados”.26
Os ensinos de Freeman sobre a cura não surtiram efeitos
para si próprio. Desde a infância ele sofria de poliomielite (paralisia
infantil), o que o obrigava a usar um sapato especial para ajudar sua perna
direita, algo que ele jamais conseguiu explicar às pessoas que o cercavam. O
próprio neto de Freeman, recém-nascido, morreu de problemas respiratórios em
fevereiro de 1980, provocando muita confusão dentro de seu ministério. Até o
fim de 1984, o número de mortes documentadas e desnecessárias já havia chegado
a 90. Tudo porque seus ensinos sobre a fé e cura divina excluíam os médicos e a
medicina.23
O ministério das igrejas Maná,
liderado pelo pastor Jorge Tadeu, não tem escapado das críticas da imprensa em
Portugal. O jornal Tal & Qual, na edição de 30 de agosto a 5 de setembro de
1991, faz uma séria denúncia, na primeira página, sobre as circunstâncias que
levaram ao falecimento do pequeno Nelson Marta, de oito anos, ocorrido em 13 de
maio de 1991. “Mas que Grande Seita! Deixem de tomar remédios! — aconselha
a seita religiosa Maná. Mas a morte de uma criança acaba de pôr em causa o
insólito ‘mandamento'”.
O jornal conta que “o garoto
era paralítico de nascença e sofria de problemas respiratórios e pulmonares. A
mãe, Margarida Maria Pita Marta, aproveitou a ausência do marido, emigrado na
Suíça, para se converter à Igreja Maná, esperançada em que o filho iria ficar
melhor. Os medicamentos foram retirados à criança — que acabaria por sucumbir
algum tempo depois no Hospital Distrital de Beja”.
Veja ainda o drama vivido por
Maria de Ascenção Dias, moradora no bairro da Cruz Vermelha, em Alcoitão,
também em Portugal. No dia 9 de setembro de 1990, sua filha única, Vanda, de 14
anos de idade, sofreu um grave acidente de moto e foi internada em estado de
coma no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa. Depois que os médicos
disseram a Maria da Ascenção Dias que não podiam fazer mais nada por sua filha,
ela dirigiu-se à Igreja Maná em busca de uma solução, exatamente em 13 de
setembro de 1990, dia em que a igreja comemorava sua festa anual. Maria A. Dias
falou com o pastor Jorge Tadeu sobre a razão de seu desespero e ouviu dele
estas palavras: “Os médicos enganaram-se. A menina está curada. Os médicos
têm a ciência, mas Deus tem a cura. A sua filha está viva e salva, e dentro de
poucos dias volta para a casa. Isto para mim é canja” (Jornal Tal & Qual,
20 a 26 de setembro, 1991, p. 12).
Maria saiu jubilante da igreja.
Dividia agora o seu tempo entre visitas ao hospital e as atividades da Igreja
Maná, tornando-se uma crente muito dedicada. Mas o inevitável acabou
acontecendo. No dia 27 de setembro, foi informada de que sua filha Vanda havia
morrido. Seu mundo ruiu. Passou a dormir sob o efeito de drogas, a ter
tendências suicidas e foi preciso ser internada num hospital para tratamento
psiquiátrico. Até hoje ainda não se recuperou a contento do golpe que sofreu. O
jornal procurou o pastor Jorge Tadeu para informar sobre o incidente, mas não
foi possível contatá-lo.
Os casos mencionados acima são apenas alguns dos muitos que
têm sido provocados pela confissão positiva, trazendo confusão e dor às suas
vítimas. Um fato já comprovado é que existe uma enfermidade da qual ninguém se
recupera: a última.
A Oração da Fé e a Soberania de Deus
A soberania de Deus é a doutrina
que afirma que Deus é supremo, tanto em governo quanto em autoridade sobre
todas as coisas. Nos círculos dos “ensinos da fé”, ela não é levada
muito a sério. Verbos como exigir, decretar, determinar, reivindicar
freqüentemente substituem os verbos pedir, rogar, suplicar etc. Ao comentar
João 14:13, 14, que diz: “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei,
a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma cousa em
meu nome, eu o farei”, Kenneth Hagin afirma:
A palavra “pedir” também significa
“exigir”. “E tudo quanto exigirdes em Meu nome, isso [Eu, Jesus]
farei”. Um exemplo disto é registrado no terceiro capítulo de Atos, quando
Pedro e João estavam à Porta Formosa. Já demonstramos que Pedro sabia que tinha
algo para dar quando disse ao aleijado: “Não possuo nem prata nem ouro,
mas o que tenho, isso te dou”. Então Pedro disse: “Em nome de Jesus
Cristo, o Nazareno, anda!” Pediu, ou exigiu, que o homem se levantasse em
nome de Jesus.27
No Novo Testamento grego, o verbo “pedir”, que
aparece em João
14:13, 14 é
aiteo. De acordo com W. E. Vine, aiteo sugere a atitude de um suplicante, uma
petição de alguém que está em posição menor que a daquele a quem é feita a
petição, como em Mateus 7:11 (uma criança pedindo a seu pai) e Atos 12:20
(vassalos fazendo um pedido ao rei). Este verbo aparece muitas vezes nas
epístolas, como em Efésios 3:20; Colossenses 1:9, Tiago 1:5, 6; 1 João 5:14,
15. Em todas estas passagens seria impossível substituir o verbo
“pedir” por “exigir”.
Outro verbo usado no grego para
pedir é erotao. Vine diz que o seu uso sugere que o suplicante está no mesmo pé
de igualdade ou familiaridade com a pessoa a quem é feito o pedido. E usado,
por exemplo, para um rei fazendo um pedido a um outro rei (Lucas 14:32). Vine
continua:
…É significativo que o Senhor Jesus nunca usou aiteo no
sentido de fazer um pedido ao Pai. “A consciência de sua igual dignidade,
de sua intercessão potente e vitoriosa, é demonstrada nisto, que sempre que Ele
pede, ou declara que Ele pedirá qualquer coisa ao Pai, sempre usa erotao, isto
é, um pedido em termos de igualdade, João 14:16; 16:26; 17:9, 15, 20; e nunca
aiteo”.28
Em Atos 3 (citado por Hagin,
acima), o paralítico era colocado diariamente à porta do templo, chamada
Formosa, para pedir esmola. Novamente, o verbo “pedir” desta passagem
no grego do Novo Testamento é aiteo (v. 2). Estaria então o paralítico exigindo
uma esmola das pessoas? Ora, esmola não se exige, pede-se, e com muita
humildade.
Em seu livro, O Direito de Desfrutar Saúde, R. R. Soares
declara:
Usar a frase “se for a Tua vontade” em oração
pode parecer espiritual, e demonstrar atitude piedosa de quem é submisso à
vontade do Senhor, mas além de não adiantar nada, destrói a própria oração.29
Qualquer pessoa que examinar com cuidado os Evangelhos,
perceberá que a tônica da vida e do ministério do Senhor Jesus era fazer a
vontade do Pai. Examine, por exemplo, João 4:34; 5:30; 6:38; 7:17. Quando
ensinou seus discípulos a orar, Jesus incluiu na oração: “Faça-se a tua
vontade, assim na terra como no céu”. Será que Jesus estava errado? A
conclusão óbvia é que não. Não tenho qualquer problema em dizer, ao orar:
“se for a tua vontade”, pois isto me coloca em boa companhia. Jesus
orou assim no Getsêmani: “Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este
cálice; contudo, não seja o que eu quero, e, sim, o que tu queres” (Marcos
14:36). E novamente: “Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice
sem que eu o beba, faça-se a tua vontade” (Mateus 26:42). João escreveu
ainda: “se pedirmos alguma cousa segundo a sua vontade, ele nos ouve”
(1 João 5:14).
A Soberania de Deus nos Ensinos de Paul Yonggi
Cho
Paul Yonggi Cho, um dos maiores
líderes evangélicos do mundo hoje, pastor e fundador da Igreja Central do
Evangelho Pleno, em Seul, na Coréia (a maior do mundo), afirma em seu livro A
Quarta Dimensão que o subconsciente é o nosso espírito e que a quarta dimensão
é o mundo espiritual (pp. 41-43). O mundo espiritual está sempre afetando o
mundo físico (terceira dimensão) e se nós conseguirmos, através de nosso
subconsciente, afetar o mundo espiritual, poderemos assim transformar as
circunstâncias do mundo físico em nosso favor. Além disso, Paul Yonggi Cho
ensina uma lei da fé chamada incubação, que inclui visualizações, isto é, uma
imagem mental direcionada a um alvo desejado. Assim, se temos o desejo de
receber algo de Deus, devemos ficar “grávidos” do que desejamos até
que o recebamos (pp. 17-38).
A Bíblia fala de visão e não de
visualização. A visão é produzida por Deus, enquanto a visualização é
psicologicamente induzida, sendo produto da ativação subjetiva da imaginação
pela vontade humana. Um dos perigos da visualização é que tal prática não leva
em conta a natureza caída do ser humano. A visualização pode também abrir
brechas para atividades demoníacas na vida de alguém. Vários homens e mulheres
tiveram visões na Bíblia. Tais visões foram experiências sobrenaturais sempre
controladas por Deus, e não pela vontade humana, e tinham o fim de
comunicar-lhes os desígnios divinos.
Outro conceito contido no livro é
o do poder criativo da palavra falada (p. 67); nossa palavra seria, assim, o
material que o Espírito Santo usa para criar (p. 69). Observe esta frase:
“Falamos a língua do Espírito Santo. Criamos. Aleluia!” (p. 56).
Entretanto, onde ensina a Bíblia tais coisas? Em toda a Bíblia, somente Deus
tem poder para criar e ninguém mais. Certamente que conceitos como incubação,
visualização, poder criativo e outros são alheios à Bíblia Sagrada.
Quanto à oração, Cho relata que,
certa vez, pediu ao Senhor uma escrivaninha, uma cadeira e uma bicicleta e não
as recebeu. Depois Deus lhe disse por que não podia responder à sua oração: ele
não havia especificado seus pedidos ao Senhor. Veja como Deus lhe respondeu:
Sim, esse é o seu problema, o problema de todos os meus
outros filhos. Imploram exigindo todo o tipo de coisas, mas o fazem com termos
tão vagos que não posso responder. Será que você não sabe que há dezenas de
tipos de escrivaninhas, cadeiras e bicicletas? Mas você simplesmente pediu-me
uma escrivaninha, uma cadeira e uma bicicleta. Não pediu uma escrivaninha
específica, nem uma cadeira nem uma bicicleta específicas.30
Depois de pedir perdão a Deus por
não haver especificado seus pedidos, Cho disse então a Deus que queria uma
escrivaninha feita de mogno das Filipinas, uma cadeira de aço com rodinhas e
uma bicicleta fabricada nos Estados Unidos, com algumas marchas. Ele acrescenta
ainda:
Encomendei estas coisas em termos tão específicos que Deus
não poderia cometer erro algum em entregá-las. Então realmente senti a fé fluir
do coração e regozijei-me no Senhor.31
Há sérios problemas com este
relato de Paul Yonggi Cho, quando examinado à luz das Escrituras. Primeiro,
Deus não lhe podia responder porque não sabia os detalhes dos objetos
solicitados por Cho. Dá a impressão de que Deus sentiu aliviado depois que as
especificações foram feitas, possibilitando-Lhe finalmente responder à oração
do pastor. Ora, isto agride de imediato um dos atributos de Deus, a
onisciência, muito bem demonstrada no Salmo 139. A Bíblia diz: “Porventura
quem repreende as nações, não há de punir? aquele que aos homens dá
conhecimento?” (Salmo 94:10). E ainda: “Que perversidade a vossa!
Como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: Ele
não me fez; e a cousa feita dissesse do seu oleiro: Ele nada sabe” (Isaías
29:16). Veja ainda o que Jesus disse no Sermão do Monte: “Não vos
assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes
necessidade, antes que lho peçais” (Mateus 6:8). No caso de Paul Yonggi
Cho, Deus não sabia, uma posição que entra em conflito com a Palavra de Deus.
Graças a Deus porque, apesar da nossa ignorância e
imperfeição, o
Espírito Santo
nos ajuda na oração, como diz a Escritura: “Também o Espírito,
semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como
convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos
inexprimíveis” (Romanos 8:26). Ouçamos ainda as palavras do rei Davi sobre
a onisciência de Deus: “Sabes quando me assento e quando me levanto; de
longe penetras os meus pensamentos. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar, e
conheces todos os meus caminhos. Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu,
SENHOR, já a conheces toda” (Salmo 139:2-4). Diante dessas passagens, não
precisamos temer, como Paul Yonggi Cho, que Deus cometa algum erro ao entregar
nossos pedidos. O Deus que se revela na Bíblia é onisciente, onipresente e
onipotente, sendo, portanto, impossível ele errar.
Creio que qualquer crente tem
toda a liberdade de especificar seus pedidos quando ora a Deus, compartilhando
com ele seus desejos e aspirações nos mínimos detalhes. Isto, porém, não
garante que Deus vá responder tudo exatamente como pedimos. Ele sabe o que é
melhor para nós mais do que nós mesmos. Se Deus respondesse todas as nossas
orações, seria uma tragédia. Creio que foi a esposa de Billy Graham quem disse
certa vez: “Se Deus tivesse respondido todas as minhas orações, eu teria
me casado com o homem errado”. Tiago escreveu: “pedis, e não
recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tiago 4.3)
Estava ensinando sobre isso numa
igreja quando um irmão me disse que pediu uma esposa ao Senhor, tomando todo o
cuidado de especificar suas preferências ao orar. Pediu alta, veio baixa, pediu
loira, veio morena, tudo ao contrário. O melhor de tudo é que o irmão está
muito feliz com a esposa que o Senhor lhe deu. Novamente, não sou contra o
cristão especificar seus pedidos na oração. O que não concordo é em afirmar que
só assim Deus responde às nossas petições, transformando isto numa regra a ser
seguida rigidamente, tanto por nós que oramos quanto pelo Senhor que responde à
oração. A afirmação de que só assim Deus responde às orações não encontra base
nas Escrituras.
Por incrível que pareça, a Bíblia
mostra que nem sempre Deus responde a todas as orações, sendo Moisés um exemplo
muito vivido disto. A Escritura diz: “Falava o SENHOR a Moisés face a
face, como qualquer fala a seu amigo” (Êxodo 33:11), e ainda: “Boca a
boca falo com ele, claramente, e não por enigmas; pois ele vê a forma do
SENHOR” (Números 12:8). Foi absolutamente fantástico o relacionamento que
este homem teve com Deus, porém, apesar disso, quando rogou fervorosamente a
Deus que lhe permitisse entrar na boa terra dalém do Jordão, o Senhor não o
atendeu (Deuteronômio 3:23-27). Paulo também orou três vezes ao Senhor sobre o
seu espinho na carne e Deus não respondeu como o apóstolo pediu. Mas Deus lhe
deu uma coisa melhor, isto é, graça para servir a Deus vitoriosamente, mesmo em
fraquezas (2 Coríntios 12:7-10).
Ao fazer alguns ligeiros comentários sobre o livro A Quarta
Dimensão não pretendemos, de forma alguma, desabonar a pessoa e os motivos de
Paul Yonggi Cho. Creio ser ele um homem de Deus que tem trazido muitas almas
para o seu reino. Não questionamos o seu caráter, mas, sim, alguns aspectos de
seus ensinos.
A Prosperidade: Uma Avaliação Bíblica
Os pregadores da confissão
positiva vão muito além da Bíblia quando afirmam que a prosperidade financeira
é uma das marcas da fidelidade de um cristão a Deus. Chegam a dizer que Jesus
usava roupa de griffe, que morava numa grande casa e que liderava um ministério
com muito dinheiro, a ponto de ter um tesoureiro. Observe algumas de suas
declarações sobre este assunto:
…Filho de Deus, Jesus não andou
em pobreza. Leia cuidadosamente a alimentação dos cinco mil. Quando eles viram
os cinco mil, literalmente disseram isto. Agora, eu sei o que os teólogos farão
com isso, mas eu não estou tentando impressionar os teólogos. Estou tentando
impressionar pessoas que querem saber o que a Palavra de Deus diz. Estou
tentando colocar alguma verdade em seu espírito. E você lê a narrativa, e ela
literalmente diz: o discípulo disse: “Compraremos comida e alimentaremos
todos estes? E eles disseram: ‘Duzentos dinheiros seriam necessários para alimentar
a todos. Iremos nós comprar a comida?'” Eles tinham o dinheiro na bolsa
para alimentar cinco mil, mais as mulheres e crianças. Estou lhe dizendo, Jesus
não liderou um ministério de pobreza (John Avanzíni, gravado em 14.12.91, no
programa Believer’s Voice of Victory).
Jesus estava administrando muito
dinheiro, pois o tesoureiro que ele tinha era um ladrão. Agora, você não vai me
dizer que um ministério com um tesoureiro ladrão pode operar apenas com poucos
centavos. Era necessário muito dinheiro para operar aquele ministério, pois
Judas estava roubando da bolsa (John Avanzini, gravado em 15.7.1988, no
programa Praise The Lord, da Trinity Broadcasting Network).
João 19 nos diz que Jesus usava
roupas de griffe… A túnica era sem costura, tecida de cima até embaixo. Era o
tipo de vestimenta que os reis e os mercadores ricos usavam (John Avanzini,
gravado em 20.1.1991, no programa de Kenneth Copeland).
Não ore mais por dinheiro…
Exija tudo o que precisar (Kenneth Hagin citando Jesus, How God Taught Me about
Prosperity, p. 17).
Jesus disse: “Tenho dito ao
meu povo que ele pode ter o que diz, mas meu povo está dizendo o que tem”
(Charles Capps, God’s Creative Power Will Work for You, p. 26).
Deus quer que seus filhos usem a
melhor roupa. Ele quer que eles dirijam os melhores carros e quer que eles
tenham o melhor de tudo… simplesmente exija o que você precisa (Kenneth
Hagin, New Thresholds of Faith, 1985, p. 55).
… Esta Bíblia é um livro de
prosperidade!… A única vez em que as pessoas foram pobres na Bíblia foi
quando elas estiveram sob uma maldição. E a única razão de terem estado sob
maldição é porque não ouviram e não fizeram o que Deus lhes dissera que
fizessem (Robert Tilton, gravado em 27.12.1990).
A Palavra de Deus jamais tratou
os pobres com desdém, como se fossem amaldiçoados. Ao contrário, a preocupação
de Deus para com o pobre é clara em toda a Escritura: “Pois nunca deixará
de haver pobres na terra: por isso eu te ordeno: Livremente abrirás a tua mão
para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na terra” (Deuteronômio
15:11). Isso foi endossado pelo Senhor Jesus, ao afirmar: “Porque os
pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes
bem” (Marcos 14:7); e por Paulo também: “Ou menosprezais a igreja de
Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto
certamente não vos louvo” (1 Coríntios 11:22). “recomendando-nos
somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por
fazer” (Gálatas 2:10).
Quando Jesus foi apresentado no
templo, seus pais levaram ao sacerdote a oferta do pobre: “e para oferecer
um sacrifício, segundo o que está escrito na referida lei: Um par de rolas ou
dois pombinhos” (Lucas 2:24, de acordo com Levítico 12:8). A situação
financeira de José e Maria não indica, de modo nenhum, que estivessem sob algum
tipo de maldição.
Certa vez, perguntado se era
lícito pagar tributo a César, Jesus respondeu: “Por que me experimentais?
Trazei-me um denário, para que eu o veja” (Marcos 12:14-16). Foi
necessário que alguém lhe trouxesse uma moeda para que Jesus pudesse vê-la, o
que indica que o Mestre não tinha consigo uma moeda. Ele mesmo afirmou numa
outra ocasião não ter onde reclinar a cabeça (Lucas 9:58).
Kenneth Hagin
acrescenta:
Muitos crentes confundem humildade com pobreza. Um pregador
certa vez me disse que fulano possuía humildade, porque andava num carro muito
velho. Repliquei: “Isso não é ser humilde — isto é ser ignorante”. A
idéia que o pregador tinha de humildade era a de dirigir um carro velho. Um
outro observou: “Sabe, Jesus e os discípulos nunca andaram num
Cadillac”. Não havia Cadillac naquela época. Mas Jesus andou num jumento.
Era o “Cadillac” da época — o melhor meio de transporte existente.32
Concordo com Hagin que humildade
e pobreza não são a mesma coisa. Entretanto, ele se esqueceu de que a
carruagem, e não o jumento, era o “Cadillac” da época. Além disso,
ele se esqueceu também de que o jumento fora emprestado. Tal fato não prova, de
maneira alguma, que Jesus vivesse uma vida de luxo.
Outro incidente de extrema
importância para nossa análise encontra-se no livro de Atos. Quando Pedro e
João chegaram à porta do templo, chamada Formosa, um coxo pediu-lhes uma
esmola. Pedro disse ao paralítico: “Não possuo nem prata nem ouro, mas o
que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (Atos
3:1-8), e o homem foi curado. Naturalmente Pedro e João não estavam debaixo de
qualquer maldição, em pecado ou sem fé, só porque não tinham prata nem ouro.
Eles tinham algo melhor, a graça e o poder de Deus.
Jesus mesmo nos exortou a buscar
primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas nos seriam
acrescentadas (Mateus 6:33). Parte do Sermão do Monte tratou exatamente disto:
da ansiedade, da preocupação exagerada pela sobrevivência e pelos cuidados
materiais. Jesus ensinou que não nos desesperássemos, mas que colocássemos
nossa confiança em Deus. Se ele sabe cuidar dos pássaros e dos lírios do campo,
cuidará melhor ainda de nós, seus filhos, feitos a sua imagem e semelhança. Há
muitas outras passagens da Bíblia que poderiam ser citadas aqui no tocante ao
assunto. Vamos encerrar esta seção com apenas mais uma: Hebreus 11.
Este é, de fato, um dos textos
favoritos dos pregadores da confissão positiva. Trata-se da galeria dos heróis
da fé. Não deixam de enfatizar o valor da fé e de como ela levou os servos de
Deus, na Bíblia, a grandes vitórias e fantásticas proezas. Começando com Abel,
do versículo 4 até o 35, há uma lista de homens e mulheres que triunfaram pela
fé. A partir do versículo 35 até o 38, vemos um segundo grupo de pessoas que,
pela fé, passaram por sofrimentos atrozes: “Alguns foram torturados, não
aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por sua vez,
passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões.
Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos ao fio da espada;
andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados,
afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos
desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra”.
O primeiro grupo, no capítulo 11
de Hebreus, triunfou pela fé. O segundo grupo sofreu terrivelmente pela fé.
Será que o primeiro grupo tinha mais fé que o segundo? Obviamente a resposta é
não. Creio ser necessário ter muito mais fé para sofrer pelo evangelho do que
para desfrutar de suas bênçãos. Além disso, quando a Bíblia diz: “dos
quais o mundo não era digno” (v. 38) está-se referindo ao segundo grupo, e
não ao primeiro. Os ensinadores da Prosperidade evitam sempre comentar sobre o
final do capítulo 11 de Hebreus.
O Rev. Caio Fábio foi muito feliz
ao fazer a seguinte declaração, num de seus livros mais recentes:
À medida que se parte para a ênfase do ter, perde-se o ser.
Isso porque a fé cristã é uma fé baseada totalmente no ser. Em Hebreus 11:1-40
temos um texto que afirma a fé. Do v.1 ao 35 se fala daqueles que foram (ser) e
tiveram (possuir, conquistar), como Abraão, que foi e teve… No entanto, já do
v.35 em diante fala-se daqueles que foram e não tiveram… Vejo os irmãos
adeptos da teologia da prosperidade afirmando o ter. Peço então a eles que
leiam Hebreus 11, tentando mostrar-lhes que a fé profunda, genuína, nem sempre
é a fé que garante o ter, mas é sempre fé que garante o ser. O interessante é
que do 35 em diante é que se fala dos homens dos quais “o mundo não era
digno”… Não estou dizendo com isto que não possamos ter. Ao contrário, o
próprio texto de Hebreus mostra que é possível e é bom ser e ter. No entanto,
quando a busca do ter é o alvo da vida, o ser se desvanece.33
Joni Eareckson Tada alcançou fama
mundial depois de sofrer um trágico acidente. Em conseqüência dele, teve de
aprender a viver numa cadeira de rodas e a pintar usando a boca. Tive o privilégio
de conhecê-la pessoalmente na cidade de Amsterdã. A maior contribuição que Joni
tem dado ao mundo é o seu testemunho de fé. Diz ela sobre o materialismo e o
cristão: “A essência do Evangelho não é a saúde nem a prosperidade nem a
felicidade, mas a submissão a Cristo”.34 Infelizmente, a
confissão positiva prepara seus adeptos para a prosperidade e se esquece de
prepará-los para as adversidades da vida, que poderão vir, na maioria das
vezes, de forma inesperada.
Não há dúvida, à luz da Bíblia,
de que a prosperidade financeira na vida do cristão é uma verdadeira bênção.
Não precisamos vasculhar a Palavra de Deus em busca de homens que serviram
fielmente a Deus e que foram prósperos financeiramente. Ao falar sobre este
assunto, nomes como o de Abraão, Davi, Salomão e Jó nos vêm imediatamente à
mente. A Bíblia está cheia de promessas de Deus em relação à prosperidade
material de seus filhos. Mesmo a história das missões da Igreja tem sido
marcada pelo sucesso, muitas vezes, devido às contribuições de grandes somas em
dinheiro feitas por cristãos abastados. Sem dúvida, isto é uma bênção.
Um dos nomes de Deus na Bíblia é
Jeová Jiré, que significa “o Senhor proverá”. Deus de fato supre a
nossa necessidade e tenho experimentado isto pessoalmente, até mesmo de forma
inesperada e milagrosa. A Bíblia diz que o amor ao dinheiro é a raíz de todo o
mal (1 Timóteo 6:10), e não o dinheiro em si. Já ouvi alguém dizer que o
dinheiro pode ser tanto um péssimo patrão quanto um bom empregado.
Devemos buscar a Deus muito mais pelo que ele é do que por
aquilo que ele pode nos dar. Devemos também buscar e estar abertos para receber
tudo o que ele tem para nos dar, sejam bênçãos espirituais, sejam materiais.
Entretanto, não é isto o que se passa dentro do movimento da fé, em que há uma
onda de ganância, de materialismo, de desfrutar tudo aqui e agora. Isto leva a
pessoa a buscar muito mais a mão de Deus do que a sua face. Hendrik Hanegraaíl
resumiu tudo isto muito bem quando afirmou: “Muitos são atraídos para a
mesa do Mestre não para ter comunhão e intimidade com ele, mas para desfrutar
do que está sobre ela”.35
A Bíblia nos mostra o profeta
Habacuque como um grande exemplo de firmeza e confiança em Deus, ainda que as
circunstâncias não sejam favoráveis. Ele declara: “Ainda que a figueira
não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos
não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco e nos currais
não haja gado, todavia eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação”
(Habacuque 3:17, 18).
Seria muito oportuno citar aqui
as palavras de Charles R. Swindoll, pastor da Primeira Igreja Evangélica Livre
de Fullerton, Califórnia, EUA: Falando de forma geral, há dois tipos de testes
na vida: a adversidade e a prosperidade. Dos dois, o último é o mais difícil.
Quando a adversidade chega, as coisas se tornam simples; o alvo é a
sobrevivência. E o teste de manter o básico, como comida, roupa e moradia. Mas
quando a prosperidade chega, cuidado! As coisas se complicam. Todos os tipos de
tentações sutis chegam também, exigindo satisfação. E em tal circunstância que
a integridade da pessoa é colocada à prova.36