Após as destruições de Jerusalém e do Templo pelos romanos em 70 d.C., e da queda de Massada em 73 d.C., seguidas pela repressão do levante de Bar Kokhba em 135 d.C., a população judaica remanescente fugiu da Judéia para a Galiléia. Foi nessa região que, no final do século II, floresceram várias aldeias judaicas importantes, entre elas Merom. Localizada nas colinas orientais aos pés do monte Merom, a montanha mais alta de Israel com 1.098 metros de altitude, a cidade se beneficiava de um clima com chuvas abundantes e terras férteis para a agricultura.
Na direção nordeste de Merom, havia extensas terras cultivadas com azeitonas, figos e tâmaras, culturas que prosperavam graças à qualidade do solo e do clima. Nos séculos seguintes, seus habitantes transformaram a paisagem em terraços agrícolas, construíram canais de irrigação, ruas pavimentadas e cisternas para armazenar água. Os assentamentos foram expandidos até o cume do monte, onde foi construída a maior sinagoga da Galiléia, tornando Merom um importante centro religioso e comunitário.
Merom se destacou também como um centro intelectual e religioso, onde vários sábios estudavam profundamente as Escrituras. Em cooperação com outros estudiosos da região, produziram o Talmude palestino, uma compilação de discussões legais que detalhavam as normas da vida diária judaica, complementando o Talmude babilônico. Segundo a tradição judaica, foi também em Merom que o rabino Simão ben Yochai recompilou o Zohar, a obra fundamental do misticismo judaico, conhecido como a Cabala.
Apesar de sua importância, Merom foi abandonada por razões desconhecidas no ano 360 d.C. As escavações realizadas entre 1971 e 1975 por Eric e Carol Myers, da Duke University, revelaram vestígios impressionantes da cidade antiga. No cume do monte Merom, desenterraram a grande sinagoga do século III, com dois terços da fachada ainda de pé até os umbrais das portas. Também encontraram uma torre retangular preservada em alguns pontos até quase seis metros de altura.
Nas áreas residenciais foram escavados edifícios usados para a indústria doméstica, incluindo salas que parecem ter funcionado como escritórios ou áreas de espera. Em uma dessas salas, havia uma mesa de pedra e uma plataforma semicircular usadas provavelmente para a fabricação de barris, essenciais para o comércio local de azeitonas e azeite. Outra sala revelou dezenove grandes talhas contendo cevada, nozes e grão-de-bico, preservados, embora carbonizados, indicando uma vida agrícola intensa.
Nas proximidades da sinagoga, em uma tumba contendo quase cem esqueletos, foram encontrados objetos como um tinteiro de cerâmica, possivelmente pertencente a um escriba, e uma grande chave metálica que poderia simbolizar a “porta do céu”. Merom ganhou ainda mais relevância religiosa ao se tornar o local de sepultamento de grandes sábios judeus como o rabino Simão ben Yochai, seu filho rabino Eleazar, o rabino Akiba, e os famosos rabinos Hillel e Shammai.
Em virtude desse legado, Merom tornou-se, uma vez por ano, no aniversário da morte do rabino Simão ben Yochai, um importante centro de peregrinação judaica, ficando atrás apenas de Jerusalém. Esse evento reforça o caráter sagrado da cidade, que foi crucial na preservação da fé e da cultura judaica após os períodos de repressão romana.
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