No nordeste da Síria, entre o Egito e a Assíria, existem vários montículos que por muito tempo foram mal interpretados. Alguns acreditavam que eram construções causadas por ataques dos hicsos nos séculos XVI e XV a.C., enquanto outros pensavam tratar-se de cidades árabes dos séculos VII e VIII d.C. O maior e mais impressionante desses montículos é o Tell Mardik, localizado a cerca de 48 km ao sul da moderna Alepo. Ele se eleva 15 metros sobre a planície e cobre uma área de 57 hectares.
Em 1964, o arqueólogo Paolo Matthiae, da Universidade de Roma, iniciou escavações em Tell Mardik, usando técnicas rigorosas e meticulosas. Escavaram fossas quadradas, semelhantes às usadas por Kathleen Kenyon em Jericó e Jerusalém, para explorar cuidadosamente o sítio. Nos primeiros anos, foram descobertas portas da cidade similares às encontradas em Gezer e Megido, e pequenos templos que lembravam os de Siquém, Megido e Hazor, datados entre 2000 e 1600 a.C. Em 1968, encontraram uma estátua real com inscrição dedicada a Ibbit-Lim, “senhor da cidade de Ebla, e à deusa Istar”. Foi então confirmado que Tell Mardik era a antiga metrópole do reino de Ebla, um vasto império semítico no norte da Síria.
Em 1973, iniciaram escavações na Ebla da Idade do Bronze Antigo (2400-2225 a.C.), revelando que a cidade era dividida em acrópole e cidade baixa. A acrópole tinha quatro complexos de edifícios, incluindo palácios e estábulos, enquanto a cidade baixa era protegida por quatro portas importantes. Em 1975, descobriram um grande palácio real de três andares, com um auditório ornamentado com colunas de pedra e madeira entalhada, decoradas com ouro e lápis-lazúli. Entre os achados estavam milhares de tabuinhas cuneiformes que documentavam negócios, educação e administração da cidade.
Foram encontradas cerca de 20 mil tabuinhas, muitas escritas em cuneiforme sumério e em um idioma semítico chamado paleocananeu, próximo do hebraico bíblico. Essas tabuinhas fornecem um vasto conhecimento sobre a economia, religião, comércio e leis do império de Ebla, além de listar nomes de lugares mencionados na Bíblia, como Jerusalém, Gaza, Láquis, Megido e outros. Algumas tabuinhas contêm histórias antigas da criação e do dilúvio que se assemelham muito às narrativas bíblicas, fornecendo um contexto histórico para a origem das tradições religiosas.
Ebla foi uma das maiores potências do Oriente Próximo no terceiro milênio a.C., controlando rotas comerciais desde o Sinai até a Mesopotâmia. Sua influência se estendia em comércio de grãos, madeira de cedro, metais, têxteis, prata e ouro. A cidade tinha um sistema administrativo complexo, com rei e rainha, profetas e uma dinastia organizada. Ebla foi destruída cerca de 1600 a.C. pelo rei acádio Naram-Sin, mas sua importância histórica permanece.
As escavações de Ebla trouxeram luz sobre uma antiga civilização que precedeu Israel em séculos, enriquecendo o entendimento histórico e arqueológico do Oriente Médio antigo. As descobertas em Tell Mardik conectam a história bíblica a evidências concretas, ajudando a compreender melhor a época e o ambiente em que se formaram as tradições do mundo mediterrâneo e do Antigo Testamento.
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