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São João do Sertão | Verso Cordel

São João do Sertão | Verso Cordel

 por: Ivaldo Fernandes

1
Senhores que estão presentes,
Venho agora declamar
Dos santos tão reverentes
Que vêm pra nos alegrar.
São João vem com seu mastro,
Com forró, milho e repasto.

2
Santo Antônio abre a festa,
Casamenteiro de fé.
Quem solteiro se manifesta
Pede um par no balancê.
Com promessa e oração,
Cria esperança no chão.

3
Depois chega São João,
Com fogueira e tradição.
No arraial do coração
Se acende a devoção.
Bandeirinha tremulando,
E balão iluminando.

4
As moças de chita vêm
Rodando os vestidos belos.
Os rapazes dizem "amém"
Com chapéus de caramelo.
A caipirada sorrindo,
Com dente preto e tinindo.

5
A quadrilha já começa
Com gritos de “anarriê”!
O sanfoneiro não cessa,
Faz todo mundo mexê.
Tem balancê e passeio,
E até cobra no meio!

6
A fogueira crepitando
No terreiro do sertão.
O milho já tá assando
Pro sabor do São João.
E o povo todo animado
Dança até ficar cansado.

7
Tem curau e tem canjica,
Tem pamonha e mungunzá.
Bolo quente que se estica
Com cheiro bom de fubá.
Tem arroz-doce fumando
E o quentão já tá chegando.

8
Pé-de-moleque e cuscuz,
Bolo de milho e melado.
Tem pipoca e suco de luz
E vinho quente encorpado.
Cada mesa bem servida,
Pra manter boa a comida.

9
Correio bem elegante
Traz bilhete apaixonado.
O menino se adianta
Pra saber se é bem-quistado.
É um jogo inocente,
Mas que mexe com a gente.

10
A noiva chega faceira
Com véu de pano de prato.
O noivo treme na beira
Temendo o tiro do ato.
O pai bravo se aproxima
E casa a filha na rima.

11
O padre é só brincadeira,
Com fala toda embolada.
Faz jura de vida inteira
Com voz meio engasgada.
E o povo grita contente:
“Agora beija, meu dente!”

12
As crianças se alegram
Na barraca e no brinquedo.
Na pescaria elas pegam
Prêmio bobo, sem segredo.
Tem argola e derrubada,
E maçã toda enfeitada.

13
Na praça tem leilão quente
De galinha e de pudim.
Com pregão bem eloquente,
Sai preço bom no fim.
E o dinheiro arrecadado
Vai pra igreja do lado.

14
Tem mastro de São João
Erguido com devoção.
O povo canta um refrão
Com forte entonação.
E o balão que sobe ao céu
Leva pedidos com fé e mel.

15
Sanfona, zabumba e triângulo,
Formam trio sem igual.
O salão vira espetáculo,
Num ritmo bem legal.
O forró vai até o dia,
Com suor e alegria.

16
As escolas dão o tom
Com festas organizadas.
Cada aluno vira um dom
Com roupas bem preparadas.
E os pais de olhos brilhando
Vão sorrindo e filmando.

17
Na cidade ou no sertão,
A cultura é preservada.
A gente sente emoção
Na tradição celebrada.
O São João é raiz
Dessa terra tão feliz.

18
No sertão mais profundo
Tem festa até no curral.
O vaqueiro vagabundo
Larga tudo no quintal.
Pra dançar no arrasta-pé
Com morena de chapéu.

19
Tem rifa de porco gordo,
Tem pau de sebo no meio.
O povo grita bem alto
Quando alguém sobe sem freio.
Cai no chão, mas vai de novo,
Entre o riso do povo.

20
Os cantadores de feira
Chegam pra improvisar.
Na viola verdadeira
Botam verso a tilintar.
Cantam o amor e a dor
Com cadência e com ardor.

21
No altar tem oração
E uma vela acesa vai.
Tem missa e procissão,
Que a tradição não cai.
Depois volta-se à festança
Com zabumba e esperança.

22
É a festa da colheita,
É a bênção sobre o grão.
É a terra tão refeita
Com suor e oração.
Junho é mês de fartura,
De alegria e de ternura.

23
Todo ano tem fogueira
Com mil votos pra queimar.
Cada chama é uma espera
Que o céu vem confirmar.
E o povo de fé profunda
Pede a chuva que inunda.

24
Mesmo o tempo passando
Essa festa nunca morre.
Vai de pai passando a filho
E do campo ao pé do morro.
Pois o São João do povo
Se renova sempre novo.

25
E com esta despedida
Eu encerro o meu papel.
Celebrei com voz sentida
A cultura do cordel.
Viva o povo nordestino,
Seu São João tão divino!


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