O Poder de Onze Vozes | Verso Cordel
por: Ivaldo Fernandes
1
Senhores, prestem atenção
No que venho relatar,
Pois no meio da nação
Algo estranho faz pensar.
2
Temos quinhentos e três
Deputados a eleger,
Mais oitenta e um freguês
No Senado a responder.
3
São homens de terno e fala
Com mandato do povão,
Mas parece que a bengala
Hoje é outra direção.
4
No Planalto, a gente elege
Presidente pra mandar,
Mas no fim, quem tudo rege
É o Supremo a despachar.
5
Onze vozes decidindo
Com caneta e com poder,
Muito mais do que se ouvindo
Quem jurava defender.
6
Na Câmara, o povo grita,
Faz pressão, cobra ação.
Mas o que lá se acredita
Logo morre em decisão.
7
No Senado, com debate,
Há promessas mil e tal,
Mas se o STF rebate
Nada vira oficial.
8
A justiça era pra ser
Equilibrada e legal,
Mas hoje quer resolver
Tudo em plano nacional.
9
Tema sério e delicado
Como aborto e drogas mil,
É no voto apertado
Do Supremo, não do Brasil.
10
Marco temporal caído,
Foi revogado por lá,
Mesmo o povo opondo o brido,
A caneta fez mudar.
11
A vontade do Congresso
Não resiste ao tribunal,
Pois se um juiz põe excesso
Vira norma federal.
12
E as leis que são votadas
Com discussão, comissão,
Muitas vezes são travadas
Por judicial decisão.
13
Há ministros que hoje atuam
Com um tom inquisidor,
E até redes censuram
Com martelo e com rigor.
14
A balança da justiça
Que era símbolo fiel,
Tá pendendo à injustiça
Com mandato paralelo.
15
Nomeado por político
Com acordo no Senado,
Tem ministro “patriótico”
Mais parece deputado.
16
A toga virou comando
Com poder sem oposição,
Pois quem tenta ir peitando
Toma multa ou punição.
17
Enquanto o povo reclama
E a eleição é festejada,
Onze homens põem na cama
Toda pauta aprovada.
18
Temas como liberdade,
Censura, religião,
Viraram prioridade
De suprema decisão.
19
O Congresso se acovarda
Ou talvez ache mais bom
Deixar a toga que guarda
O que o povo diz que é dom.
20
E assim a nossa esfera
Vê poderes se inverter,
Quem julgar só se espera
Passa a legislar também.
21
A Constituição, coitada,
Que devia nos guiar,
É por vezes revirada
Pra se reinterpretar.
22
Não se trata de ataque
Ao Judiciário em si,
Mas se a balança dá traque
Perde o rumo do porvir.
23
Não é só culpa da corte,
Mas também do deputado
Que só pensa em seu suporte
Ou no cargo garantido.
24
Pois se o povo é soberano
E elege com a razão,
Não pode um só ser humano
Passar por cima da Nação.
25
No cordel fica o aviso,
Com respeito e reflexão:
Não se entrega o juízo
De um país na própria mão.
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