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O Peru e Suas Artimanhas | Verso Cordel

O Peru e Suas Artimanhas | Verso Cordel

 por: Ivaldo Fernandes

  1.  

No terreiro lá do sítio
Tem um bicho falador,
Com penacho levantado
E um andar encantador.
É o peru todo empolgado,
Se achando o imperador!

  1.  

Anda firme, peito estufado,
Todo pomposo e vaidoso,
Solta gritos estridentes
Com um jeito orgulhoso.
Parece até coronel
Num desfile garboso.

  1.  

Quando vê qualquer rival
Logo arma o seu teatrinho,
Abre asas, gira em volta,
E se exibe no cantinho.
Dá passinhos calculados
Feito dança de vizinho.

  1.  

Ele engana a galinha
Com seu jeito de doutor,
Faz pose, canta e se curva
Como um grande sedutor.
Mas no fundo é só conversa,
Todo cheio de frescor.

  1.  

É bicho esperto demais
Pra escapar do assador,
Na véspera do Natal
Sente logo o temor.
Se esconde, muda de canto,
Finge até ser beija-flor!

  1.  

Faz de tudo no terreiro
Pra fingir que não é ave,
Anda até com os patinhos
Como quem quer ser mais grave.
Diz que é primo do pavão,
Só pra não virar suave!

  1.  

Já fingiu até doença
Pra fugir do destino,
Fez gemido, tossiu alto,
Disfarçou com ar menino.
Enganou até o dono
Com um plano cristalino!

  1.  

Certa vez se fez de morto
Quando viu faca na mão,
Ficou duro feito pedra
Estatelado no chão.
Mas abriu um só olhinho
Pra vigiar o patrão.

  1.  

Outra vez fugiu da cerca
Com um pulo magistral,
Se enfiou dentro do mato
Feito bicho sem igual.
Disfarçou com folhas secas,
Se livrou do funeral!

  1.  

Diz a lenda que esse bicho
Já estudou camuflagem,
Sabe onde é que se esconde
Mesmo em plena estiagem.
E quando a ceia se apronta,
Ele some na paisagem.

  1.  

É um mestre da enganação,
Tem diploma de artista,
Já posou de galo velho,
De coruja e de corista.
Só não gosta de confessar
Que é peru na sua lista.

  1.  

Seu papo vermelho brilha
Como luz de lampião,
Serve de alarme esperto
Em caso de confusão.
Basta o som de um estalo
Pra fazer alvoroço e ação.

  1.  

Na hora de comer milho
Vira logo um glutão,
Mas se ouve um barulhinho
Sai voando feito avião.
É valente até que ouve
Um talher no batistão.

  1.  

Já tentou trocar seu nome,
Fez campanha eleitoral,
Se dizendo “Ave Real”
No programa nacional.
Mas ninguém deu importância,
Chamaram-no de banal.

  1.  

Certa vez virou manchete
Num jornal da região:
“Peru Mestre da Fuga
Vira herói do sertão!”
Enganou três cozinheiros
E o chefe do galpão.

  1.  

Se vestir é seu talento
Pra não ser reconhecido.
Já usou até batina
Pra fingir ser convertido.
Disse que virou pastor
E o destino foi contido!

  1.  

Ele canta igual sanfona
Num forró bem animado,
Faz o “gluglu” compassado
Todo dia ensaiado.
Só não canta quando vê
O forno pré-aquecido e armado.

  1.  

Tem o bico afiado e curto
Pra beliscar sem doer,
Mas se o milho for pequeno,
Sabe como resolver.
Dá um golpe certeiro e rápido
Pra não ter que se mover.

  1.  

Com as asas ele voa
Só uns metros do chão,
Mas se o perigo aparece
Vira logo um furacão!
Bate tudo em desespero
Feito um raio em explosão.

  1.  

Os pintinhos já aprendem
Com o mestre peru velho:
“Fingimento é que salva
No dia do escarcéu!”
E crescem todos espertos
Com diploma no anel.

  1.  

Até o pato tem respeito
Pelo seu jeito matreiro,
Já o galo sente inveja
Desse bicho altaneiro.
Pois com toda aquela pose,
É o ator do galinheiro!

  1.  

Faz discurso na alvorada
Como quem quer governar,
Se escutasse a votação
Talvez fosse se eleger.
Só perde pro frango assado
No sabor do paladar!

  1.  

Ele reza, faz promessa,
Diz que é bicho de oração,
Se pendura em Santo Antônio
E até em São Sebastião.
Tudo isso pra escapar
Do destino de assação.

  1.  

Mas no fundo é camarada,
Bicho manso e engraçado,
Traz cultura no terreiro
Com seu passo compassado.
Só não gosta de conversa
Com tempero do lado.

  1.  

Esse é o nosso peru,
Astuto e cheio de manha,
Enganando até a morte
Com sua mente tamanha.
E no cordel foi contado
Com rima boa e estranha!


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