por: Ivaldo Fernandes
1
Vou contar pra minha gente
Um esquema sem pudor,
Que envolveu bilhões de reais
Num conchavo aterrador.
Foi de dois mil e vinte em diante
Que explodiu o estopim da dor.
2
No Planalto, o governo
Quis apoio no Congresso.
Pra manter sua blindagem
Foi firmando um novo acesso.
Com o cofre da União,
Fez do povo um retrocesso.
3
Sem rubrica definida,
Sem clareza no papel,
Criaram um orçamento
No escuro, cruel e infiel.
Era verba escondida,
Sem controle, sem cordel.
4
Apelidaram o esquema
Com um nome bem direto,
Pois ocultava o destino
Do dinheiro do projeto.
Era o tal "orçamento secreto",
Um desvio sem decreto.
5
Quem mandava nos valores
E nas obras a realizar
Era o grupo do centrão
Com poder de financiar
Aliados, cabos e obras
Pra depois se beneficiar.
6
Deputado e senador
Comandavam com vigor
Milhões em emendas
Pra mostrar ao eleitor
Que tinham obras feitas
— Mas com custo aterrador.
7
No papel não aparecia
Qual político mandou.
Nem qual município ia
Receber o tal valor.
Era tudo em anonimato,
Disfarçando o real autor.
8
Bilhões foram liberados
Sem critério ou razão,
Hospitais e escolas
Perderam na divisão.
Enquanto isso, trator novo
Chegava no sertão.
9
Daí nasceu o apelido
Que o povo bem batizou:
"Tratoraço" foi chamado,
Pois o povo observou
Que emendas compravam tratores
Com preço que assustou.
10
Teve trator por seiscentos mil
Que custava só metade.
Nota fria, sobrepreço,
Faltava até cidade
Pra receber tanta máquina
Sem nenhuma utilidade.
11
Fabricantes foram ouvidos,
E alguns até negaram
Ter vendido tais produtos
Pelos preços que apontaram.
Os dados da licitação
De suspeita se encharcaram.
12
As empresas preferidas
Se repetiam sem parar.
Ganhavam sem concorrência
— Um padrão de se notar.
O jogo de cartas marcadas
Parecia se firmar.
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E quando veio a denúncia,
A resposta foi calada.
O governo dizia "nada",
Ou então desconversava.
Na CPI, o escândalo
Virou pauta esperada.
14
Quem pedia transparência
Era visto com desdém.
A base aliada gritava:
"Isso é coisa do além!"
Mas o TCU já dizia:
"Isto não cheira bem!"
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O Supremo então entrou
Na questão, com decisão:
Mandou dar publicidade
Às emendas da Nação.
Mas o estrago já estava
Na mão do centrão ladrão.
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Foram mais de trinta bilhões
Nos anos de escuridão,
Distribuídos sem critério
Pra manter composição
De um Congresso submisso
Ao poder da ocasião.
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Tinha município pequeno
Com trator pra exportar.
Mais máquina do que gente,
Sem estrada pra passar.
Enquanto isso a saúde
Vivia a se arrastar.
18
O dinheiro, sem destino
Verificável ao olhar,
Corria por entre dedos
Como a areia do mar.
E a imprensa, investigando,
Não parava de apurar.
19
A Controladoria-Geral
Até tentou ver o fundo.
Mas parte dos documentos
Sumiu no mapa do mundo.
Era tudo muito turvo,
Muito estranho e profundo.
20
Disseram que o presidente
Nada tinha a ver com isso,
Mas foi sob sua gestão
Que nasceu esse feitiço.
E quem calou tal esquema
Fez do povo só enguiço.
21
Foi um "toma lá, dá cá"
Que voltou com mais vigor.
O que era velho e mofado
Foi refeito com ardor.
Mas com cara de moderno
E discurso de valor.
22
O Brasil, tão combalido,
Padecendo na pandemia,
Viu bilhões indo embora
Sem controle ou garantia.
Enquanto faltava leito,
Sobrava hipocrisia.
23
E até hoje se investiga
Quem lucrou com o esquema.
Mas a Justiça é lenta,
Parece dormir no lema.
Enquanto isso, o povo
Segue preso nesse tema.
24
O legado desse plano
Foi o rastro da corrupção.
E o descrédito à política
Se espalhou por todo chão.
Pois o que era do povo
Virou moeda e balcão.
25
Que a memória não se apague
Com o tempo e o esquecimento.
Que se estude esse passado
Como sério ensinamento.
Pra que o povo um dia diga:
"Fim ao mau orçamento!"
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