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O BOI-BUMBÁ ENCANTADO | Verso Cordel

O BOI-BUMBÁ ENCANTADO | Verso Cordel

 por Ivaldo Fernandes

1
Vou contar uma história
Que é do nosso coração,
Do Bumba Meu Boi valente,
Tradição do Maranhão.
Mas se espalhou pelo Norte,
Pelo Sul e o Sertão.

2
Mistura de três culturas
Se vê nessa brincadeira:
Tem da África e da Europa
E da raiz brasileira.
É dança, canto e teatro
Feito em noite verdadeira.

3
Num tempo de fazendeiros
Havia um boi estimado,
Cheio de brilho e riqueza,
Por todos muito afamado.
Chamado de Boi Encantado,
No curral era cuidado.

4
Francisco era vaqueiro,
Homem forte e trabalhador.
Servia o patrão com zelo,
Sem nunca causar rancor.
Mas tudo muda de rumo
Com um pedido de amor.

5
Catirina, sua esposa,
Esperava seu neném.
Tinha desejos estranhos,
E um deles foi também
Comer a língua do boi
Pra ficar sentindo bem.

6
Francisco ficou aflito
Com o pedido arriscado.
“É o boi do nosso patrão,
Bicho rico e estimado!”
Mas Catirina insistiu
Com olhar desesperado.

7
Diante da situação
E do amor pela mulher,
Francisco fez o pecado
Sem saber o que vier.
Matou o boi escondido,
Na calada, sem qualquer.

8
Logo o boi foi achado
Morto no chão estirado.
O patrão ficou furioso,
Gritando desesperado:
“Quem matou meu boi amado?
Isso é crime declarado!”

9
Chamaram logo o capanga
Pra caçar o vaqueiro.
Francisco foi encontrado
E preso no cativeiro.
Catirina se escondeu
Com o choro verdadeiro.

10
Mas o povo da fazenda
Já sentia a aflição.
Sem o boi encantador,
Perdia-se a tradição.
E pediram que chamasse
Curandeiro do sertão.

11
Veio padre, veio pajé,
Veio índio e benzedeira,
Veio doutor, rezador,
Curandeira feiticeira,
Cada um com seu saber
Pra curar a boisinteira.

12
Fizeram ritos e rezas,
Cantos de encantamento.
Rodaram em ciranda,
Com tambor e movimento.
Mas o boi não acordava,
Mesmo com tanto talento.

13
Veio então um sanfoneiro
Com seu fole encantado.
Cantou um baião antigo
Do sertão bem consagrado.
E o boi então deu um pulo,
Ficou todo iluminado!

14
Gritaram: “Milagre grande!
O boi ressuscitou!”
Pai Francisco perdoado
Logo se emocionou.
Catirina correu rindo
E um choro derramou.

15
O patrão, com o coração
Mais leve que algodão,
Mandou soltar o vaqueiro
E dar-lhe o seu perdão.
A festa foi declarada
Com bandeira e procissão.

16
Montaram o arraial
Com fogueira e alegria.
Botaram o boi no centro
Pra dançar com valentia.
E a música contagiou
A vila por vários dias.

17
O povo dançava junto
Com zabumba e pandeiro.
Era um reboliço só
No passo do boi faceiro.
As crianças aplaudiam
O boi negro e verdadeiro.

18
Cada grupo tinha cor
E um jeito de brincar.
Tinha matraca, tinha índio,
Cada qual a desfilar.
As roupas bem coloridas
Faziam o chão brilhar.

19
No Maranhão é festejo
Que atravessa o São João.
Mas também brilha em Parintins,
No Amazonas, irmão.
Com Caprichoso e Garantido
Num duelo de paixão.

20
Dois bois de cores distintas
Se enfrentam em poesia.
Um é azul, outro é vermelho,
E encantam a freguesia.
O boi-bumbá vira arte
Na mais bela fantasia.

21
É festa de identidade,
Cultura do nosso chão.
Reúne o povo nas ruas
Com fé e animação.
Bumba Meu Boi é memória
Gravada no coração.

22
Foi tombado no papel
Com honraria internacional.
Patrimônio da cultura,
Título sem igual.
Reconhecido pela UNESCO
Como bem universal.

23
Mas acima de diplomas,
De decreto e de sinal,
O boi vive no sorriso
Do povo do festival.
Cada dança é um milagre
De valor sentimental.

24
Catirina e Francisco
Hoje vivem na lembrança.
Do seu erro veio a festa
Que renasce na esperança.
E o boi, símbolo sagrado,
Encanta toda criança.

25
E assim termina o cordel
Do boi que ressuscitou.
Uma história de perdão
Que o Brasil eternizou.
Bumba Meu Boi é poema
Que jamais se apagou.


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