Missões jesuíticas no Rio Grande do Sul | Verso Cordel
por: Ivaldo Fernandes
(1)
No sul do nosso Brasil,
Um passado vem à tona,
Guaranis em seu redil,
Sob o céu que os abona.
Antes do europeu hostil,
A paz ali se entona.
(2)
Chegam padres, jesuítas,
Com missões de converter,
Entre índios, almas fitas,
Evangelho a oferecer.
Nas Missões, raízes finitas,
Cultivando o bem querer.
(3)
Com os Guaranis em harmonia,
A cultura floresceu,
Milho e aipim na economia,
O saber ali nasceu.
Sob a ocas, a poesia,
A vida em paz se teceu.
(4)
Mas a história é de luta,
Com a invasão portuguesa,
A terra virou disputa,
Sem justiça ou gentileza.
Índios em marcha absoluta,
Resistência em sua nobreza.
(5)
O Tratado de Tordesilhas
Dividiu o continente,
Porém em terras tão brilhas,
A luta era evidente.
Entre rios e maravilhas,
Sofria o povo inocente.
(6)
São Nicolau, marco erguido,
Pelo Padre Roque então,
Foi o início garantido,
Da primeira redução.
Com trabalho e chão partido,
Surgiu a nova missão.
(7)
O gado foi introduzido,
Por Cristóvão, missionário,
Tornou-se um bem querido,
E símbolo extraordinário.
No solo foi difundido,
Como um feito visionário.
(8)
Bandeirantes invadiram,
Missões em pleno labor,
Milhares de índios partiram,
Sob a dor e o terror.
Outros tantos sucumbiram,
Num destino aterrador.
(9)
Mas os padres resistiram,
Com os índios a lutar,
Seus esforços se uniram,
Para o ataque enfrentar.
E os invasores saíram,
Sem mais voltar a atacar.
(10)
Os Sete Povos se ergueram,
Num segundo movimento,
Com seus guias se refizeram,
Conquistando o firmamento.
Suas vidas assim teceram,
Entre fé e sentimento.
(11)
Erva-mate e algodão,
Produção de qualidade,
Exportavam com paixão,
Para a Europa, a novidade.
O trabalho, a devoção,
Era a marca da sociedade.
(12)
São Francisco e São Miguel,
E outros santos também,
Firmaram o grande papel,
Dos Sete Povos que vêm.
Na história um carrossel,
Que o Rio Grande contém.
(13)
Chegou o Tratado de Madri,
Novo mapa a desenhar,
Entre terras de aqui e ali,
Espanha a Portugal cederá.
Mas o povo Guarani,
Não quis suas terras deixar.
(14)
A guerra se iniciou,
Foi batalha aguerrida,
O índio nunca recuou,
Pela terra tão querida.
Sepé Tiaraju lutou,
Dando a alma à sua vida.
(15)
Sepé, herói reconhecido,
Do povo gaúcho e do Brasil,
Seu nome jamais esquecido,
Resiste ao tempo febril.
Por sua luta destemido,
Seu valor se faz sutil.
(16)
Com a derrota, a expulsão,
Dos Guaranis tão valentes,
Cruzaram o rio, em oração,
Levando corações contentes.
Mas no peito a decepção,
De terras antes presentes.
(17)
Em 1767, por decreto,
Os padres foram banidos,
Das terras e seu afeto,
Foram enfim abolidos.
Mas seu legado é concreto,
Mesmo em tempos sofridos.
(18)
Borges do Canto então chegou,
Missões a reconquistar,
Com milicianos recrutou,
A força para lutar.
Com índios que o ajudou,
Viu São Miguel se salvar.
(19)
Auguste de Saint-Hilaire,
Visitou a região,
Deixou registros no olhar,
Dessa rica tradição.
Na história fez lugar,
Para essa população.
(20)
Rivera, em sua passagem,
Levou o que ainda havia,
Deixou a triste imagem,
Da missão em agonia.
Porém no sul há coragem,
E história que irradia.
(21)
O legado missioneiro,
Ecoa no chão gaúcho,
Seu espírito verdadeiro,
Permanece como luxo.
Cada canto brasileiro,
Reverencia seu puxo.
(22)
Sete Povos, resistência,
Cultura e religião,
Marcaram com sua essência,
Nosso sul, nossa nação.
Na luta e na paciência,
Deixaram sua lição.
(23)
Cada redução plantou,
Uma semente sagrada,
Com o povo que lutou,
Por uma terra amada.
O tempo a tudo moldou,
Mas a memória é guardada.
(24)
Voltaire exaltou o feito,
Montesquieu registrou,
Os guaranis com respeito,
Todo mundo encantou.
Foi modelo de direito,
Que a história eternizou.
(25)
Hoje em cada canto ouvido,
Das Missões se faz cantar,
No Rio Grande tão querido,
Sua história vem brilhar.
Legado forte e querido,
Que nunca irá se apagar.
Ajude-nos a divulgar compartilhando com os seus amigos!