Inicio | Contato | Sobre | Politica de Privacidade | Termos de Uso



A INTRIGA DO CACHORRO COM O GATO | Verso Cordel

por: Jose Pacheco

A intriga é mãe da raiva

O mau pensamento é pai

Da casa da malquerença

O desmantelo não sai

Enquanto a intriga rende

A revolução não cai.

 

Quando cachorro falava

Gato falava também

Gato tinha uma bodega

Como hoje os homens têm

Onde vendia cachaça

Encostado ao armazém.

 

Com a balança armada

Para comprar cereais

E na bodega vendia

Bacalhau, açúcar e gás

Bolacha, café, manteiga

Miudezas e tudo mais.

 

Quando no tempo de safra

Comprava mercadoria

Chegada no armazém

Que todo bicho trazia

Vou dizer pela metade

Esta grande freguesia.

 

O peru vendia milho

O porco feijão e farinha

Com um cacho de banana

Mais tarde o macaco vinha

Raposa também trazia

Um garajau de galinha.

 

Carneiro passava a noite

Junto com sua irmã

Descaroçando algodão

E quando era de manhã

Para o armazém do gato

Botava sacos de lã.

 

 

Guariba vendia escova

Que fazia do bigode

Urubu vendia goma

Porque tem de lavra e pode

A onça suçuarana

vendia couro de bode.

 

Então todo bicho tinha

No armazém seu contrato

Porém vamos deixar isto

Para tratar de outro fato

Relativo à intriga

Do cachorro com o gato.

 

Rei leão mandou cachorro

Efetuar uma prisão

O cachorro passando

Na venda do gato então

Pediu para beber fiado

E o gato disse: pois não.

 

Subiu na prateleira

Uma garrafa desceu

Um cruzado de cachaça

O cachorro ali bebeu

Botou fumo no cachimbo

Pediu fogo e acendeu.

 

E disse compadre gato

Eu vou prender o preá

Porque carregou a filha

Do coronel cangambá

E mesmo já deve a honra

Da filha do seu guará.

 

E tornou dizer compadre

Bota mais uma bicada

Eu só sei prender valente

Depois da gata esporada

O gato sorriu e disse:

Esta não lhe custa nada.

 

O gato bebeu também

O cachorro repetiu

Botou o copo na banca

Saiu na porta e cuspiu

O gato puxou um lenço

Limpou a barba e tossiu.

 

Embebedaram-se os dois

Garrafas secaram três

Cachorro fez um discurso

Falava em língua inglês

Gato embolava no chão

Também falando francês.

 

A gata mulher do gato

Saiu do quarto veio cá

E disse muito zangada

Vocês dois procedem mal

O gato disse: mulher

Da porta do meio pra lá.

 

O gato ficou deitado

O cachorro foi embora

Ouviram dizer: ô de casa

A gata disse: ô de fora

E quem é respondeu raposa

Sou eu que cheguei agora.

 

Disseram entre comadre

O gato levantou-se

Sentou-se numa cadeira

Esposa também sentou-se

Ele contou à raposa

De que forma embebedou-se.

 

A raposa disse: compadre

Você não pensou direito

Bebendo com o cachorro

Um safado sem respeito

Se seus amigos souberem

O senhor perde o conceito.

 

Beba com os seus amigos

Seu irmão maracajá

O tenente porco-espinho

E o capitão guará

Major porco e doutor burro

E o coronel cangambá.

 

Eu também gosto da troça

Bebo, danço e digo loas

Mas com gente igual a mim

Civilizadas e boas

Que não vou andar com gente

De qualidade à-toa.

 

Só me dou com gente boa

Como compadre urubu

Dona ticaca de souza

E dona surucucu

A professora jiboia

E o meu primo timbu.

 

Você é conceituado

Da roda palaciana

Cachorro vive na rua

Tanto furta como engana

Com o baralho no bolso

Jogando e bebendo cana.

 

E ele compra fiado

Porque quer mas ele tem

Uma mochila de níquel

Que por detrás se vê bem

Pendurada balançando

Porque não paga a ninguém.

 

O gato se pôs em pé

Perguntou admirado

Comadre, isto é verdade?

Ele me deve um cruzado

Eu não dei fé na mochila

Por isto vendi fiado.

 

Porém eu vou atrás dele

Daquele cabra estradeiro

Dou-lhe um bote na mochila

Arranco e tiro o dinheiro

Sendo eu disse a raposa

Passava o granadeiro.

 

O gato se preparou

Amarrou o cinturão

Correu as balas no rifle

Passou lixa no facão

Botou um quarto e bebeu

De aguardente com limão.

 

Chegou lá disse ao cachorro:

É triste o nosso progresso

Você paga o meu cruzado

Ou quer que eu pague um processo

Cachorro afastou o pé

E lhe disse eu não converso.

 

Ali deu um tiro e disse:

É assim que eu despacho

Porém o gato abaixou-se

Passou-lhe o rifle por baixo

Deu-lhe uma balada certa

Que quase derruba o cacho.

 

O cachorro que também

Tem pontaria fiel

Tornou passar a pistola

A bala deu um revel

Cortou-lhe o rabo no tronco

Que descobriu o anel.

 

Depois que trocaram tiros

Divertiram no punhal

Pulava o gato de costas

E dava salto mortal

Cachorro por sua vez

Também traquejava igual.

 

E ali trancou-se o tempo

Na porta do barracão

Da baronesa preguiça

Comadre do rei leão

E ela telegrafou

Pedindo paz na questão.

 

O leão passou depressa

Um telegrama pra trás

Minha comadre alevante

A bandeira e grite paz

Ela não tinha bandeira

Levantou a macaxeira

E ali ninguém brigou mais.


Lista com todos os Cordéis


Ajude-nos a divulgar compartilhando com os seus amigos!




Inicio | Contato | Sobre | Politica de Privacidade | Termos de Uso

© Verso Cordel - Todos os direitos reservados.