por: Ivaldo Fernandes
1
Vou contar com alegria
Numa rima bem rimada
Uma arte nordestina
Das mais belas da estrada
Que nasceu com o povo humilde
E é por todos celebrada.
2
É o teatro de bonecos
Chamado João Redondo
Com seus mestres brincadores
Com talento tão profundo
Fazem rir e refletir
Com humor bem oriundo.
3
João Redondo é tradição
Que nasceu do coração
Do sertão potiguar
Com muita inspiração
Do povo trabalhador
Com riso e indignação.
4
Essa arte foi trazida
Do teatro europeu
Com bonecos de madeira
Que o colono conheceu
Mas foi no chão nordestino
Que seu nome floresceu.
5
Lá no tempo colonial
Pra ensinar o evangelho
Usava-se o fantoche
No altar e no conselho
Mas depois virou protesto
E ficou mais que um espelho.
6
Cada mestre bonequeiro
Tinha um dom de improvisar
Escondido no biombo
Começava a encantar
Com histórias divertidas
Que sabiam criticar.
7
No Rio Grande do Norte
Ele ganha mais respeito
E se espalha por cidades
Com prestígio e muito efeito
Nas feiras e no terreiro
Com o riso sempre feito.
8
João Redondo é personagem
Mas também nome da arte
Um capitão engraçado
Que faz parte dessa parte
Tem postura autoritária
Mas no fim, sempre reparte.
9
Baltazar é outro nome
Que o povo bem conhece
É malandro e é esperto
Com a língua, logo fere
Engraçado e corajoso
Seu papel ninguém esquece.
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Tem o padre, o delegado
O sargento valentão
Todos viram caricaturas
Na mão do brincador vão
Ser motivo de risada
Pra o povo do sertão.
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O teatro é de madeira
E por trás há um painel
Onde o mestre se esconde
Com bonecos no cordel
A vozeria impressiona
Com humor e com papel.
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Com as mãos ele conduz
E com vozes bem distintas
Vai trocando os personagens
Com sátira e com tintas
Cada fala bem pensada
Para rir das labirintas.
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Narra o pobre e o patrão
O soldado e o doutor
Fala da seca e da fome
Do vaqueiro sonhador
Mostra o rico sendo bobo
E o matuto vencedor.
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Em Natal e Mossoró
E no Seridó também
Tem mestres consagrados
Que não se esquecem de ninguém
Levam arte e resistência
Com um dom que faz o bem.
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Dentre os nomes mais famosos
Tem-se Mestre Pedro Santos
E também Dona Dadá
Com seus versos e seus cantos
Mulher forte e destemida
Mesmo entre tantos espantos.
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Pois ser mulher bonequeira
Foi tarefa de coragem
Desafiou preconceitos
E venceu a paisagem
Com João Redondo em punho
Fez história na linguagem.
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A brincadeira é valente
Mesmo sendo diversão
Pois denuncia as mazelas
Da vida do cidadão
Que na feira ou no quintal
Encontra libertação.
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Cada cena improvisada
Mostra a vida como é
Com deboche inteligente
E justiça de mulher
Ou de homem lá no fundo
Com verdade no café.
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Em 2015, enfim,
Veio a grande decisão
O IPHAN reconheceu
Com toda celebração
João Redondo é cultura
E merece proteção.
20
Patrimônio imaterial
Do Brasil, com muito orgulho
Se une ao Mamulengo
Sem perder um só barulho
Com Babau e Cassimiro
É herança sem embrulho.
21
Cada boneco é pintado
Com talento artesanal
Tem chapéu, roupa bordada
Feita com pano e jornal
E seu corpo de madeira
É esculpido sem igual.
22
O riso vira protesto
Na fala do Capitão
Enquanto o pobre vaqueiro
Enfrenta o patrão do chão
Numa cena tão cômica
Quanto a própria eleição.
23
João Redondo é resistência
É cultura do Brasil
É o grito do nordeste
Contra tudo o que é vil
É espelho do passado
E do futuro sutil.
24
Que essa arte não se perca
Que os mestres tenham vez
Que o menino aprenda cedo
A valorizar a altivez
De um boneco nordestino
Que faz rir com lucidez.
25
E assim conto essa história
Com respeito e com apreço
Do teatro do Nordeste
Feito com muito endereço
É o João Redondo vivo
No Brasil de canto a canto.
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