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A GALINHA QUE DIZ TÔ FRACO | Verso Cordel

A GALINHA QUE DIZ TÔ FRACO | Verso Cordel

 por: Ivaldo Fernandes

  1.  

Na roça, no pé do mato,
Tem bicho bem engraçado,
Com pinta no corpo todo
E um grito arretado!
Não canta, nem pia, não,
Só grita desanimado.

  1.  

É a galinha-d’angola,
Do canto diferenciado,
Parece que se lamenta
Com o peito apertado.
Quando ela solta o som:
“Tô fraco”, sai espalhado!

  1.  

Quem mora no interior
Conhece bem esse tom,
Ela anda em grandes bandos
Fazendo sempre um som.
De longe a gente escuta:
“Tô fraco!”, feito um trovão.

  1.  

Originária da África,
Foi trazida com respeito.
No Brasil se espalhou
E hoje tem em todo o jeito.
Da fazenda ao quintalzinho,
Já virou quase um enfeite.

  1.  

Seu corpo tem muitas pintas,
Cor cinza com branco assim.
Tem crista de capacete,
Um olhar meio ruim.
Mas apesar do jeito bruto,
É da paz, até o fim.

  1.  

Com a voz que ecoa longe
A galinha quer alertar,
Pois serve como alarme
Quando vê alguém chegar.
Mas o povo só escuta
Ela sempre reclamar.

  1.  

Tem gente que diz: “coitada!”
“Ela sofre de fraqueza.”
Mas não é doença, não,
É só sua natureza.
Seu canto é sua marca,
Faz parte da sua beleza.

  1.  

Na escola da natureza
Ela tem sabedoria,
Come inseto, limpa a terra,
Ajuda com alegria.
Mas vive sendo zoada
Com sua melancolia.

  1.  

Na literatura popular
Já virou até canção,
Tem cantiga de criança
Com essa repetição:
“Tô fraco! Tô fraco! Tô fraco!”
Fazendo sua oração.

  1.  

No terreiro da vovó
É bicho indispensável,
Espanta bicho e ladrão,
Tem ouvido admirável.
Mas seu canto repetido
É um som inesgotável.

  1.  

Diz o velho lá da serra:
“Essa ave é professor!
Toda hora ‘tá’ lembrando
Que fraqueza tem valor.
Não é só quem é valente
Que conquista com fervor!”

  1.  

Já teve um vaqueiro sábio
Que dizia no sertão:
“O grito dessa galinha
É um tipo de oração.
Se ela diz que está fraca,
Tá pedindo compaixão!”

  1.  

Nas feiras e nas roças
Ela é muito requisitada,
Pois sua carne é firme,
Muito boa e apreciada.
Mas o povo só escuta
Sua fala desanimada.

  1.  

Tem gente que já tentou
Traduzir seu pensamento:
“Será que ela está triste
Ou pedindo um alimento?”
Mas é só sua linguagem,
Um eterno lamento.

  1.  

Seu canto já virou meme
Na internet do povão,
Tem vídeo dela dizendo
Com toda convicção:
“Tô fraco! Tô fraco! Tô fraco!”
Parece até oração.

  1.  

É ave bem resistente
Ao calor do nosso chão,
Anda firme pelo campo
Sem perder a direção.
Mas na hora de cantar
Parece em depressão.

  1.  

No terreiro nordestino
Ela é parte da família.
Anda sempre aos montes
Feito velha com mantilha.
Mas quando abre o bico
O silêncio se quadrilha!

  1.  

De noite ela se empoleira
Bem no alto, bem segura,
Mas se um barulho aparece,
Ela grita com bravura:
“Tô fraco!”, feito alarme
Em forma de criatura.

  1.  

Dizem que é desconfiada,
Qualquer coisa ela vigia.
Se uma folha se mexer
Já começa a cantoria.
Nem precisa ter motivo
Pra entoar sua agonia.

  1.  

Já virou personagem
De história de cordel,
De piada e de meme
E até xilogravura fiel.
Com seu canto repetido
Ganha fama a granel!

  1.  

O menino no curral
Diz com voz engraçada:
“Mainha, a galinha ‘fraca’
Tá doida ou tá cansada?”
“Não, meu filho, é só o jeito
Dela ser atrapalhada!”

  1.  

Tem quem diga que ela ensina
Lição de humildade,
Pois mesmo sendo forte
Fala de necessidade.
Finge ser fraca à toa
E engana com vontade!

  1.  

O povo do interior
Já virou seu defensor,
Diz que seu canto é alerta
E seu passo é protetor.
Mas não nega que ela vive
Gritando com pavor.

  1.  

E assim vive a danada,
Sempre cheia de energia.
Na voz só tem tristeza,
Mas no corpo, valentia.
É a galinha-d’angola,
Rainha da cantoria!

  1.  

Que sirva esse cordel
De memória e diversão.
Quem escuta essa galinha
Já sente no coração
Que às vezes quem diz “tô fraco”
É quem tem mais força, então!


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