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A Caça às Bruxas | Verso Cordel

A Caça às Bruxas | Verso Cordel

 por: Ivaldo Fernandes

No tempo da escuridão,
Na força do santo ofício,
Surgiu uma perseguição,
Por crença e por sacrifício.
Chamavam de bruxaria,
E espalhavam agonia.

No século treze surgiu,
O tribunal inquisidor.
Com poder se instituiu,
Como juiz e acusador.
Desviados do cristianismo,
Caíam no seu abismo.

Em mil quatrocentos e oitenta,
A bula veio ordenar:
Inocêncio oitavo atenta,
E manda as bruxas caçar.
Foi o Summis desiderantes,
De tempos tão aberrantes.

Com “O Martelo das Feiticeiras”,
Kramer e Sprenger escreveram,
Regras frias, justiceiras,
Que o terror espalharam.
Livro de lei e opressão,
Pra julgar sem compaixão.

Eram mulheres, em maioria,
As vítimas da acusação.
Do campo ou da periferia,
Sofriam mais repressão.
Viúvas pobres, sozinhas,
Eram tratadas como bruxinhas.

Curavam com chá de ervas,
E atendiam a doente.
Mas essas práticas servas
Viravam crime evidente.
A ciência que possuíam,
De maldição as vestiam.

Em tempos de praga e fome,
Buscavam quem acusar.
O pânico tinha um nome
Que ajudava a controlar.
As bruxas foram o alvo,
Dum discurso tão falho e calvo.

Mulheres velhas ou feias,
Ou belas e desejadas,
Pelas elites alheias,
Eram logo condenadas.
Por despertar cobiça,
Pagavam preço de injustiça.

Pragas, colheitas perdidas,
E até infertilidade,
Foram causas atribuídas
Àquelas sem liberdade.
Tudo servia de pretexto
Pra encobrir o desonesto.

Pesavam-nas em balanças,
Pra provar sua leveza.
Ou amarradas em danças
Com água, eram certeza:
Se flutuassem, culpadas;
Se afundassem, inocentadas.

Buscavam marcas no corpo,
Como cicatriz ou pinta.
Era o demônio em acordo,
Que a sentença já pinta.
Espetavam sem sangrar,
Pra logo condenar.

As execuções frequentes,
Cem mil almas sacrificadas,
Eram atos incoerentes,
Por crenças mal fundamentadas.
Na fogueira, o sofrimento,
Virava espetáculo ao vento.

Quem confessava o pecado,
Poderia ser poupado,
De arder tão torturado,
Mas era logo estrangulado.
Se tivesse algum bem em posse,
À igreja, logo fosse.

Na Escócia, em North Berwick,
Houve julgamentos infames.
Em Salem, o mesmo embuste,
Deu às trevas novos nomes.
Nas Américas chegou,
E mais histórias gerou.

Com o avanço do saber,
O Humanismo emergente,
Fez o medo esmorecer,
E mudar o pensamento vigente.
O Iluminismo brilhou,
E os julgamentos cessou.

Mas a sombra dessa era
Ainda marca a memória.
Foi genocídio de guerra,
Contra mulheres na história.
O feminismo reconta,
A dor que ainda afronta.

O termo hoje é usado
Pra perseguições atuais,
De grupos discriminados,
Sob razões desiguais.
A caça às bruxas persiste,
De forma sutil ou triste.

As lições que o passado dá,
Devemos sempre escutar.
A liberdade a lutar,
Pra injustiças evitar.
Que nunca mais se permita
A opressão tão maldita.

As mulheres perseguidas,
Foram vítimas de terror.
Tinham histórias esquecidas,
Sob o manto opressor.
Que a memória resgate,
E a justiça sempre plante.

Da França ao Novo Mundo,
A caça trouxe o espanto.
O processo tão profundo,
Manchou a história com pranto.
Um marco de ignorância,
Que precisa de distância.

Os inquisidores ricos,
Com os bens que acumulavam,
Eram lobos travestidos,
Que as vítimas saqueavam.
A fé usada pra roubo,
Sob o céu como estorvo.

Com versos vou finalizando,
Essa história tão sombria.
De tempos que vão lembrando
A força da tirania.
Que o presente seja forte,
Pra nunca trilhar tal norte.

Mulheres, guardem suas vozes,
Como chama que não apaga.
Que as memórias sejam doces,
Mesmo onde a dor se alaga.
Bruxas não são o perigo,
Mas sim quem manipula o abrigo.

O fogo que já queimou,
Hoje deve iluminar,
E o saber que se apagou
Deve ao mundo retornar.
Respeito às diferenças,
Pra superar as crenças.

Assim concluo meu cordel,
Com verdade e reflexão.
Que o passado seja o fiel
Da justiça em evolução.
Que jamais a caça volte,
E a igualdade seja o holofote.


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