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A ANISTIA E OS MILITANTES 1979 | Verso Cordel

A ANISTIA E OS MILITANTES 1979 | Verso Cordel

 por: Ivaldo Fernandes

1
Foi no fim dos anos duros,
Sob regime opressor,
Que surgiu uma esperança
Pra acalmar tanta dor.
Era a tal da anistia,
Prometendo paz e amor.

2
A ditadura mandava,
Desde o golpe de Sessenta e Quatro,
Com censura, repressão,
Militar mandando em ato.
O Congresso foi fechado,
E o medo virou contrato.

3
Muita gente resistiu,
Contra a força do regime,
Com palavras, com protesto,
Com coragem contra o crime.
E outros foram mais além,
Com ação que não redime.

4
Houve assalto a banco sim,
E também sequestro forte,
Como o do embaixador
Pra mudar o rumo e a sorte.
Diziam: “é pra libertar
Quem do povo é suporte!”

5
VAR-Palmares combatia
Com desejo de justiça.
Dilma foi da resistência,
Mas negou toda milícia.
Nunca foi pra ação direta,
Não puxou arma ou cobiça.

6
José Dirceu foi banido,
Com documento trocado.
Lá no México estudou,
Pra voltar mais preparado.
Era um quadro da esquerda,
Na luta determinado.

7
O velho Brizola exilado,
Do Uruguai foi orador.
Carlos Marighella tombou,
Com seu sonho e seu ardor.
Carlos Lamarca desertou,
E virou revolucionador.

8
Os militares torturavam,
Com porrete, choque e grito.
Muitos sumiram nos porões,
Sem direito a qualquer rito.
Outros eram cassados,
Sem sequer um veredito.

9
A esquerda armada existia,
Com razão ou sem razão.
Mas também o lado fardado
Cometeu violação.
Quem matava sem processo
Também sujava a nação.

10
O Brasil ficou rachado,
Entre medo e esperança.
Mas no fim da década
Veio a luz da bonança.
A pressão foi crescendo
Pela voz da mudança.

11
Greves fortes em São Paulo,
Com Lula e o sindicato.
Metalúrgico se erguendo
Contra o plano do aparato.
Mesmo sem ser exilado,
Foi vigiado de fato.

12
No Congresso foi votada
A Lei da Anistia então.
Tanto pró como oposição
Debateram com tensão.
E em setenta e nove
Saiu a tal solução.

13
Anistiados de um lado
Foram presos e exilados.
Mas também os torturadores
Foram logo perdoados.
Era o "perdão bilateral",
Com seus erros apagados.

14
Veio Darcy, veio Arraes,
E Prestes do comunismo.
Fernando Gabeira voltou
Do exílio e do abismo.
Com sua calça apertada
E discurso sem cinismo.

15
Essa lei polêmica foi,
E ainda é questionada.
Muitos acham que a tortura
Não devia ser perdoada.
Mas o tempo cicatrizou
A ferida mal curada.

16
Dilma virou presidenta,
Lula foi duas vezes.
Dirceu foi condenado
Nas políticas revezes.
E a história foi contada
Com capítulos e revezes.

17
Comissão da Verdade
Veio então investigar.
Documentou o que houve
Nos porões do militar.
Mas não teve punição
Pra quem fez o povo penar.

18
A direita acusa a esquerda
De guerrilha e terrorismo.
A esquerda mostra os mortos
Vítimas do autoritarismo.
Mas o povo quer saber
Quem lucrou com o abismo.

19
Assaltar banco não é justo,
Seja a causa que quiser.
Mas torturar prisioneiro
É maldade de qualquer.
Ambos ferem o direito
E o valor do que é ser.

20
Hoje os livros ensinam
Essa página da história.
Com coragem e com dor
Lutou-se pela vitória.
Mas justiça de verdade
Ainda busca a memória.

21
A democracia nasceu
Com raízes dessa luta.
Mas ainda há cicatrizes
Que o presente não refuta.
A anistia foi começo,
Mas não curou toda a disputa.

22
Muitos jovens nem conhecem
O que foi essa batalha.
O passado tem lição
Mesmo onde a dor não cala.
E é por isso que eu conto,
Nessa rima que não falha.

23
Seja a farda ou o fuzil,
Seja o grito ou a caneta,
Todos têm sua parcela
Na história incompleta.
E a verdade só se acha
Com memória bem repleta.

24
Não há lado sem pecado,
Nem bandeira sem ferida.
Mas é justo reconhecer
Quem lutou por nossa vida.
Mesmo quem errou tentando
Pela pátria combativa.

25
Hoje a paz que nós vivemos
Tem raízes no passado.
De um Brasil que se curou
Mesmo um tanto machucado.
E a anistia, apesar de tudo,
Foi um passo equilibrado.


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